São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

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MÚSICA

Após show improvisado em bar na fronteira da Argentina com o Brasil, banda de Detroit se apresenta no teatro Amazonas

White Stripes exige palcos 'inusitados' para incluir em DVD

LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A PUERTO IGUAZÚ (ARGENTINA)

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

Que o White Stripes nunca foi uma banda de rock "normal" já se havia percebido. Mas agora que os exóticos irmãos-marido-e-mulher Jack e Meg White se armam de um disco estranho e de uma turnê bizarra que envolve o Brasil a coisa ficou engraçada.
Após passar por ruínas na Guatemala e por países como Panamá, Colômbia e México, a dupla de Detroit fez show num jardim de bar na fronteira de Foz do Iguaçu (Paraná) com Puerto Iguazú (Argentina) no dia 26. Hoje, uma performance ímpar ocorre no centenário teatro Amazonas, em Manaus. "Seria muito fácil excursionar pelos EUA e pela Europa", disse Jack em entrevista coletiva ontem em Manaus. "Queria tocar em locais onde as pessoas não tivessem nos visto, pois o público é mais entusiasmado. O teatro Amazonas foi o primeiro lugar em que pensamos."
A "correção de rota" vem na sexta e no sábado, quando o guitarrista Jack e a baterista Meg se apresentam no Rio, onde já estiveram em 2003, e em São Paulo.
Os lugares inusitados foram exigências da banda, que quer colocar tudo num DVD, parte de um pacote que tem como produto principal o quinto disco, "Get Behind me Satan", que será lançado no próximo dia 6. "O título é referência à minha fala preferida de Jesus, dita a Pedro. Gosto da ambigüidade", disse Jack.
A Folha apurou que a saga do White Stripes por essa "América profunda" foi parida quando Jack teve idéia de tocar na Ilha de Páscoa. Avisado por um produtor que "seria impossível fazer show ali, a menos que fosse um luau", o guitarrista mudou seus planos.
Colecionador de estátuas religiosas e de animais empalhados (ele tem uma zebra em casa), Jack gastou US$ 600 (R$ 1.400) em imagens de santos na passagem por ruínas na Guatemala. Na quinta passada, em Puerto Iguazú, na Província argentina de Misiones, Jack e Meg subiram num palco improvisado, coberto com lonas alaranjadas. O local era numa rua semideserta com dois bares. Um deles abrigou o grupo e as 500 testemunhas de três nacionalidades (o Paraguai é logo ali).
Na bateria de Meg, a maçã branca, símbolo bíblico do álbum novo. Deste, na quase hora e meia de show, apenas três músicas: "Blue Orchid", a country "Little Ghost" e "Red Rain", além de punhado de hits e alguns covers. "Mudamos canções em todos os shows."
E "Seven Nation Army", que tem a introdução mais assobiável dos últimos tempos, comandou o "crossover" globalizado do rock com a eletrônica e levou "Elephant" a vender 5 milhões de cópias. Em Puerto Iguazú, "Seven Nation Army" foi a última música da noite. Antes de a dupla voltar para o bis, a platéia emulava com a boca sua introdução. Jack White programou uma luz estrobo violenta para a parte do "refrão instrumental". Acredite, mais do que o show em si, a sensação da luz estrobo estourando nos olhos vai demorar dias para ir embora.
A turnê nada convencional do White Stripes continua hoje no teatro Amazonas, que terá pela primeira vez sua excepcional acústica ocupada por um show de rock (tirando os eruditos, poucos artistas da MPB se apresentaram ali). Inaugurada em 31 de dezembro de 1896, a imponente estrutura receberia ontem "O Barbeiro de Sevilha", no encerramento do 9º Festival Amazonas de Ópera.
Os 629 ingressos colocados à venda foram vendidos em três horas. O restante dos 701 lugares do teatro serão ocupados por convidados, entre eles o governador do Estado, Carlos Eduardo de Souza Braga (PPS), e o prefeito da cidade, Serafim Corrêa (PSB). Tanto nos 266 lugares da platéia como nos 90 camarotes, todos terão que assistir ao show sentados.
A MTV européia, que filmará o show, e a produção do evento foram instruídas a não jogar luz contínua em direção ao teto para não prejudicar as históricas pinturas a óleo do pernambucano Crispim do Amaral. Mais: a amplificação de som terá de ser mais baixa do que o normal dos shows da dupla para não prejudicar os cristais europeus e a decoração.
Cidade que teve Faith no More em 91 e Gloria Gaynor neste ano, Manaus vê hoje White Stripes.


O jornalista Thiago Ney viajou a convite da produtora Mondo

White Stripes
Quando:
sexta, às 22h30, no Claro Hall (av. Ayrton Senna, 3.000, Rio, tel. 0300-789-6846), de R$ 100 a R$ 200; e sábado, às 22h, no Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, SP), de R$ 90 a R$ 200 (venda pelo tel. 0/xx/11/6846-6000; não há mais cota para estudantes)


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