LUCIANA ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem e hoje. Aqui e em outros cantos. Em sua terceira edição, o "Dança em Pauta" marca os passos da dança contemporânea no tempo e em diferentes espaços, a partir de hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
Na história que o evento busca celebrar, o marco inicial é o espetáculo "Isso ou Aquilo" (1975), no qual a bailarina e atriz Marilena Ansaldi se projetou como ícone das artes cênicas brasileira. Assim, o tributo aos 30 anos da peça não se fixa no passado, mas é o ponto de partida para mostrar a trajetória da dança contemporânea brasileira. ""Isso ou Aquilo" surge em um momento de renovação e efervescência na dança", destaca Ana Francisca Ponzio, curadora do evento e colaboradora da Folha. Nessa perspectiva, cada um dos grupos, a seu modo, representa um ponto do desenvolvimento da dança no país, daquela época até então.
Ponzio destaca, por exemplo, o trabalho da bailarina e coreógrafa Zélia Monteiro, 45, que apresenta "E Tudo Movia à Minha Volta", dentro dessa linha evolutiva: "Monteiro vem em nome da grande contribuição da "consciência corporal", desenvolvida por Klaus Vianna, com quem ela trabalhou por oito anos".
Na coreografia de Monteiro criada para o "Dança em Pauta", ela e Cinthia Nisiyama traduzem no palco o resultado de uma pesquisa corporal que expressa as noções de peso e leveza. Monteiro visita a tradição do balé romântico ao trabalhar a suspensão do corpo, ao mesmo tempo em que atualiza a questão ao trazer para o espaço a mobilidade. "Hoje não só o corpo é móvel como também o espaço, por isso temos um palco suspenso por cabos de aço, que flutua e balança", destaca ela.
O foco do evento, entretanto, não é apenas histórico, visa a evidenciar a produção paulistana contemporânea e o intercâmbio com países da América Latina (Cia. Diquis Tiquis, da Costa Rica), da Europa (Cia. Toula Limnaios, de Berlim) e grupos de outros Estados.
Do Rio, a baiana Ana Vitória, 36, traz os solos "Sobre o Começo e o Fim" e "+ Simples", ambos baseados na obra "Seis Propostas para o Próximo Milênio" (1985), de Ítalo Calvino. Nos espetáculos, Vitória lança um olhar coreográfico sobre as propostas do escritor sobre leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência -Calvino morreu antes de registrar esta última.
O "Dança em Pauta" traz também uma mostra audiovisual. Nela serão exibidos 48 filmes, como "Blush", do coreógrafo belga Wim Vandekeybus, apresentado neste ano no Festival de Cannes.


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