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POLÍTICA CULTURAL
Fórum Cultural Mundial teve participação de Gilberto Gil, de ministra espanhola e de antropóloga argelina
Diversidade de culturas domina Convenção Global
JANAÍNA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A ruptura com um conceito de
desenvolvimento social baseado
apenas em princípios econômicos
foi o tema dominante da abertura
da primeira conferência da Convenção Global, com presença do
ministro da Cultura, Gilberto Gil,
da antropóloga argelina Tassadit
Yacine, da ministra da Cultura da
Espanha, Carmen Poyato, e do
mediador Ruy César. Mas, antes
do debate, previsto para começar
às 9h, público e debatedores passaram por momento de constrangimento com a falha técnica da
tradução simultânea, que provocou atraso de mais de meia hora.
Com o tema "Cultura e Desenvolvimento Social: Partilhando
Responsabilidades", a mesa foi
aberta por Yacine. Ela evocou em
sua fala o antropólogo francês
Claude-Lévi Strauss ao retomar a
idéia de diversidade cultural (presente em todas as discussões).
"Não pode haver uma universalização mundial das culturas no
sentido absoluto. Só pode haver a
coligação de culturas, quando a
máxima é a preservação de suas
originalidades", falou.
Foi Yacine quem introduziu de
forma mais contundente a crítica
à globalização e aos modelos econômicos que, segundo ela, ocupam lugar semelhante aos dos colonizadores, mas com novos e
"poderosos" mecanismos tecnológicos. Por fim, assumiu também
a postura do sociólogo francês
Pierre Bordieu (1930-2002),
opondo-se à ideologia neoliberal.
Logo após sua palavra crítica,
em que ela afirmava também a
violência dos modelos econômicos europeus, principalmente o
francês -em relação à Argélia-,
a ministra da Cultura da Espanha
se pôs a valorizar as identidades
culturais locais, mas enfatizando
"a criação de uma verdadeira cidadania cultural do mundo", que
pode se efetivar por meio de acordos de cooperação.
"O desenvolvimento participante pode superar essa confrontação da relação Norte-Sul e colocar a cultura como questão central", disse. E, antes de encerrar
sua participação, mostrou interesse em firmar acordos de cooperação cultural com o Brasil, que
poderão viabilizar uma maior influência na União Européia.
Gil, além de expressar a intenção de fazer dessa edição do fórum "o lugar da criatividade, do
território livre e do sincretismo",
concordou que o caminho para a
cultura como desenvolvimento
social é também o da cooperação.
"Isso deve se firmar principalmente entre Sul-Sul (América Latina, África, Ásia, Oriente Médio),
mas é importante a ação estratégica com áreas centrais como a Espanha." "O importante é dar a
abordagem ampla ao homem.
Não existe o homem social, o econômico, o cultural; ele existe, e o
desenvolvimento é semelhante a
esse processo: tudo ao mesmo
tempo agora, como disse Arnaldo
Antunes", completou.
A diversidade cultural permeou
todas as falas ontem e anteontem,
na abertura oficial do fórum, no
Teatro Municipal, que contou
com a presença do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, de Gilberto Gil, do governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy,
e de outros representantes oficiais
de entidades internacionais. Lula
disse que "os países em desenvolvimento, para se emanciparem,
devem procurar uma expressão
cultural diferenciada".
"Assim, a cultura e o produto
cultural podem também resultar
em geração de renda e emprego",
discursou. Além do discurso, disse que a rádio Nacional será reinaugurada e que deve voltar a
contribuir com a difusão cultural.
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