São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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Ser ou não ser herói?

Divulgação
O super-herói Homem-Aranha


Homem-Aranha enfrenta crise de identidade e luta com vilão mais convincente em seqüência do filme

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Dá para imaginar um super-herói indo lavar suas roupas? É o que faz Peter Parker, o Homem-Aranha, que pode salvar o mundo, mas não consegue realizar com sucesso uma tarefa tão básica como essa. Ele chega a misturar seu uniforme vermelho e azul com as roupas brancas, numa dessas máquinas com moeda, e acaba manchando as peças claras.
A cena absurda faz parte de "Homem-Aranha 2", que estréia amanhã em circuito nacional, tem pré-estréias hoje, em São Paulo, e simboliza a radicalização do personagem "gente-como-a-gente", já impresso nos quadrinhos e aparente no primeiro "Homem-Aranha", lançado em 2002.
Em "Homem-Aranha 2", entretanto, a impressão é que a dramaticidade se torna mais complexa como estratégia de ampliação do público. Afinal, como superar os US$ 820 milhões arrecadados com a primeira versão, que teve um custo de US$ 120 milhões? O novo filme, estima-se, saiu por mais de US$ 180 milhões, fora o marketing, o que eleva o valor para mais de US$ 200 milhões.
Agora, Peter Parker passa por fracassado em grande parte do filme. É demitido logo nas primeiras seqüências, não consegue revelar seu amor por Mary Jane (Kirsten Dunst), é repreendido na faculdade, não consegue pagar o aluguel e, pior, perde até mesmo seus poderes. Um fiasco. "Acho que foi insana a liberdade que me deram nesse segundo filme. Peter Parker é um sofredor, e explorei isso ao máximo, afinal, isso é que o torna um super-herói", contou o diretor Sam Raimi, no estúdio onde foi rodada a produção, em Los Angeles, há duas semanas.
Crise de identidade é outra marca da nova produção e, por conseguinte, padecimento. "Sam adora Peter Parker, mas adora fazê-lo sofrer também", brinca o ator Tobey Maguire, que encarna o herói.
Para compensar os infortúnios, Raimi usa e abusa de seqüências engraçadas, como a da lavanderia, ou quando, ao perder os poderes, o herói precisa entrar num elevador vestido com sua fantasia e é cantado por Hal Sparks, do seriado "Os Assumidos".
Entretanto o lançamento não cresce só em drama e situações cômicas mas também em ação. Para tanto, o trunfo é o novo inimigo, Dr. Octavius/Dr. Octopus, interpretado por Alfred Molina, um mutante que, por uma falha em suas pesquisas, ganha braços metálicos superpoderosos. Essas extensões são responsáveis pela cena mais violenta do filme, ao destruírem os médicos que tratavam de Doc Ock no momento de transformação. "Criei esses braços como bestas, animais com vida própria", diz o diretor.
"Doc Ock é um vilão mais cinematográfico do que o do primeiro filme [o Duende Verde]. Ele tem um caráter multidimensional que torna essa seqüência mais excitante", afirma Maguire. De fato, não só o novo vilão é mais interessante, como seus efeitos especiais são mais convincentes do que os do Homem-Aranha ao voar por Nova York. "Gostaria de ter feito melhor, mas fomos até onde a tecnologia podia chegar", diz Raimi.
É mais engraçado, tem mais drama, mais ação. E romance? Vai se frustar quem espera outro beijo como aquele do Homem-Aranha, pendurado de ponta-cabeça, em Mary Jane no meio de uma chuva torrencial. Há uma razão de bastidores que refreou o romantismo na produção. Maguire e Dunst, que formavam um casal durante as filmagens da primeira versão, separaram-se antes da produção do novo filme. "Achei melhor não forçar a barra entre eles", explica Raimi.
O que há menos, dessa vez, é o nacionalismo exacerbado pós-11 de Setembro da primeira versão. Mas ele vem disseminado de outra forma: "Creio que o 11 de Setembro não é apenas uma questão dos EUA, mas de todo o mundo, de como há heróis por todo lugar, que arriscam suas vidas, como soldados ou bombeiros, e são gente normal como Peter Parker. Assim, mostramos que a vida pode ser dura, mas tem muita gente boa por aí", afirma o produtor do filme Avi Arad.
Arad é, aliás, um dos mais entusiastas de "Homem-Aranha 2", por seu envolvimento com o "boom" de filmes com personagens de quadrinhos. Ele está por trás também de "X-Men" e "Hulk" e participa de novas produções como "Elektra" (em filmagem com Jennifer Garner no papel-título), "O Homem de Ferro" e, é claro, "Homem-Aranha 3", cuja produção já começou.
"O novo filme vai se escrever por ele mesmo, pois há muitos conflitos deixados em aberto. Após a ótima atuação de Molina, com certeza muitos astros de Hollywood vão querer encarnar um vilão", afirma Arad.
Já o diretor não adianta o que vem por aí. "Comecei a escrever, mas ainda é cedo. Talvez os aspectos humanos de Peter Parker cresçam, mas é só uma possibilidade", diz Raimi. Certeza mesmo só que a seqüência vai depender de outro detalhe fundamental: a bilheteria. E essa só começa a contar a partir de agora.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Columbia Pictures


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