|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gênero virou norma
especial para a Folha
O filme musical talvez seja o cinema em seu estado mais puro -
depois, é claro, do filme de vanguarda.
A degeneração do gênero é um
processo curioso. O musical americano foi o apogeu da arte como
indústria. O estrondoso apelo popular foi ouvido até no Brasil, onde (diapasão parodiado) as chanchadas conquistaram o público.
Após estabelecer a norma por
excelência do cinema convencional, foi a música que fecundou as
obras mais experimentais e inventivas (a composição musical é a estrutura mesma do filme).
Fischinger pinta diretamente sobre a película, conduzido pela música gravada na banda sonora do
filme. Brakhage move sua câmera
em arabescos abstratos e faz filmes
musicais... mudos. Até é possível
criar um musical com meros 11 fotogramas de uma incerta imagem
inaugural.
Bressane vê seu "paideuma"
dançar sob o desconcerto de sambas ("Tabu"). Caetano (aí é
quando músico faz filme) satura a
cena de prosa e transborda o canto
("O Cinema Falado"). Omar investiga o signo do suporte sonoro
("O Som ou Tratado de Harmonia"). Reichenbach imanta as coisas com o toque de Scriabin
("Dois Córregos").
Godard rege pintura com música erudita, em compasso de pausas ("Nouvelle Vague") e comete
um paradoxo ao fazer um "musical neo-realista" ("Uma Mulher é
Uma Mulher"). Straub impregna
cada fotograma de som (no filme
em que nem um fio de cabelo das
perucas de época se move) e faz
um musical marxista ("Crônica
de Anna Magdalena Bach").
A atualidade do musical reside
em sua pertinência nostálgica como gênero histórico e em sua potência deflagradora como autonomia da música.
(CA)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|