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MUSICAIS
Minnelli esquadrinha limite da ilusão
CRÍTICO DA FOLHA
O musical é (ou foi) uma arte da fantasia. Daí Vincente
Minnelli ter se dado tão bem no
gênero: esquadrinhar os limites
entre o real e a fantasia, examinar
o momento em que a imaginação
supera a matéria e impor o primado da idéia -eis o que encontramos em seus filmes.
Naturalmente não chegava a resultados antológicos, como os de
"A Roda da Fortuna", sozinho.
Tinha consigo o mago dos musicais da Metro, Arthur Freed. Tinha, no caso, Fred Astaire, com
sua elegância e pernas ágeis. Tinha também Cyd Charisse, sua
elegância e suas pernas colossais.
Isso só para começar, pois a excelência técnica da Metro dos anos
50 era de cair o queixo.
Quem lança o filme é, estranhamente, a Warner. É ela também
que se responsabiliza por uma
caixa com quatro filmes chamada
"Hollywood Broadway". Lá estão
outros dois Minnellis, "A Lenda
dos Beijos Perdidos" e "Essa Loura Vale Um Milhão", além de
"Desfile de Páscoa", de Charles
Walters, e "O Caminho do Arco-Íris", de Francis Ford Coppola.
A caixa é mais para fãs ou estudiosos. Ver ou rever "Desfile de
Páscoa", por exemplo, comprova
o veredicto de Leslie Caron, para
quem Walters era um ótimo diretor, mas aceitava palpites demais.
O resultado é visível, malgrado a
presença de Astaire e Judy Garland, notáveis, puxando o elenco.
É isso que faz a diferença entre
um autor e um bom artesão. Minnelli era um autor. Mas nem tudo
dele é uma obra-prima. "A Lenda" parece bem superado, nem
tanto pela história hiper-romântica, como pela ação rarefeita.
"Essa Loura Vale Um Milhão"
procura adaptar o gênero a um
gosto mais moderno. A história
da garota que pega recados telefônicos e de seu apego a um dos
clientes é narrada com agilidade.
Mas permanece a impressão de
filme feito correndo atrás do estrago que o tempo havia feito.
Em "O Caminho do Arco-Íris",
Francis Ford Coppola procura, no
fim dos anos 60 (antes de "O Poderoso Chefão", portanto), dar
uma sacudida na poeira. Uma sacudida ambígua, já que se serve de
um já veterano Fred Astaire como
o irlandês que rouba um pote de
ouro e vem para a América.
Milos Forman, com "Hair", Bob
Fosse, com "Cabaret", e Martin
Scorsese, com "New York, New
York", fariam mais nos anos 70.
Mas era pouco: os grandes anos
tinham ficado para trás.
(INÁCIO ARAUJO)
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