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Crítica
Entre "clássicos" e "contemporâneos", Beldí apresenta cardápio desconexo
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Vejo na gastronomia,
aqui e ali, um movimento meio passadista,
meio nostálgico, que não deixa
de ter sentido. Numa cidade em
que as tradições se mantiveram
ao longo das eras, cada coisa (o
passado e o presente) fica naturalmente em seu lugar. Mas em
cidades como São Paulo, onde o
passado é trucidado antes mesmo de amadurecer, parece ser
necessário que ele seja reinventado a toda hora, por paradoxal
que isso possa parecer. O restaurante e piano-bar Beldí parece vir um pouco nesse fluxo.
Trata-se de um local inspirado num restaurante de Marrocos (país de encruzilhada entre
a África e a Europa), com referências aos dinning clubs norte-americanos, onde a noite se
escoava em mesas nas quais os
clientes se dividiam entre taças
de champanhe, jazz ao vivo e
comida.
No Beldí, a atmosfera evoca
um ambiente antigo, para um
público mais velho, mas no
qual, em todo caso, mesmo para os mais jovens pode ser cômodo o conforto dos sofás e
poltronas do bar (não é o caso
de chamar de "lounge"), o espaço generoso entre as mesas
(elas mesmas num espaço amplo, de alto pé-direito) e, menos, a música ao vivo, um tanto
alta para quem está comendo.
Comendo o quê? Um cardápio meio desconexo, dividido
entre os "clássicos" e o "contemporâneo" (mas um contemporâneo de 20 anos atrás,
ou, em casos como o do paillard
com fettuccine, de mais tempo
atrás ainda). Uma cozinha que
pode ser divertida quando evoca os pratos mais antigos -embora algo merecesse ser modernizado, como a coquille St. Jacques, que significa vieira (antigamente era feita de camarão;
aqui, é uma combinação dos
dois, com um molho tão aguado
que deveria vir com uma colher
ao lado).
Tem bom desempenho o
fundo de alcachofra, firme e saboroso, gratinado com queijo.
É correto o camarão à provençal, com crustáceos graúdos, e
estranha a "crosta" nada crocante, até molhada, da costeleta de cordeiro com azeitonas,
que, não obstante, vem num
bom ponto. Também da velha-guarda, truta com amêndoas,
steak à siberiana, estrogonofe...
A carta de vinhos ainda é limitada, mas tem alguma oferta da
América do Sul, defendida com
entusiasmo pelo sommelier.
josimar@basilico.com.br
BELDÍ
Avaliação: regular
Endereço: r. Jorge Coelho, 162,
Itaim Bibi, tel. 0/xx/11/3071-4334
Funcionamento: seg. a qui.,
das 19h à 1h; sex. e sáb., das
19h às 2h
Ambiente: confortável bar na
entrada, salão com pé-direito
alto e piano, velho estilo
Serviço: bem profissional
Vinhos: carta provisória
centrada na América do Sul,
bem-apresentada pelo
sommelier
Cartões: todos
Estacionamento com
manobrista: R$ 13
Preços: entradas, R$ 21 a R$
49; pratos principais, R$ 42 a R$
76; sobremesas, R$ 12 a R$ 19
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