São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

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POLÍTICA CULTURAL

Filme de Cacá Diegues, protagonista da polêmica sobre critérios de patrocínio, é selecionado pela empresa

Petrobras premia crítico do "dirigismo"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

A Petrobras decidiu patrocinar com R$ 1 milhão "O Maior Amor do Mundo", próximo filme do cineasta Cacá Diegues, que protagonizou, ao lado do produtor Luiz Carlos Barreto, a maior polêmica sobre a concessão de patrocínio por empresas estatais no governo Lula da Silva, em 2003.
Barreto não teve projetos incluídos entre os 24 longas-metragens aos quais a Petrobras destinará um total de R$ 18,4 milhões. A lista dos filmes escolhidos foi divulgada ontem.
Entre os veteranos do mercado audiovisual, estão Daniel Filho, Jorge Furtado, Lúcia Murat, Sergio Rezende, Francisco Ramalho Jr.. Mas a lista de premiados é pródiga em diretores em início de carreira: Gustavo Spolidoro, Laís Bodanzky, Beto Brant, Guta Ramos, Phillippe Barcinski, Anna Muylaert, entre outros.
A comissão que selecionou os projetos é formada pelos cineastas Pola Ribeiro (BA), Roberto Gervitz (SP) e Sérgio Silva (RS), pela montadora Vânia Debs (SP), pelos jornalistas Marcelo Cajueiro (RJ) e Luiz Carlos Merten (SP) e pelo assessor do Ministério da Cultura Alfredo Manevy.
"Fico feliz com a seleção de nosso filme pela Petrobras. Isso vai permitir a sua produção. A lista de filmes anunciada é democrática e atende quase todas as tendências do cinema brasileiro", disse Diegues à Folha. "O ideal é que os outros possíveis mecanismos de financiamento à produção funcionem a pleno vapor, para que ninguém deixe de ter o seu filme produzido."
O cineasta havia apontado "dirigismo cultural" nos critérios de patrocínio estabelecidos pela Secom (Secretaria de Comunicação), do ministro Luiz Gushiken, divulgados no início de 2003.
Pelas regras da Secom, os projetos patrocinados deveriam oferecer "contrapartidas sociais" e apresentar sintonia com políticas de governo, como o programa Fome Zero.
A polêmica fez com que o Ministério da Cultura, de Gilberto Gil, que era contrário aos critérios da Secom, assumisse a formulação da política de patrocínio federal. Gil acentuou os objetivos de regionalizar e ampliar o acesso à distribuição de recursos de patrocínio estatal. Ao divulgar sua política, o ministro anunciou "o fim do obscuro balcão voltado a uma clientela privilegiada de amigos do rei, centrada em duas metrópoles [Rio e SP]".
Dos 24 filmes que a Petrobras patrocinará em 2005, nove são produções do Rio de Janeiro, nove de São Paulo, dois filmes do Rio Grande do sul, dois do Distrito Federal, um de Pernambuco e um da Bahia.
O crítico de cinema José Carlos Avellar, consultor do programa de cinema da Petrobras, afirma que a seleção é coerente com a configuração do mercado de cinema brasileiro, cujas atividades se concentram no eixo Rio-SP.
"Ninguém ignora que existe concentração [de produção audiovisual] no eixo Rio-SP. Onde está a maior parte das produtoras e do mercado de cinema? Onde está a grande emissora de TV?"
Avellar afirma que a Petrobras "não tem a pretensão de dizer à atividade [cinematográfica] o que ela deve fazer. Quem regula a atividade é a própria atividade".
O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, havia afirmado que a seleção da Petrobras privilegiaria filmes orçados em até R$ 2 milhões, as chamadas produções de baixo orçamento.
A maioria dos filmes escolhidos, no entanto, tem orçamento acima de R$ 4 milhões. O assessor especial do MinC Sérgio Sá Leitão explicou a diferença dizendo que "houve preocupação com a busca do equilíbrio entre os critérios de mérito (qualidade dos projetos), abrangência (não apenas produções do Rio e de SP) e mercado (potencial de público dos filmes)".
Segundo relatório da Ancine (Agência Nacional do Cinema), "O Maior Amor do Mundo" está orçado em R$ 9,6 milhões. Outros exemplos: "Miguilim" (R$ 4,7 milhões), "Os Desvalidos" (R$ 4,7 milhões), "Andar às Vozes" (R$ 4,1 milhões), "Federal" (R$ 4,8 milhões), "União Fraterna" (R$ 4,3 milhões), "Se Eu Fosse Você" (R$ 5,7 milhões).
O patrocínio à produção de filmes pela Petrobras varia entre R$ 600 mil e R$ 1 milhão. As faixas levam em conta o currículo das produtoras e dos cineastas.


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