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CRÍTICA
Longa cresce com dilema
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Homem-Aranha, Homem-Aranha, tu é homem, mas apanha." A gozação
que Didi Mocó fazia nos tempos
dos Trapalhões com a versão brasileira da trilha do desenho finalmente encontra tradução fílmica.
Nos primeiros 40 minutos de
"Homem-Aranha 2" -a empolgante continuação da adaptação
das HQs de Stan Lee e Steve Ditko-, o aracnídeo vira o Álvaro
de Campos/Fernando Pessoa do
"Poema em Linha Reta": só toma
porrada. Física e sentimental.
Primeiro, Peter Parker (Tobey
Maguire) é despedido pelo dono
da pizzaria em que trabalha como
entregador, por só atrasar. Depois, leva bronca do professor e
corre o risco de tomar bomba. Em
seguida, descobre que Mary Jane
(Kirsten Dunst), a amada, está namorando um astronauta.
Por fim, Harry (James Franco),
o melhor amigo, o estapeia duas
vezes no mesmo dia em que seus
poderes especiais começam a falhar. E não ajuda nada o fato de
seu editor ser J. Jonah Jameson
(J.K. Simmons, hilariante, o melhor ator do filme). Será o fim de
nosso herói? (Sobe a música.)
Não, obviamente, ou ele não seria nosso herói. Mas é no dilema
hamletiano que Peter Parker tem
de continuar a ser ou não ser Homem-Aranha que o filme cresce.
O herói dos nerds, o herói gente-como-a-gente do primeiro filme
-e da série de HQ- dá lugar ao
príncipe hesitante, que deve optar
entre a dor da fama e a alegria insuportável do anonimato.
Por isso "Homem-Aranha 2"
não é só mais um filme de férias.
Por ter no comando Sam Raimi,
que no início da carreira formava
trio com os irmãos Coen, um dos
grandes diretores de sua geração.
E por contar no seu time de roteiristas com o Prêmio Pulitzer
Michael Chabon, autor de uma
das melhores ficções que tem o
universo dos quadrinhos como
pano de fundo, "As Incríveis
Aventuras de Kavalier & Clay".
Juntos, eles dão densidade ao
super-herói, mas tomando o cuidado de não descuidar das cenas
de ação, que afinal são a razão de
ser do filme. Aí se destacam duas
seqüências magistrais.
A primeira mostra o momento
da transformação de um pacato
cientista no vilão da hora, Octopus (Alfred Molina, cada vez mais
parecido com FHC). Depois de
um acidente, ele vai ser operado
para ter seus tentáculos artificiais
retirados. O que se passa na sala
de operações é puro Kubrick.
A outra é a tentativa do herói de
parar um trem desgovernado. Ali
está simbolizado todo o sofrimento que Peter Parker tem em
ser Homem-Aranha, com um bônus: a reação dos passageiros
diante do herói e do vilão é uma
clara homenagem à tripulação do
vôo 93 da United, que derrubou o
avião no dia 11 de Setembro.
Há um senão, que não chega a
empanar o resultado final. Raimi
(ou seus produtores, ou os roteiristas) se deixam contaminar de
leve pelo chauvinismo reinante
nos EUA da Doutrina Bush. O patrão que demite Parker é árabe;
seu senhorio ganancioso é russo.
Homem-Aranha 2
Spider-Man 2
Direção: Sam Raimi
Produção: EUA, 2004
Com: Tobey Maguire, Kirsten Dunst
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