São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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ARTES CÊNICAS

Comandados pela suíça Penelope Wehrli, participantes de oficina ocupam futuro Sesc 24 de Maio, em SP

Cenógrafos mostram espaço feito de sons

DA REPORTAGEM LOCAL

Os inscritos para o workshop de cenografia em São Paulo devem ter estranhado quando conheceram a idéia de Penelope Wehrli, 44, que comandaria o encontro.
Tendo como palco um edifício vazio no centro de São Paulo, a artista e cenógrafa suíça lhes propunha "construir espaços" usando apenas som. O resultado é apresentado a partir de hoje, no futuro Sesc 24 de Maio, no centro.
Ora coletados nos arredores, ora filtrados pelas paredes do prédio da antiga Mesbla (que será recuperado por Paulo Mendes da Rocha para ser unidade do Sesc), os ruídos da cidade serviram de matéria-prima para 14 cenógrafos e artistas reunidos durante a semana passada na ex-loja.
O encontro foi o primeiro do projeto "As Imagens da Cidade como Palcos", idealizado pelo produtor cultural Ricardo Muniz Fernandes, 42. Outros dois cenógrafos estrangeiros devem vir a São Paulo ministrar workshops no futuro Sesc 24 de Maio.
Os inscritos para a oficina de Wehrli, diz Fernandes, devem ter mesmo se espantado. Convocados a "ocupar o espaço", se depararam com alguém que quis "limpar o espaço" -Wehrli pediu até que não houvesse nenhuma outra luz que não a funcional e nenhum objeto além de caixas de som.
Se a situação era nova para os alunos, para a mestra não. Wehrli, que participou de montagens de dança-teatro do austríaco Johann Kresnik, desde 82 desenvolve, em várias cidades do mundo, performances e instalações "site specific" (para locais específicos).
Seu trabalho no Sesc, conta, buscou "refinar a percepção sonora" -propondo aos alunos, por exemplo, gravar um único som na cozinha de suas casas e, depois, reunir todos os ruídos captados para compor o ambiente sonoro de uma cozinha hipotética, "como se fosse uma composição de música concreta", diz.
O foco dos exercícios se expandiu, durante o workshop, para a atenção aos sons da cidade. "Esse edifício é uma pele muito frágil, os barulhos de fora interferem; São Paulo é extremamente barulhenta e o trabalho era realmente usar somente esse som", relata Wehrli.
A intenção, diz a artista, "não é julgar ou fazer uma imagem da cidade" a partir dos elementos sonoros. A proposta do encontro, na verdade, se encaixa numa busca de Wehrli por estabelecer novas possibilidades de interação com a audiência.
"Parece abstrato, mas não é", acredita ela, dizendo que, visto sob o prisma da cenografia, trata-se de incorporar outra vez, de forma renovada, o uso do som ao teatro -que, acredita Ricardo Muniz Fernandes, é pouco explorado como recurso teatral, especialmente no Brasil.
Na quinta passada, quando foi feita esta entrevista, o trabalho seguia, e era ainda impossível saber o que será apresentado aos visitantes a partir de hoje. Mas, intuía-se, seria algo parecido a uma sinfonia da metrópole.
Ou quase isso. "Numa sinfonia há uma ordem, uma sequência. Aqui, o passante participa, reestrutura os sons", explica Wehrli.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)


ILHAS DE REFLEXÃO E UTOPIA - Projeto elaborado a partir de workshop dado por Penelope Wehrli. Onde: Sesc 24 de Maio (r. 24 de Maio, esq. com r. Dom José de Barros, centro). Quando: de seg. a sáb., das 11h às 15h. Até 13/7. Grátis.


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