São Paulo, sexta-feira, 01 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/ "Alexandra"

Sem concessões, Sokurov aborda faces distintas da Rússia

Longa retrata mulher que visita o neto num acampamento do Exército russo

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Por trás do nome próprio tão comum que carrega no título, "Alexandra" sugere que o diretor russo Alexander Sokurov, após concluir a trilogia focada na fragilidade dos tiranos ("Molloch", sobre Hitler, "Taurus", sobre Lênin, e "O Sol", sobre o imperador Hiroito), tenha desejado retornar seu olhar para a existência ordinária.
Por outro lado, este retrato de uma senhora que visita o neto num acampamento do Exército da Rússia em Grozny, em meio à guerra na Tchetchênia, também encerra uma trilogia deixada aberta com "Mãe e Filho" e "Pai e Filho".
Logo, "Alexandra" se encontra numa junção destas duas linhas da obra do diretor, uma voltada para a indagação dos subterrâneos subjetivos da grande história, outra, para os impactos dos movimentos da história no terreno minado que compõe a subjetividade.
Neste encontro da avó com seu neto soldado, Sokurov aborda também duas faces de sua Rússia: humana e generosa, bélica e rude.
Como na câmera sem limites do assombroso "Arca Russa", o diretor percorre movimentos para nos revelar melhor as zonas de obscuridade e de clareza, as visões opostas no conflito, o lado de dentro da guerra nos intervalos dos combates. E o faz sem precisar dar nenhum tiro, apenas seguindo a perambulação da velha Alexandra.
Em meio aos soldados, em vagões de trens militares e em abrigos de campanha, Alexandra espia, parece procurar alguém perdido, mas só encontra soldados que lhe parecem jovens demais para estarem envolvidos na brincadeira de verdade de matar e morrer.
Quando escapa do acampamento, é do outro lado que ela se aventura, onde, em vez de linha inimiga, ela encontra tantas outras Alexandras, que sobrevivem sob o conflito sem conseguir entender as razões.
"Devolva nossa liberdade!", ela ouve de um garoto tchecheno. Pelas mãos de um jovem também retornará sã e salva ao abrigo militar.
Nesta zona em que se misturam velhos demais para ainda viver muito e jovens demais para morrer, Sokurov demonstra o poder dos sentimentos sem sentimentalismos.


ALEXANDRA

Produção: França/Rússia, 2007
Direção: Alexander Sokurov
Com: Galina Vishnevskaya, Vasily Shevtsov, Raisa Gichaeva
Onde: no Cine Bombril 2 e Cinesesc
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom



Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Crítica/"A Janela": Argentino filma o essencial em bom drama sobre velhice
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.