São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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POLÍTICA CULTURAL

Fórum Cultural Mundial teve participação de Gilberto Gil, de ministra espanhola e de antropóloga argelina

Diversidade de culturas domina Convenção Global

JANAÍNA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ruptura com um conceito de desenvolvimento social baseado apenas em princípios econômicos foi o tema dominante da abertura da primeira conferência da Convenção Global, com presença do ministro da Cultura, Gilberto Gil, da antropóloga argelina Tassadit Yacine, da ministra da Cultura da Espanha, Carmen Poyato, e do mediador Ruy César. Mas, antes do debate, previsto para começar às 9h, público e debatedores passaram por momento de constrangimento com a falha técnica da tradução simultânea, que provocou atraso de mais de meia hora.
Com o tema "Cultura e Desenvolvimento Social: Partilhando Responsabilidades", a mesa foi aberta por Yacine. Ela evocou em sua fala o antropólogo francês Claude-Lévi Strauss ao retomar a idéia de diversidade cultural (presente em todas as discussões). "Não pode haver uma universalização mundial das culturas no sentido absoluto. Só pode haver a coligação de culturas, quando a máxima é a preservação de suas originalidades", falou.
Foi Yacine quem introduziu de forma mais contundente a crítica à globalização e aos modelos econômicos que, segundo ela, ocupam lugar semelhante aos dos colonizadores, mas com novos e "poderosos" mecanismos tecnológicos. Por fim, assumiu também a postura do sociólogo francês Pierre Bordieu (1930-2002), opondo-se à ideologia neoliberal.
Logo após sua palavra crítica, em que ela afirmava também a violência dos modelos econômicos europeus, principalmente o francês -em relação à Argélia-, a ministra da Cultura da Espanha se pôs a valorizar as identidades culturais locais, mas enfatizando "a criação de uma verdadeira cidadania cultural do mundo", que pode se efetivar por meio de acordos de cooperação.
"O desenvolvimento participante pode superar essa confrontação da relação Norte-Sul e colocar a cultura como questão central", disse. E, antes de encerrar sua participação, mostrou interesse em firmar acordos de cooperação cultural com o Brasil, que poderão viabilizar uma maior influência na União Européia.
Gil, além de expressar a intenção de fazer dessa edição do fórum "o lugar da criatividade, do território livre e do sincretismo", concordou que o caminho para a cultura como desenvolvimento social é também o da cooperação. "Isso deve se firmar principalmente entre Sul-Sul (América Latina, África, Ásia, Oriente Médio), mas é importante a ação estratégica com áreas centrais como a Espanha." "O importante é dar a abordagem ampla ao homem. Não existe o homem social, o econômico, o cultural; ele existe, e o desenvolvimento é semelhante a esse processo: tudo ao mesmo tempo agora, como disse Arnaldo Antunes", completou.
A diversidade cultural permeou todas as falas ontem e anteontem, na abertura oficial do fórum, no Teatro Municipal, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Gilberto Gil, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e de outros representantes oficiais de entidades internacionais. Lula disse que "os países em desenvolvimento, para se emanciparem, devem procurar uma expressão cultural diferenciada".
"Assim, a cultura e o produto cultural podem também resultar em geração de renda e emprego", discursou. Além do discurso, disse que a rádio Nacional será reinaugurada e que deve voltar a contribuir com a difusão cultural.


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