São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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MUSICAIS

Minnelli esquadrinha limite da ilusão

CRÍTICO DA FOLHA

O musical é (ou foi) uma arte da fantasia. Daí Vincente Minnelli ter se dado tão bem no gênero: esquadrinhar os limites entre o real e a fantasia, examinar o momento em que a imaginação supera a matéria e impor o primado da idéia -eis o que encontramos em seus filmes.
Naturalmente não chegava a resultados antológicos, como os de "A Roda da Fortuna", sozinho. Tinha consigo o mago dos musicais da Metro, Arthur Freed. Tinha, no caso, Fred Astaire, com sua elegância e pernas ágeis. Tinha também Cyd Charisse, sua elegância e suas pernas colossais. Isso só para começar, pois a excelência técnica da Metro dos anos 50 era de cair o queixo.
Quem lança o filme é, estranhamente, a Warner. É ela também que se responsabiliza por uma caixa com quatro filmes chamada "Hollywood Broadway". Lá estão outros dois Minnellis, "A Lenda dos Beijos Perdidos" e "Essa Loura Vale Um Milhão", além de "Desfile de Páscoa", de Charles Walters, e "O Caminho do Arco-Íris", de Francis Ford Coppola.
A caixa é mais para fãs ou estudiosos. Ver ou rever "Desfile de Páscoa", por exemplo, comprova o veredicto de Leslie Caron, para quem Walters era um ótimo diretor, mas aceitava palpites demais. O resultado é visível, malgrado a presença de Astaire e Judy Garland, notáveis, puxando o elenco.
É isso que faz a diferença entre um autor e um bom artesão. Minnelli era um autor. Mas nem tudo dele é uma obra-prima. "A Lenda" parece bem superado, nem tanto pela história hiper-romântica, como pela ação rarefeita.
"Essa Loura Vale Um Milhão" procura adaptar o gênero a um gosto mais moderno. A história da garota que pega recados telefônicos e de seu apego a um dos clientes é narrada com agilidade. Mas permanece a impressão de filme feito correndo atrás do estrago que o tempo havia feito.
Em "O Caminho do Arco-Íris", Francis Ford Coppola procura, no fim dos anos 60 (antes de "O Poderoso Chefão", portanto), dar uma sacudida na poeira. Uma sacudida ambígua, já que se serve de um já veterano Fred Astaire como o irlandês que rouba um pote de ouro e vem para a América.
Milos Forman, com "Hair", Bob Fosse, com "Cabaret", e Martin Scorsese, com "New York, New York", fariam mais nos anos 70. Mas era pouco: os grandes anos tinham ficado para trás.
(INÁCIO ARAUJO)


Musicais
A Roda da Fortuna:     
Desfile de Páscoa:    
Essa Loura Vale Um Milhão:    
A Lenda dos Beijos Perdidos:   
A Caminho do Arco-Íris:   


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