São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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ARTES VISUAIS

MULTIMÍDIA

Ideal é "desviar" uso tradicional das máquinas

Exposição em São Paulo politiza a união entre arte e tecnologia

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Passada a euforia inicial de que, sim, computadores fazem arte, é chegada a hora de politizar o debate. Que conseqüências traz a tão recente quanto festejada aliança entre arte e tecnologia?
Essa é a pergunta que "Emoção Art.ficial 2.0 - Divergências Tecnológicas" pretende levantar durante os quase três meses em que a mostra, que abre hoje no Instituto Itaú Cultural, fica em cartaz.
"As exposições de arte e tecnologia no mundo costumam ser muito apologéticas da tecnologia", critica Arlindo Machado, 54, um dos curadores da mostra, que reúne ao todo 30 obras, nacionais e internacionais, inéditas ou documentais, além de uma série de simpósios, que acontece de amanhã até o dia 5. "O artista que trabalha nesse campo sabe que a ferramenta que tem na mão não foi feita para produzir arte."
Em bom português, trata-se de artistas-piratas, que reprogramam um computador para a fabricação de seus mitos particulares, trocam a arma de fogo de um game de última geração por um pênis, usam os conhecimentos da engenharia genética para a criação de seres inexistentes na natureza ou, ainda, invertem a lógica das câmeras de vigilância interna.
Consolidada apenas a partir de meados da década de 90, com a popularização da internet e de outros "gadgets" eletrônicos, a nova produção empresta ideais da arte da década de 70. Não por acaso homenageada na exposição por meio de trabalhos de veteranos, como Fred Forest, um dos fundadores do Coletivo Arte Sociológica, o recifense Paulo Bruscky, expoente do movimento arte-postal no Brasil, e o catalão Antoni Muntadas, cuja individual abre na segunda na galeria Luisa Strina.
"Naquela época, eles já trabalhavam com as mídias de massa, como TV, fax, satélites, desviando-as de seu uso convencional", explica Gilberto Prado, 49, que assina "coletivamente" a curadoria com Machado e com o australiano Jeffrey Shaw, ex-diretor do centro de mídia alemão ZKM.
O grifo no coletivo é também uma das principais características da exposição. Ainda que creditada a um ou dois artistas, a maior parte das obras requer um trabalho conjunto e constante entre técnicos e idealizadores. "É cada vez mais comum encontrarmos artistas que sabem trabalhar em java [linguagem de programação], técnicos com uma boa noção de estética e programadores que façam modelagem em 3D", afirma Marcos Cuzziol, 41, diretor do centro de mídia Itaulab.
"Pouco tempo atrás, era muito pequeno o contingente de artistas que trabalhavam com tecnologia. Hoje eu me pergunto: que artista não trabalha? De repente, a gente se dá conta de que a arte eletrônica não é mais um gênero entre tantos outros. A arte de nosso tempo é digital", crava Machado.


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