São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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CINEMA

"Asesinato en Febrero", sobre parentes de vítimas do grupo separatista, integra mostra espanhola que começa hoje em SP

Documentário retrata a sombra do terror do ETA

DA REPORTAGEM LOCAL

A Mostra de Cinema Espanhol Contemporâneo: Longas e Curtas -que ocupa o Centro Cultural São Paulo nesta semana- traz do cineasta Eterio Ortega a visão de um fantasma que sempre volta a assombrar seu país: o grupo separatista basco ETA.
Realizado em 2001, o documentário "Asesinato en Febrero" acompanha os familiares das duas primeiras vítimas fatais de ataques do grupo num pequeno povoado basco, após trégua antes da qual as ações terroristas do ETA haviam matado 850 pessoas na Espanha, ao longo de 40 anos, desde a década de 60.
Estão, portanto, ausentes do filme os desdobramentos na política interna espanhola da suspeita levantada contra o ETA pelo ex-primeiro-ministro José María Aznar sobre a autoria dos ataques terroristas de 11 de março último, em Madri, em que 191 morreram.
Interpretada pelo eleitorado como uma manobra para desviar a atenção da possibilidade de serem os atentados um revide do fundamentalismo islâmico ao apoio dado pela Espanha de Aznar à guerra do Iraque, a acusação custou ao partido do ex-primeiro-ministro a derrota nas eleições.
Ortega, 42, nascido na região basca, documenta as tentativas de parentes das vítimas -um político local e um policial que fazia sua guarda- de retomar a rotina e lidar com as ausências, provocadas brutalmente. Mulher, filhas, pai, amigos do político e do policial falam para a câmera e se deixam acompanhar em várias tarefas.
"Asesinato en Febrero" foi exibido no Festival de Mar del Plata (Argentina), em 2002, quando Ortega conversou com a Folha. O diretor afirma que fez o documentário "para mostrar o horror de alguém se dar o direito de matar em nome de um ideal".
O ponto de vista do cineasta faz com que ele assuma sem preocupações de isenção a ausência, no documentário, de uma voz que fale em nome do "ideal" do ETA.
"Não queria contar a história do "outro lado". Não queria simular eqüidistância, porque não existe eqüidistância. Eu poderia até fazer um filme sobre o ETA, com a mesma sinceridade com que fiz esse, mas não para me dizerem como devo filmar."
Além de "Asesinato en Febrero", o ciclo espanhol tem entre suas atrações "Fausto 5.0", a primeira realização cinematográfica do grupo teatral catalão La Fura del Baus, lançada em 2001.
"Fausto 5.0" é livre adaptação da obra literária de Goethe, em que médico reencontra paciente, oito anos depois de havê-lo diagnosticado como terminal.
O longa do Fura e os outros títulos da mostra, como "Sin Verguenza", de Joaquín Oristrell, o média "Yo Soy de Mi Barrio", de Juan Vicente Córdoba, e o curta "El Puzzle", de Belén Macias, serão exibidos na versão original, sem legendas em português, exceto "Silencio Roto" e "Intacto".


MOSTRA DE CINEMA ESPANHOL CONTEMPORÂNEO: LONGAS E CURTAS. Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Lima Barreto (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 0/xx/11/3277-3611 ramal 279). Quando: de hoje ao dia 6. Quanto: grátis. Os ingressos devem ser retirados uma hora antes das sessões. Realização: Instituto Cervantes de São Paulo e Embaixada da Espanha.


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