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MÚSICA
Diretor do Multishow, cujos vencedores serão conhecidos hoje, diz que diminuiu auxílio por parte das gravadoras
Crise ajuda e atrapalha prêmios musicais
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Começa nesta semana a temporada 2004 de prêmios de música
brasileira. Hoje acontece a entrega do Prêmio Multishow, no Teatro Municipal do Rio, com transmissão direta, às 21h, do canal pago de TV que lhe dá nome. Ontem
aconteceu, em São Paulo, a primeira eliminatória do Prêmio Visa, neste ano dedicado à revelação
de instrumentistas.
A pergunta subjacente é: há razões para celebrações no atual cenário de desmonte da indústria
fonográfica? Quem começa a responder é José Maurício Machline,
47, diretor de uma terceira competição, o Prêmio Tim (ex-Sharp,
ex-Caras), que terá cerimônia de
entrega em 7 de julho, também no
Teatro Municipal carioca.
"Eu não estou nem aí para as
gravadoras. Acho que a crise é
muito boa para os artistas. Neste
ano recebemos 17% mais discos
que em 2004", afirma, citando o
impulso de produção independente que tem decorrido da paralisação relativa das gravadoras.
O Tim existe em função dos discos lançados no Brasil ao longo de
cada ano, premiando-os por categorias que vão do erudito ao mais
popular. Num júri plural de 20
nomes, entram críticos, jornalistas e artistas que vão de Otto a
Wando, de Paulo César Pinheiro
a Jorge Vercilo.
Pelos critérios de laurear discos,
Maria Rita, que foi destacada em
2001 na premiação da Associação
Paulista de Críticos de Arte, pode
ser a revelação de 2003 do Tim.
É a filha de Elis Regina, aliás,
quem lidera o Prêmio Multishow
em termos de número de indicações -concorre em cinco categorias, assim como o grupo Skank.
Se o Tim se baseia em comissão
"VIP" de julgadores, o Multishow
é uma votação popular -ou melhor, semipopular, pois se restringe a consumidores de TV paga
que possuem computador para
votar pela internet.
Apesar do caráter ao mesmo
tempo popular e elitista, a lista resultante de indicados é plural como o júri do Prêmio Tim. Maria
Rita disputa o prêmio de melhor
cantora com Gal Costa, Paula Toller, Ana Carolina e Sandy; Maria
Rita concorre com Sandy & Junior pelo melhor CD do ano; e assim por diante (leia lista completa
em www.multishow.com.br).
O diretor artístico da festa de
entrega é Leonardo Netto, 54,
também empresário dos cantores
Marisa Monte, Arnaldo Antunes
e Adriana Calcanhotto e da atriz
Regina Casé -seus contratados
não participarão da cerimônia,
com exceção de Regina, mestre de
cerimônias do prêmio com o produtor Nelson Motta.
À diferença de Machline, ele
afirma que a crise fonográfica repercute no prêmio, sim. "A crise
afeta, pelo lado empresarial. O
Multishow teve de fazer um investimento grande [R$ 3 milhões, segundo o canal]. Nas edições anteriores tínhamos uma ajuda maior
das gravadoras, nesse sentido."
Se fala em "ajuda", tem de falar
em "lobby" também -as gravadoras fazem lobby para colocar
seus artistas na tela (além das premiações, a festa engloba números
musicais rápidos de vários artistas)? "Lobby é uma realidade. As
gravadoras fazem, no seu papel de
direito, colocar o maior número
possível de artistas. Mas não sou
doido de colocar quem não queira porque gravadora pediu", diz.
Pelo Tim, Machline dá sua versão sobre o assunto "lobby": "Já
houve, sim, mas não de artistas
propriamente. As gravadoras tentavam, mas, como não dava certo,
desistiram". Mas separa o distanciamento das gravadoras de razões ligadas à crise: "Nosso processo é muito claro, por isso as
pessoas não fazem lobby".
Diretamente ligado à indústria
fonográfica permanece o Video
Music Brasil, da MTV, focado exclusivamente no mercado de videoclipes. Neste ano, o prêmio foi
adiado do tradicional agosto para
outubro, segundo a MTV em razão da mudança da data do equivalente norte-americano, Video
Music Awards -esse vai acontecer em agosto, evitando a proximidade com a data traumática de
11 de setembro.
Num campo bastante diverso
dos de Tim, Multishow e VMB,
permanece o Prêmio Visa, praticamente isolado no posto de
evento exclusivo de revelação de
novos talentos musicais, que se alternam a cada ano nas categorias
músico instrumental, vocal e
compositor. Neste ano foram 514
inscritos, dos quais saem agora 24
semifinalistas.
Entrando na sétima edição com
os atrativos de um CD gravado e
R$ 110 mil ao vencedor, o Visa já
premiou nomes como o instrumentista Yamandú Costa e os
cantores Mônica Salmaso e Renato Braz. Se o primeiro foi revelação indiscutível em seu campo, os
outros dois não chegaram até hoje a se consolidar como nomes de
ponta da nova MPB.
"Mônica Salmaso faz um excelente trabalho, mas pega por
exemplo uma música de Clementina de Jesus, que é quente, e torna
morna. Eles são muito comportados, então em termos de sucesso
comercial não acontecem, não
vão acontecer nem crescer mais
que isso", critica/autocritica o
produtor-executivo do evento, Zé
Nogueira, 74.
Com júri de músicos e críticos, o
Visa, ligado à Rádio Eldorado, do
Grupo Estado, tende a seguir padrão mais conservador, privilegiando qualidades técnicas às vezes em detrimento do poder de
comunicação popular de seus
concorrentes.
"Esse pessoal da música é meio
radical, então de fato às vezes os
candidatos selecionados são todos dessa linha", reconhece Nogueira. "Mas se um grupo de rap
de qualidade se inscrevesse, acho
que teria chance, sim", completa.
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