|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/ "Alexandra"
Sem concessões, Sokurov aborda faces distintas da Rússia
Longa retrata mulher que visita o neto num acampamento do Exército russo
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Por trás do nome próprio
tão comum que carrega
no título, "Alexandra"
sugere que o diretor russo
Alexander Sokurov, após concluir a trilogia focada na fragilidade dos tiranos ("Molloch",
sobre Hitler, "Taurus", sobre
Lênin, e "O Sol", sobre o imperador Hiroito), tenha desejado
retornar seu olhar para a existência ordinária.
Por outro lado, este retrato
de uma senhora que visita o neto num acampamento do Exército da Rússia em Grozny, em
meio à guerra na Tchetchênia,
também encerra uma trilogia
deixada aberta com "Mãe e Filho" e "Pai e Filho".
Logo, "Alexandra" se encontra numa junção destas duas linhas da obra do diretor, uma
voltada para a indagação dos
subterrâneos subjetivos da
grande história, outra, para os
impactos dos movimentos da
história no terreno minado que
compõe a subjetividade.
Neste encontro da avó com
seu neto soldado, Sokurov
aborda também duas faces de
sua Rússia: humana e generosa,
bélica e rude.
Como na câmera sem limites
do assombroso "Arca Russa", o
diretor percorre movimentos
para nos revelar melhor as zonas de obscuridade e de clareza,
as visões opostas no conflito, o
lado de dentro da guerra nos intervalos dos combates. E o faz
sem precisar dar nenhum tiro,
apenas seguindo a perambulação da velha Alexandra.
Em meio aos soldados, em
vagões de trens militares e em
abrigos de campanha, Alexandra espia, parece procurar alguém perdido, mas só encontra
soldados que lhe parecem jovens demais para estarem envolvidos na brincadeira de verdade de matar e morrer.
Quando escapa do acampamento, é do outro lado que ela
se aventura, onde, em vez de linha inimiga, ela encontra tantas outras Alexandras, que sobrevivem sob o conflito sem
conseguir entender as razões.
"Devolva nossa liberdade!",
ela ouve de um garoto tchecheno. Pelas mãos de um jovem
também retornará sã e salva ao
abrigo militar.
Nesta zona em que se misturam velhos demais para ainda
viver muito e jovens demais para morrer, Sokurov demonstra
o poder dos sentimentos sem
sentimentalismos.
ALEXANDRA
Produção: França/Rússia, 2007
Direção: Alexander Sokurov
Com: Galina Vishnevskaya, Vasily
Shevtsov, Raisa Gichaeva
Onde: no Cine Bombril 2 e Cinesesc
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Crítica/"A Janela": Argentino filma o essencial em bom drama sobre velhice Índice
|