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"A MAGIA DO CINEMA"
Crítico, vencedor do Prêmio Pulitzer, elege os cem melhores filmes já realizados
Escolhas de Roger Ebert revelam gosto do americano médio
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Roger Ebert não chega a ser
Pauline Kael, provavelmente
a pessoa que escreveu com mais
sofisticação críticas de cinema
nos EUA. Mas, ao menos, ele é capaz de incluir diversos filmes europeus entre os cem melhores da
história em sua opinião.
"A Magia do Cinema", com os
comentários de Ebert sobre essa
centena de fitas, é um livro gostoso para o cinéfilo médio. Todas as
produções selecionadas são relativamente fáceis de serem encontradas em locadoras um pouco
mais requintadas.
Aliás, na introdução, Ebert faz
observações pertinentes sobre a
contradição que representou para
o amante do cinema o aparecimento do vídeo doméstico e seu
sucedâneo, o DVD. Por um lado,
ele concretizou uma antiga aspiração dos fãs: poder montar a sua
cinemateca particular, com acesso permanente a seus ídolos. Por
outro, representou o fim dos cineclubes, em que a discussão enriquecia e aprofundava a compreensão do significado das grandes obras da chamada sétima arte.
O leitor brasileiro tem a oportunidade, com "A Magia do Cinema", de entrar em contato com o
estilo muito peculiar de Roger
Ebert fazer crítica, premiado com
um Pulitzer, prêmio que -para o
jornalismo americano- tem importância comparável ao Oscar
para o cinema.
Diferentemente de Kael, uma
das pessoas a quem o livro é dedicado, Ebert não é apenas cerebral.
Mistura elementos de referência
histórica e de conhecimento sociológico a memórias pessoais e
pitadas de emoção. Às vezes pode
parecer piegas ou pretensioso,
mas também ajuda a criar empatia com o leitor (embora nem tanto em relação ao público de uma
cultura diferente da norte-americana, como a brasileira).
Para a audiência dos Estados
Unidos, onde a prática jornalística corriqueira no trato com o cinema se resume basicamente ao
noticiário de fofocas sobre as estrelas e de números de bilheteria,
Ebert é um bálsamo de inteligência. Para um europeu ou mesmo
para um brasileiro, no entanto,
muitas vezes passa a impressão
até de vulgaridade.
Mesmo assim, é sempre bom
reavivar as lembranças sobre clássicos do cinema, como "Luzes da
Cidade", "Encouraçado Potemkin", "A Malvada" ou "O Sétimo
Selo" a partir das anotações de
Roger Ebert.
E também é curioso confrontar
nossas opiniões sobre fitas polêmicas, como "JFK - A Pergunta
que Não Quer Calar" ou "Portais
do Céu" com as de um monstro
sagrado da crítica cinematográfica como Roger Ebert.
Como o próprio autor reconhece, esse tipo de lista é sempre extremamente subjetiva, sujeita a
reavaliações constantes e a discussões infindáveis. Por mais fúteis que sejam em termos de registro histórico ou precisão científica, no entanto, elas sempre são
apreciadas talvez exatamente por
causa da polêmica que causam.
É difícil negar qualidade a todos
os cem filmes que Ebert relaciona.
Alguns -"Cidadão Kane" pelo
menos- estariam em qualquer
rol semelhante feito por qualquer
outro crítico sério ou mesmo pela
maioria dos freqüentadores mais
habituais da "sala escura".
No entanto, com certeza a escolha reflete um gosto específico do
americano médio. É claro que um
brasileiro acabaria por colocar pelo menos um representante de seu
país, como também o fariam cinéfilos de outras nacionalidades.
Ela também representa uma geração específica, dos nascidos em
meados do século 20. Embora seja
evidente o esforço do autor de dar
alguma diversidade cronológica a
seu trabalho, produções mais recentes são claramente minoritárias e um crítico de 20 e poucos
anos provavelmente não agiria da
mesma forma.
Carlos Eduardo Lins da Silva, 51, jornalista, é diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
A Magia do Cinema
Autor: Roger Ebert
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 56 (556 págs.)
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