São Paulo, sexta, 1 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

KIROV
Diretor quer mudanças sem radicalismos

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha, em São Petersburgo

Makhar Vaziev, atual responsável pelo Ballet Kirov, subordina-se ao maestro Valéry Guerguiev, designado diretor do Teatro Mariinsky em 1996 pelo presidente da Rússia, Boris Yeltsin.
Aos 45 anos, Guerguiev assume os desafios do Mariinsky, ostentando consagrações internacionais, como ter conquistado, em novembro de 1997, o título de primeiro maestro convidado do Metropolitan Opera House, de Nova York.
Por iniciativa de Guerguiev, as óperas de Wagner voltam a integrar as produções do Mariinsky, depois de décadas de ausência. Sob a batuta do maestro, os novos tempos do famoso teatro russo estendem-se ao Ballet Kirov, que também está somando novas coreografias ao seu tradicionalíssimo repertório.
Sinal das atuais mudanças era a presença de Françoise Adret, coreógrafa e mestra francesa, nas salas de ensaios do Mariinsky, no mês passado. Convidada por Vaziev, Adret montou duas obras que o Kirov estreou em abril: "Carmen" e "Le Jeune Homme e la Mort", criadas nos anos 40 pelo coreógrafo francês Roland Petit.
"Precisamos preservar o que temos, mas não podemos ter medo de aprender com os outros", diz Vaziev. A seguir, trechos de sua entrevista:

Folha - O repertório do Kirov chega a ser um patrimônio universal, pois preserva a pureza dos clássicos. As mudanças colocam isso em risco?
Makhar Vaziev -
Não sou louco para mudar o que temos de bom. Não vou fazer revoluções, mas sim abrir mentalidades e ampliar nossos conhecimentos. Quero olhar para o futuro com cuidado, para não cometer erros.
Folha - As mudanças atingem o elenco do Kirov?
Vaziev -
Hoje realizamos cerca de 14 espetáculos por mês e isso significa que parte dos 232 bailarinos do elenco fica ociosa. Acredito que será possível manter nosso padrão de qualidade e diminuir custos, uma condição que nossa atual realidade impõe, se trabalharmos com cerca de 160 bailarinos.
Também pretendo desenvolver uma nova geração de estrelas. Cheguei a pensar em convidar bailarinos de outros teatros para estrelar nossas produções. Mas mudei de idéia ao observar o sucesso de nossos jovens intérpretes durante a temporada do Kirov no Brasil, em 1996.
Uliana Lopatkina, hoje nossa primeira bailarina, começou a ganhar esse status naquela época. É em talentos como ela, formados no Kirov, que quero investir.
Folha - A influência do diretor do Ballet Kirov se estende à Escola Vaganova, que forma os bailarinos da companhia e garante seu estilo. A escola também deve mudar?
Vaziev -
Hoje as idades de nossos maiores mestres variam de 60 a 75 anos. É muito importante criar oportunidades para que novos pedagogos se formem e garantam o nível das gerações futuras. Essa é uma das principais metas da Escola Vaganova, que também precisa se abrir para novos ensinamentos.
Dominamos a técnica clássica. Mas, até agora, parecia que a dança moderna era algo proibido ou inacessível para nós. Isso nos deixou atrasados com o que se desenvolveu no Ocidente e eu acho que é preciso ampliar nosso arsenal de movimentos.
Também os critérios de seleção da escola devem mudar. Acho que os alunos não devem apresentar somente virtuosismo técnico e corpos perfeitos. É importante que também sejam curiosos e criativos. Só assim formaremos novos coreógrafos.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.