São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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FILMES

TV PAGA

Uma verdade que "Cabra-Cega" escamoteia

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

De "Latitude Zero", que passa hoje na TV, a "Cabra-Cega", que está atualmente nos cinemas, o diretor Toni Venturi evoluiu. Por exemplo, na circulação da sexualidade. "Latitude" começa com uma mulher se masturbando. Mais tarde, essa mulher verá o homem a quem hospeda se masturbar.
Certas coisas não é preciso mostrar para que percebamos nem convém. Na verdade, a arte consiste em não mostrá-las e fazer com que tenhamos o sentimento de sua existência.
Esses falsos movimentos, Venturi evita-os em "Cabra-Cega", onde o desejo eclode, mas não por efeito de uma obviedade.
Há outros. Na verdade, tratam-se de dois filmes imperfeitos e interessantes, embora "Cabra-Cega" mostre evolução e, ao mesmo tempo, confirme um gosto do realizador por confinar seus personagens (em "Cabra-Cega", num apartamento na cidade, em "Latitude", num antigo garimpo) para que melhor se entreguem ao enfrentamento interpessoal.
Mas há um aspecto em que se verifica nítida regressão. É no tratamento da atriz, Débora Duboc. Em "Cabra-Cega" ela carrega num sotaque mineiro que termina por desviar a atenção da ação, de tão marcado. Ele parece também caracterizar uma pessoa ingênua (o que é enfatizado pelo cabelo e até pela postura da atriz).
Em "Latitude Zero", às vezes, a gente pode se lembrar da Barbara Hershey dos anos 70, ou ainda, de Liv Ullmann. Como estamos no meio do nada, será possível alegar que esse tratamento é um tanto irrealista. Não acho. Quem viu Ingrid Bergman em "Stromboli" sabe do que estou falando: é possível ser elegante em qualquer situação, mesmo na maior penúria.
"Latitude Zero" é, nesse sentido, muito mais verdadeiro, pois visa a mulher e faz bem à atriz. "Cabra-Cega" visa a atriz, seu brilho e lhe faz mal.

TV ABERTA

Chan vai ao Velho Oeste em "Bater ou Correr"

Asas da Liberdade
Bandeirantes, 21h30.
(Birdy). EUA, 1984, 120 min. Direção: Alan Parker. Com Matthew Modine, Nicolas Cage. Birdy é o ex-combatente que, após voltar do Vietnã, é recolhido em um hospital militar por se julgar um pássaro. Questões subjacentes: quem é louco e quem não é? O que é ser alienado? À moda de Parker: mais fumaça do que fogo.

Bater ou Correr
SBT, 22h30.
(Shangai Noon). EUA, 2000, 110 min. Direção: Tom Dey. Com Jackie Chan, Owen Wilson, Lucy Liu. Jackie Chan, guarda imperial chinês, acaba no Velho Oeste, em busca da princesa Lucy Liu, seqüestrada por malfeitores. Faroeste, mais caratê, mais comédia.

Hatari!
Bandeirantes, 0h30.
(Hatari!). EUA, 1962, 159 min. Direção: Howard Hawks. Com John Wayne, Elsa Martinelli, Red Buttons. Wayne lidera um grupo de caçadores na África. Dito assim, não quer dizer nada. Cena por cena, puro gênio. Um dos grandes filmes do cinema em todos os tempos.

Segredo de Sangue
Globo, 1h15.
(Hush). EUA, 1998, 95 min. Direção: Jonathan Darby. Com Gwyneth Paltrow, Johnathon Schaech, Hal Holbrook, Jessica Lange. Depois que casa, jovem vai ao encontro da sogra no rancho da família do marido. Descobre então que a boa senhora não é tão boa quanto imaginava e é possessivíssima em relação ao filho. Em todo caso, mais vale ficar com a sogra (Lange) do que com a consorte (Paltrow).

Perigo na Noite
Globo, 2h50.
(Someone to Watch over Me). EUA, 1987, 106 min. Direção: Ridley Scott. Com Tom Berenger, Mimi Rogers, Lorraine Bracco. Policial encarregado de proteger Mimi, bela milionária, apaixona-se por ela e passa por crise conjugal. Inferior a "Alien" e "Blade Runner", melhor que os demais filmes de Scott. Em uma palavra: visível. (IA)

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