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POLÍTICA CULTURAL
Filme de Cacá Diegues, protagonista da polêmica sobre critérios de patrocínio, é selecionado pela empresa
Petrobras premia crítico do "dirigismo"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A Petrobras decidiu patrocinar
com R$ 1 milhão "O Maior Amor
do Mundo", próximo filme do cineasta Cacá Diegues, que protagonizou, ao lado do produtor
Luiz Carlos Barreto, a maior polêmica sobre a concessão de patrocínio por empresas estatais no governo Lula da Silva, em 2003.
Barreto não teve projetos incluídos entre os 24 longas-metragens
aos quais a Petrobras destinará
um total de R$ 18,4 milhões. A lista dos filmes escolhidos foi divulgada ontem.
Entre os veteranos do mercado
audiovisual, estão Daniel Filho,
Jorge Furtado, Lúcia Murat, Sergio Rezende, Francisco Ramalho
Jr.. Mas a lista de premiados é pródiga em diretores em início de
carreira: Gustavo Spolidoro, Laís
Bodanzky, Beto Brant, Guta Ramos, Phillippe Barcinski, Anna
Muylaert, entre outros.
A comissão que selecionou os
projetos é formada pelos cineastas Pola Ribeiro (BA), Roberto
Gervitz (SP) e Sérgio Silva (RS),
pela montadora Vânia Debs (SP),
pelos jornalistas Marcelo Cajueiro
(RJ) e Luiz Carlos Merten (SP) e
pelo assessor do Ministério da
Cultura Alfredo Manevy.
"Fico feliz com a seleção de nosso filme pela Petrobras. Isso vai
permitir a sua produção. A lista
de filmes anunciada é democrática e atende quase todas as tendências do cinema brasileiro", disse
Diegues à Folha. "O ideal é que os
outros possíveis mecanismos de
financiamento à produção funcionem a pleno vapor, para que
ninguém deixe de ter o seu filme
produzido."
O cineasta havia apontado "dirigismo cultural" nos critérios de
patrocínio estabelecidos pela Secom (Secretaria de Comunicação), do ministro Luiz Gushiken,
divulgados no início de 2003.
Pelas regras da Secom, os projetos patrocinados deveriam oferecer "contrapartidas sociais" e
apresentar sintonia com políticas
de governo, como o programa
Fome Zero.
A polêmica fez com que o Ministério da Cultura, de Gilberto
Gil, que era contrário aos critérios
da Secom, assumisse a formulação da política de patrocínio federal. Gil acentuou os objetivos de
regionalizar e ampliar o acesso à
distribuição de recursos de patrocínio estatal. Ao divulgar sua política, o ministro anunciou "o fim
do obscuro balcão voltado a uma
clientela privilegiada de amigos
do rei, centrada em duas metrópoles [Rio e SP]".
Dos 24 filmes que a Petrobras
patrocinará em 2005, nove são
produções do Rio de Janeiro, nove de São Paulo, dois filmes do
Rio Grande do sul, dois do Distrito Federal, um de Pernambuco e
um da Bahia.
O crítico de cinema José Carlos
Avellar, consultor do programa
de cinema da Petrobras, afirma
que a seleção é coerente com a
configuração do mercado de cinema brasileiro, cujas atividades se
concentram no eixo Rio-SP.
"Ninguém ignora que existe
concentração [de produção audiovisual] no eixo Rio-SP. Onde
está a maior parte das produtoras
e do mercado de cinema? Onde
está a grande emissora de TV?"
Avellar afirma que a Petrobras
"não tem a pretensão de dizer à
atividade [cinematográfica] o que
ela deve fazer. Quem regula a atividade é a própria atividade".
O secretário do Audiovisual do
Ministério da Cultura, Orlando
Senna, havia afirmado que a seleção da Petrobras privilegiaria filmes orçados em até R$ 2 milhões,
as chamadas produções de baixo
orçamento.
A maioria dos filmes escolhidos,
no entanto, tem orçamento acima
de R$ 4 milhões. O assessor especial do MinC Sérgio Sá Leitão explicou a diferença dizendo que
"houve preocupação com a busca
do equilíbrio entre os critérios de
mérito (qualidade dos projetos),
abrangência (não apenas produções do Rio e de SP) e mercado
(potencial de público dos filmes)".
Segundo relatório da Ancine
(Agência Nacional do Cinema),
"O Maior Amor do Mundo" está
orçado em R$ 9,6 milhões. Outros
exemplos: "Miguilim" (R$ 4,7 milhões), "Os Desvalidos" (R$ 4,7
milhões), "Andar às Vozes" (R$
4,1 milhões), "Federal" (R$ 4,8
milhões), "União Fraterna" (R$
4,3 milhões), "Se Eu Fosse Você"
(R$ 5,7 milhões).
O patrocínio à produção de filmes pela Petrobras varia entre R$
600 mil e R$ 1 milhão. As faixas levam em conta o currículo das
produtoras e dos cineastas.
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