São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

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Crítica

Entre "clássicos" e "contemporâneos", Beldí apresenta cardápio desconexo

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Vejo na gastronomia, aqui e ali, um movimento meio passadista, meio nostálgico, que não deixa de ter sentido. Numa cidade em que as tradições se mantiveram ao longo das eras, cada coisa (o passado e o presente) fica naturalmente em seu lugar. Mas em cidades como São Paulo, onde o passado é trucidado antes mesmo de amadurecer, parece ser necessário que ele seja reinventado a toda hora, por paradoxal que isso possa parecer. O restaurante e piano-bar Beldí parece vir um pouco nesse fluxo.
Trata-se de um local inspirado num restaurante de Marrocos (país de encruzilhada entre a África e a Europa), com referências aos dinning clubs norte-americanos, onde a noite se escoava em mesas nas quais os clientes se dividiam entre taças de champanhe, jazz ao vivo e comida.
No Beldí, a atmosfera evoca um ambiente antigo, para um público mais velho, mas no qual, em todo caso, mesmo para os mais jovens pode ser cômodo o conforto dos sofás e poltronas do bar (não é o caso de chamar de "lounge"), o espaço generoso entre as mesas (elas mesmas num espaço amplo, de alto pé-direito) e, menos, a música ao vivo, um tanto alta para quem está comendo.
Comendo o quê? Um cardápio meio desconexo, dividido entre os "clássicos" e o "contemporâneo" (mas um contemporâneo de 20 anos atrás, ou, em casos como o do paillard com fettuccine, de mais tempo atrás ainda). Uma cozinha que pode ser divertida quando evoca os pratos mais antigos -embora algo merecesse ser modernizado, como a coquille St. Jacques, que significa vieira (antigamente era feita de camarão; aqui, é uma combinação dos dois, com um molho tão aguado que deveria vir com uma colher ao lado).
Tem bom desempenho o fundo de alcachofra, firme e saboroso, gratinado com queijo. É correto o camarão à provençal, com crustáceos graúdos, e estranha a "crosta" nada crocante, até molhada, da costeleta de cordeiro com azeitonas, que, não obstante, vem num bom ponto. Também da velha-guarda, truta com amêndoas, steak à siberiana, estrogonofe... A carta de vinhos ainda é limitada, mas tem alguma oferta da América do Sul, defendida com entusiasmo pelo sommelier.


josimar@basilico.com.br

BELDÍ
Avaliação: regular Endereço: r. Jorge Coelho, 162, Itaim Bibi, tel. 0/xx/11/3071-4334
Funcionamento: seg. a qui., das 19h à 1h; sex. e sáb., das 19h às 2h
Ambiente: confortável bar na entrada, salão com pé-direito alto e piano, velho estilo
Serviço: bem profissional
Vinhos: carta provisória centrada na América do Sul, bem-apresentada pelo sommelier
Cartões: todos
Estacionamento com manobrista: R$ 13
Preços: entradas, R$ 21 a R$ 49; pratos principais, R$ 42 a R$ 76; sobremesas, R$ 12 a R$ 19


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