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ARTES CÊNICAS
Comandados pela suíça Penelope Wehrli, participantes de oficina ocupam futuro Sesc 24 de Maio, em SP
Cenógrafos mostram espaço feito de sons
DA REPORTAGEM LOCAL
Os inscritos para o workshop de
cenografia em São Paulo devem
ter estranhado quando conheceram a idéia de Penelope Wehrli,
44, que comandaria o encontro.
Tendo como palco um edifício
vazio no centro de São Paulo, a artista e cenógrafa suíça lhes propunha "construir espaços" usando
apenas som. O resultado é apresentado a partir de hoje, no futuro
Sesc 24 de Maio, no centro.
Ora coletados nos arredores,
ora filtrados pelas paredes do prédio da antiga Mesbla (que será recuperado por Paulo Mendes da
Rocha para ser unidade do Sesc),
os ruídos da cidade serviram de
matéria-prima para 14 cenógrafos
e artistas reunidos durante a semana passada na ex-loja.
O encontro foi o primeiro do
projeto "As Imagens da Cidade
como Palcos", idealizado pelo
produtor cultural Ricardo Muniz
Fernandes, 42. Outros dois cenógrafos estrangeiros devem vir a
São Paulo ministrar workshops
no futuro Sesc 24 de Maio.
Os inscritos para a oficina de
Wehrli, diz Fernandes, devem ter
mesmo se espantado. Convocados a "ocupar o espaço", se depararam com alguém que quis "limpar o espaço" -Wehrli pediu até
que não houvesse nenhuma outra
luz que não a funcional e nenhum
objeto além de caixas de som.
Se a situação era nova para os
alunos, para a mestra não. Wehrli,
que participou de montagens de
dança-teatro do austríaco Johann
Kresnik, desde 82 desenvolve, em
várias cidades do mundo, performances e instalações "site specific" (para locais específicos).
Seu trabalho no Sesc, conta,
buscou "refinar a percepção sonora" -propondo aos alunos,
por exemplo, gravar um único
som na cozinha de suas casas e,
depois, reunir todos os ruídos
captados para compor o ambiente sonoro de uma cozinha hipotética, "como se fosse uma composição de música concreta", diz.
O foco dos exercícios se expandiu, durante o workshop, para a
atenção aos sons da cidade. "Esse
edifício é uma pele muito frágil, os
barulhos de fora interferem; São
Paulo é extremamente barulhenta
e o trabalho era realmente usar
somente esse som", relata Wehrli.
A intenção, diz a artista, "não é
julgar ou fazer uma imagem da cidade" a partir dos elementos sonoros. A proposta do encontro,
na verdade, se encaixa numa busca de Wehrli por estabelecer novas possibilidades de interação
com a audiência.
"Parece abstrato, mas não é",
acredita ela, dizendo que, visto
sob o prisma da cenografia, trata-se de incorporar outra vez, de forma renovada, o uso do som ao
teatro -que, acredita Ricardo
Muniz Fernandes, é pouco explorado como recurso teatral, especialmente no Brasil.
Na quinta passada, quando foi
feita esta entrevista, o trabalho seguia, e era ainda impossível saber
o que será apresentado aos visitantes a partir de hoje. Mas, intuía-se, seria algo parecido a uma
sinfonia da metrópole.
Ou quase isso. "Numa sinfonia
há uma ordem, uma sequência.
Aqui, o passante participa, reestrutura os sons", explica Wehrli.
(FRANCESCA ANGIOLILLO)
ILHAS DE REFLEXÃO E UTOPIA - Projeto
elaborado a partir de workshop dado por
Penelope Wehrli. Onde: Sesc 24 de Maio
(r. 24 de Maio, esq. com r. Dom José de
Barros, centro). Quando: de seg. a sáb.,
das 11h às 15h. Até 13/7. Grátis.
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