São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

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"A MAGIA DO CINEMA"

Crítico, vencedor do Prêmio Pulitzer, elege os cem melhores filmes já realizados

Escolhas de Roger Ebert revelam gosto do americano médio

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Roger Ebert não chega a ser Pauline Kael, provavelmente a pessoa que escreveu com mais sofisticação críticas de cinema nos EUA. Mas, ao menos, ele é capaz de incluir diversos filmes europeus entre os cem melhores da história em sua opinião.
"A Magia do Cinema", com os comentários de Ebert sobre essa centena de fitas, é um livro gostoso para o cinéfilo médio. Todas as produções selecionadas são relativamente fáceis de serem encontradas em locadoras um pouco mais requintadas.
Aliás, na introdução, Ebert faz observações pertinentes sobre a contradição que representou para o amante do cinema o aparecimento do vídeo doméstico e seu sucedâneo, o DVD. Por um lado, ele concretizou uma antiga aspiração dos fãs: poder montar a sua cinemateca particular, com acesso permanente a seus ídolos. Por outro, representou o fim dos cineclubes, em que a discussão enriquecia e aprofundava a compreensão do significado das grandes obras da chamada sétima arte.
O leitor brasileiro tem a oportunidade, com "A Magia do Cinema", de entrar em contato com o estilo muito peculiar de Roger Ebert fazer crítica, premiado com um Pulitzer, prêmio que -para o jornalismo americano- tem importância comparável ao Oscar para o cinema.
Diferentemente de Kael, uma das pessoas a quem o livro é dedicado, Ebert não é apenas cerebral. Mistura elementos de referência histórica e de conhecimento sociológico a memórias pessoais e pitadas de emoção. Às vezes pode parecer piegas ou pretensioso, mas também ajuda a criar empatia com o leitor (embora nem tanto em relação ao público de uma cultura diferente da norte-americana, como a brasileira).
Para a audiência dos Estados Unidos, onde a prática jornalística corriqueira no trato com o cinema se resume basicamente ao noticiário de fofocas sobre as estrelas e de números de bilheteria, Ebert é um bálsamo de inteligência. Para um europeu ou mesmo para um brasileiro, no entanto, muitas vezes passa a impressão até de vulgaridade.
Mesmo assim, é sempre bom reavivar as lembranças sobre clássicos do cinema, como "Luzes da Cidade", "Encouraçado Potemkin", "A Malvada" ou "O Sétimo Selo" a partir das anotações de Roger Ebert.
E também é curioso confrontar nossas opiniões sobre fitas polêmicas, como "JFK - A Pergunta que Não Quer Calar" ou "Portais do Céu" com as de um monstro sagrado da crítica cinematográfica como Roger Ebert.
Como o próprio autor reconhece, esse tipo de lista é sempre extremamente subjetiva, sujeita a reavaliações constantes e a discussões infindáveis. Por mais fúteis que sejam em termos de registro histórico ou precisão científica, no entanto, elas sempre são apreciadas talvez exatamente por causa da polêmica que causam.
É difícil negar qualidade a todos os cem filmes que Ebert relaciona. Alguns -"Cidadão Kane" pelo menos- estariam em qualquer rol semelhante feito por qualquer outro crítico sério ou mesmo pela maioria dos freqüentadores mais habituais da "sala escura".
No entanto, com certeza a escolha reflete um gosto específico do americano médio. É claro que um brasileiro acabaria por colocar pelo menos um representante de seu país, como também o fariam cinéfilos de outras nacionalidades.
Ela também representa uma geração específica, dos nascidos em meados do século 20. Embora seja evidente o esforço do autor de dar alguma diversidade cronológica a seu trabalho, produções mais recentes são claramente minoritárias e um crítico de 20 e poucos anos provavelmente não agiria da mesma forma.


Carlos Eduardo Lins da Silva, 51, jornalista, é diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas

A Magia do Cinema
   
Autor: Roger Ebert
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 56 (556 págs.)


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