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"EDIFÍCIO MASTER"
"Talk show" garimpa poesia de todos
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tive o prazer de conhecer
uma das 37 pessoas entrevistadas em "Edifício Master". Foi
muito antes de rodarem o documentário de Eduardo Coutinho,
que observa o mosaico de vidas
de um prédio em Copacabana.
No cinema, aquela pessoa ganhou contornos diferentes, embora não contasse nada de mais
-apenas falava de sua vida e do
que considerava o mais interessante nela. Na sala, alguém exclamou: "Que personagem fantástico!". E eu recuperava da lembrança o óbvio que não tinha visto.
A magia de "Edifício Master" é
justamente a de garimpar, em cada conjugado, a poesia, o personagem, a imperdível história que
cada pessoa leva consigo.
Coutinho arma seu "talk show"
a partir do que chama de invasão:
a câmera parte do corredor e
adentra o apartamento ambientando o espectador, que espera
um novo verbete da classe média.
Amarradas pelo mesmo lugar
geográfico -o tal Master, onde a
equipe de Coutinho se instalou
para pesquisas e filmagens-, as
vidas trazem em comum o fato de
reagirem, na maioria das vezes
em solidão, à força opressora da
metrópole chamada Copacabana.
Mas podia ser São Paulo.
E aí, dentro de uma ótica drummondiana, a poesia se extrai do
cotidiano. Há a senhora que não
se matou porque tinha contas a
pagar num magazine; há o homem sempre grato ao patrão que
o deixou viajar para ver a mãe
morrer; há o casal de idosos que
se conheceu pelos classificados.
Apaixonar-se por esses "personagens" não é difícil. Tanto que os
extras que acompanham o DVD
parecem ser uma continuação necessária do longa.
No disco alternativo, há as primeiras entrevistas da equipe de
produção com os moradores do
prédio. É quando as pessoas se revelam, ou se escondem. E até a
versão comentada é interessante
como poucas, porque volta e meia
Coutinho deixa escapar o que
aconteceu com tal pessoa meses
depois da realização.
Se coube ao documentarista
permitir o fluxo de realidade para
depois editá-lo, é preciso reconhecer nele sua verve de poeta.
Um dos entrevistados o recebe
em seu humilde lar com um lanchinho, e, com sua simples inclusão no filme, a gentileza ganha
uma eloqüência colossal.
É assim que Coutinho opera o
seu milagre: quando foca o sincero, o banal e o patético, é para devolver ao espectador a certeza de
que é tudo humano e belo -e que
não devia parecer tão estranho.
Claro que haverá os reducionistas que, habituados aos "Matrix"
da vida, verão monotonia na estética de poucas variações de câmera. Sem falar nos que vêem semelhanças entre a proposta do filme
e os "arquivos confidenciais" de
tantos domingões piegas.
Normal. O Master passou anos
sendo só um edifício em Copacabana, antes de virar obra-prima.
Edifício Master
Direção: Eduardo Coutinho
Distribuidora: Videofilmes; R$ 40, em média
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