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Ficamos na miséria, diz professora
da enviada a São Petersburgo
Para lidar com a falta de recursos
financeiros desencadeada pelo fim
do regime comunista, o diretor do
Ballet Kirov, Makhar Vaziev, sabe
que é importante manter o grupo
em circulação pelo mundo.
"Seria mais interessante permanecer em São Petersburgo, criando novas obras em ritmo normal.
Mas nossa realidade financeira
exige que as companhias de balé e
ópera do teatro Mariinski mantenham uma agenda de viagens",
diz Vaziev, referindo-se à fonte
econômica que lhe permite "driblar" o orçamento.
Felizmente, o padrão de qualidade do Kirov ainda eletriza platéias. No grupo que gerou estrelas
como Nijinski, Anna Pavlova, Nureyev e Baryshnikov, ainda há
muitos bailarinos extraordinários,
treinados para interpretar, com
estilo único, as obras-primas do
balé clássico.
Para a professora do Kirov, Ninel Kurgapkina, 69 anos, o que faz
o bailarino russo especial são as
raízes, a tradição. "Ser bailarino
na Rússia sempre significou muito
prestígio. Acho que há algo na natureza, no caráter dos russos, que
lhes permite dançar com facilidade, expressando sua riqueza interior."
Depois de dançar durante 33
anos, Kurgapkina tornou-se uma
das professoras mais sábias e respeitadas da Rússia. Nascida em
São Petersburgo, ela nunca pensou em deixar seu país.
"Na Rússia se diz que, tendo-se
o bem, não é preciso buscá-lo.
Amo meu país, o teatro onde trabalho e a convivência com tantos
bailarinos perfeitos. Quanto à falta
de dinheiro, não se pode ganhar
tudo o que se quer, tampouco levá-lo para a tumba. Pagam-me
tanto quanto eu posso gastar e estou satisfeita com minha vida",
comenta Kurgapkina.
Apesar dos problemas financeiros, Kurgapkina acha que a Rússia
está melhor. "Minha geração ficou na miséria. Trabalhamos a vida toda e ficamos sem nada. Hoje,
se eu não tivesse meu trabalho, seria uma catástrofe. Porém a atual
situação nos deu liberdade pessoal."
"Posso falar com quem eu quero, comprar uma passagem e viajar para qualquer parte do mundo,
e isso antes não era possível. Também já não enfrentamos situações
perigosas quando convidamos
qualquer pessoa para visitar nossa
casa sem permissão. Portanto, os
jovens que começam agora, que
têm anos pela frente, estão muito
melhor, poderão trabalhar e construir um novo futuro", ela afirma.
Mestra das estrelas do Kirov,
Kurgapkina domina o repertório
clássico, mas conhece muito pouco de dança moderna. "As obras
clássicas têm humanidade, são como aqueles contos lidos para as
crianças em todas épocas. Por isso, sempre se comunicarão com o
público", ela afirma.
(AFP)
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