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KIROV
Diretor quer mudanças sem radicalismos
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha, em São Petersburgo
Makhar Vaziev, atual responsável pelo Ballet Kirov, subordina-se
ao maestro Valéry Guerguiev, designado diretor do Teatro Mariinsky em 1996 pelo presidente da
Rússia, Boris Yeltsin.
Aos 45 anos, Guerguiev assume
os desafios do Mariinsky, ostentando consagrações internacionais, como ter conquistado, em
novembro de 1997, o título de primeiro maestro convidado do Metropolitan Opera House, de Nova
York.
Por iniciativa de Guerguiev, as
óperas de Wagner voltam a integrar as produções do Mariinsky,
depois de décadas de ausência.
Sob a batuta do maestro, os novos
tempos do famoso teatro russo estendem-se ao Ballet Kirov, que
também está somando novas coreografias ao seu tradicionalíssimo repertório.
Sinal das atuais mudanças era a
presença de Françoise Adret, coreógrafa e mestra francesa, nas salas de ensaios do Mariinsky, no
mês passado. Convidada por Vaziev, Adret montou duas obras
que o Kirov estreou em abril:
"Carmen" e "Le Jeune Homme e
la Mort", criadas nos anos 40 pelo
coreógrafo francês Roland Petit.
"Precisamos preservar o que temos, mas não podemos ter medo
de aprender com os outros", diz
Vaziev. A seguir, trechos de sua
entrevista:
Folha - O repertório do Kirov chega a ser um patrimônio universal,
pois preserva a pureza dos clássicos. As mudanças colocam isso em
risco?
Makhar Vaziev - Não sou louco
para mudar o que temos de bom.
Não vou fazer revoluções, mas sim
abrir mentalidades e ampliar nossos conhecimentos. Quero olhar
para o futuro com cuidado, para
não cometer erros.
Folha - As mudanças atingem o
elenco do Kirov?
Vaziev - Hoje realizamos cerca
de 14 espetáculos por mês e isso
significa que parte dos 232 bailarinos do elenco fica ociosa. Acredito
que será possível manter nosso padrão de qualidade e diminuir custos, uma condição que nossa atual
realidade impõe, se trabalharmos
com cerca de 160 bailarinos.
Também pretendo desenvolver
uma nova geração de estrelas.
Cheguei a pensar em convidar bailarinos de outros teatros para estrelar nossas produções. Mas mudei de idéia ao observar o sucesso
de nossos jovens intérpretes durante a temporada do Kirov no
Brasil, em 1996.
Uliana Lopatkina, hoje nossa
primeira bailarina, começou a ganhar esse status naquela época. É
em talentos como ela, formados
no Kirov, que quero investir.
Folha - A influência do diretor do
Ballet Kirov se estende à Escola Vaganova, que forma os bailarinos
da companhia e garante seu estilo.
A escola também deve mudar?
Vaziev - Hoje as idades de nossos maiores mestres variam de 60 a
75 anos. É muito importante criar
oportunidades para que novos pedagogos se formem e garantam o
nível das gerações futuras. Essa é
uma das principais metas da Escola Vaganova, que também precisa
se abrir para novos ensinamentos.
Dominamos a técnica clássica.
Mas, até agora, parecia que a dança moderna era algo proibido ou
inacessível para nós. Isso nos deixou atrasados com o que se desenvolveu no Ocidente e eu acho que é
preciso ampliar nosso arsenal de
movimentos.
Também os critérios de seleção
da escola devem mudar. Acho que
os alunos não devem apresentar
somente virtuosismo técnico e
corpos perfeitos. É importante que
também sejam curiosos e criativos. Só assim formaremos novos
coreógrafos.
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