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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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ARTIGO

Mehler é um marco de integridade artística e humana

CONSUELO DE CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Miriam Mehler é uma atriz densa, múltipla, capaz de fazer comédia e drama com radical qualidade. É uma pessoa que lê, ouve, busca, conhece o movimento do mundo, escarafuncha e se entrega ao ver e viver o diferente, o outro.
É também uma mulher sensual, contida como a lady que sua origem lhe ensinou a ser, mas apaixonada como lhe ensinou o ofício. Uma amiga insubstituível em sua ternura e capacidade de partilha, leal e generosa mesmo em tempos de "farinha-pouca-meu pirão-primeiro", verdadeira no limite da luz.
Tenho por Miriam mais do que admiração; gratidão, pois foi por seu voto de confiança que, aos 21 anos, estreei no teatro profissional, com "À Flor da Pele", sob direção do tão querido Flávio Rangel, inaugurando o Paiol que ela acabara de construir com seu ex-marido, Perry Salles.
E foi também com um texto meu, "O Grande Amor de Nossas Vidas", fazendo a difícil Marta, que ela deixou o Paiol.
Conhecemo-nos anos antes, numa assembléia da classe, na antecâmara tensa do AI-5. Um belo dia ela, Luis Gustavo e Plínio Marcos me convidaram para ser contra-regra do espetáculo "Quando as Máquinas Param", de Plínio, na temporada carioca. Fui e entrei no teatro pela porta dos fundos.
Talvez por isso nunca tenha encontrado a saída. Foi no depósito do teatro Jovem, no Rio, que escrevi -sob a batuta exigente de Plínio e de Miriam- minha primeira peça, "À Prova de Fogo", censurada no momento mesmo de sua escrita.
Foi por encomenda de Miriam que escrevi "À Flor da Pele" a toque de caixa, para estrear o Paiol. Foi por sua obstinação que entendi a eternidade oculta sob a fugacidade do ato teatral. Miriam é para mim um marco de integridade artística e humana, mas, sobretudo, o primeiro capítulo de minha história profissional como dramaturga. Honra que espero poder justificar a cada minuto de meu trabalho.
Merda, Mirinha, hoje e sempre.
E um beijo da tua "Tanquinho" -de guerra e de paz.


Consuelo de Castro é dramaturga


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