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LANÇAMENTO
Esgotada coletânea de textos do dramaturgo para o jornal "Última Hora" ganha reedição depois de 30 anos
Livro de 1973 redescobre o contista Plínio Marcos
BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
O livro se chama "Histórias das
Quebradas do Mundaréu". De
saída, Plínio Marcos diz a que
vem. Quebrada é terreno desbarrancado, ou seja, onde só moram
os pobres, gente que é do mundaréu, da língua poética da gíria.
Com o título, já se posiciona.
Vai contar a história dos humilhados e ofendidos. Confirma o posicionamento na apresentação do
livro: "Lá onde o vento encosta o
lixo e as pragas botam os ovos,
nos atalhos esquisitos, estreitos e
escamosos do roçado do bom
Deus, vive o povão lesado da sociedade, que, apesar de tudo, é generoso, apaixonado, alegre, esperançoso e crente numa existência
melhor, na paz de Oxalá. Eu sou o
repórter dessa gente simples".
O livro é uma coletânea de textos que o autor escrevia para o jornal "Última Hora", de São Paulo.
Foi lançado em 1973 e acaba de
ser relançado pela Editora de Cultura numa coleção que promete:
"Letras do Brasil".
Durante a ditadura militar, todas as suas peças -"Dois Perdidos numa Noite Suja" (1966),
"Navalha na Carne" (1967), "O
Abajur Lilás" (1969)- foram
censuradas. Plínio sobreviveu
graças aos jornais ("Última Hora", "Diário da Noite", "Guarú
News", Folha e "Folha da Tarde"), tornando-se articulista, entrevistador, contista. Sendo de
circo como aos 16 anos.
Antes de se tornar ator, camelô,
administrador de teatro, escritor,
palestrante, tirando de letra as dificuldades da vida, "sambando na
lama", como diria Chico Buarque.
"Bandidagem", "Futebol",
"Samba", "Macumba", "Cadeia",
"Amor" e "Diversos" são os sete
capítulos da coletânea, que enfim
está nas livrarias. Os que conhecem a dramaturgia de Plínio e sabem da altura do seu vôo podem
agora descobrir o exímio contador, perguntando-se como é possível que esses contos escritos há
mais de 30 anos sejam tão atuais.
O autor dizia: "Se meus textos são
atuais, o mérito não é meu. A culpa é do país, que não mudou".
Verdade que o país é repetitivo e
pode se tornar mais escuro do que
a escuridão, mas a atualidade dos
textos resulta da escuta de Plínio,
que deu ouvidos aos pobres e fez a
apologia da sua língua -como
Victor Hugo em "Os Miseráveis",
em que há vários capítulos sobre a
gíria. Plínio saiu a ouvir as prostitutas, os assaltantes, os macumbeiros. Queria as falas a quem
ninguém dá ouvidos, a realidade
recalcada, o drama da rua.
Nunca estudou psicanálise, nasceu psicanalista. Ao ler as "Histórias das Quebradas do Mundaréu", o leitor passa eletrizado de
uma a outra emoção extrema, da
tristeza à gargalhada.
Através dos contos, encontra o
autor, sem a mediação do diretor
de teatro ou do ator. Pode amá-lo,
não só pela resistência e pela coragem de que deu provas -quando
a censura se abateu sobre as suas
peças, que se transformavam numa bandeira de luta pela liberdade-, porém também por uma
devoção aos humildes, que denota profunda humanidade.
Está na hora de descobrir o contista Plínio Marcos, que talvez tenha sido o mais censurado dos
nossos autores por ser tão brasileiro, rir como os foliões da própria desgraça, sendo sempre um
repórter bem-humorado de um
tempo mau.
Betty Milan é escritora, psicanalista e
autora de "A Paixão de Lia", entre outros
HISTÓRIAS DAS QUEBRADAS DO
MUNDARÉU. Autor: Plínio Marcos.
Editora de Cultura. Quanto: R$ 28 (180
págs.). Lançamento: hoje, dentro do
projeto O Autor na Praça, das 14h às 21h,
no Espaço Plínio Marcos (pça. Benedito
Calixto, Pinheiros, SP).
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