São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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Leitor, autor, amante


Cinco livros sobre livros, cinco livros sobre a mesma paixão: um editor, um historiador, uma escritora, um crítico e uma jornalista evocam o prazer de ler

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um desavisado poderia pôr "O Negócio do Livro" ao lado das memórias de executivos de sucesso de qualquer indústria pesada.
Não que Jason Epstein, autor do título em questão, não seja, de fato, um executivo bem-sucedido. Editor dos mais importantes dos EUA, Epstein, 73, é pai de iniciativas que fizeram história no ramo.
Foi pai, em 1950, da Anchor Books -selo pioneiro em títulos de qualidade no formato de bolso, que desencadeou a chamada "revolução da brochura".
(O que o livro conta, porém, é que ele criou a Anchor aos 22 porque não tinha dinheiro para pagar pelas luxuosas edições que embalavam seus autores queridos.)
Além disso, ajudou a rechear, por mais de 40 anos, o prestigioso catálogo da Random House.
(E Epstein lamenta que, hoje em dia, não só a Random, mas todas as grandes editoras devam manter em suas listagens best-sellers que acabam lhes custam os olhos da cara e não enobrecem seu rol.)
Com essas e outras, suas memórias nos mostram um romântico incurável. Ele se revela logo de saída, quando relembra, nostalgicamente, as primeiras instalações da Random (hoje parte do império midiático alemão Bertelsmann).
"A maioria dos editores que conheci prefere, como eu, considerar-se devoto de um ofício cuja recompensa é o ofício em si, e não o seu valor em dinheiro", diz Epstein, no primeiro capítulo.
Em entrevista à Folha, o autor reitera: "Nunca me ocorreu que alguém poderia comprar meu livro com o objetivo de ter sucesso no negócio editorial, mas suponho que alguns o tenham feito".
"A única receita para ter sucesso no negócio do livro é acreditar que os livros são indispensáveis à vida civilizada, que se deve publicar livros que contribuam permanentemente para o conhecimento coletivo e facilitar o acesso a eles."
Epstein, que encarou o primeiro emprego como editor na Doubleday, como bico "temporário", diz que descobriu "com surpresa que era bom em tornar livros algo acessível". "Durante toda a vida, instei as pessoas a lerem livros que eu achava que lhes pudessem servir, e minha carreira como editor é só um aspecto desse hábito."
Entre os autores "úteis" que passaram por suas mãos, estão Norman Mailer, Philip Roth e Gore Vidal. Lamenta não ter conseguido editar "Lolita", de Nabokov -e o relembra, desiludido, no livro. Mas, até aí, mostra certo desapego ao negócio -não à causa.
"Gostaria de tê-lo publicado", diz à Folha, "mas meu amigo Walter Minton, da Putnam, o fez muito bem". "Nunca fui competitivo nesse sentido. Não me importa quem publique um livro admirável, desde que o faça bem."
Inventor também da série de clássicos "American Library", que concebeu com o crítico Edmund Wilson (1895-1972), Epstein se orgulha especialmente de uma iniciativa paralela à carreira editorial: a fundação, em 1963 -com a ex-mulher, Barbara Epstein, e amigos-, da "New York Review of Books", até hoje uma das mais respeitadas publicações de crítica literária do mundo.
Tendo dedicado a vida aos livros, ele hoje passa o tempo em sua biblioteca pessoal, cujo número de volumes ignora ("Nunca contei, nem contarei", afirma).
A aposentadoria, no entanto, não significa que ele se exima de fazer previsões para o futuro do negócio. Se diz não acreditar que as pessoas passem a ler livros virtuais ("exceto obras de referência"), conta que está "muito envolvido" com algo novo. "É a impressão de livros sob encomenda, em pontos de venda, a partir de arquivos transferidos digitalmente de qualquer lugar do mundo."
Mais um passo do romântico para popularizar seu prazer de ler.

O NEGÓCIO DO LIVRO ("Book Business", EUA, 2001). De: Jason Epstein. Editora: Record (www.record.com.br, tel. 0/ xx/21/2585-2000). Tradução: Zaida Maldonado. 160 págs. R$ 20.



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