São Paulo, sexta-feira, 01 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MPB

Convidados "consertam" canções

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Música tem dessas coisas: três senhoras, no interior da Paraíba, que vivem de esmola, são cegas, analfabetas e desafinadas são capazes de fazer música das mais lindas e emocionantes possível, tristes lamentos sobre a vida, a morte, o amor e a solidão. Para provar para o resto do mundo que elas não são lenda urbana, já há o filme: "A Pessoa É Para o que Nasce". Agora, para transformá-las ainda mais em ícone pop e levar sua música para dentro das casas, há o disco.
Projeto desenvolvido pelos diretores Roberto Berliner e Leonardo Domingues ao lado do músico pernambucano Lula Queiroga, o disco leva as músicas das ceguinhas a um outro patamar. Além das próprias interpretações de Poroca, Maroca e Indaiá (as três estrelas do filme e do disco), o CD, duplo, vem com um segundo álbum chamado "Releituras". São músicos convidados reinterpretando, "consertando" as canções interpretadas originalmente pelas ceguinhas cantantes.
Enquanto o CD1 traz gravações diretas, feitas durante as filmagens, intercaladas com depoimentos delas e alguns sons criados por Hermeto Pascoal, o CD2 tem impressionante lista de convidados: Mombojó, Pato Fu, Teresa Cristina, Zé Renato, Pedro Luís e a Parede, Junio Barreto, Lirinha (do Cordel do Fogo Encantado), Otto, Lenine, Paralamas do Sucesso, B Negão, Eddie, Nervoso, Silvério Pessoa, Fausto Fawcett, Elba Ramalho.

Parcerias
Os produtores contam que a idéia para o disco surgiu no começo do ano e de lá até o projeto tomar forma foram apenas poucos meses. Todas as faixas foram gravadas de março a abril de 2005, reflexo da agilidade possível do mundo da produção musical contemporânea.
Os músicos foram convidados, e as músicas, enviadas para eles. De cara, todos toparam. Apenas as bandas Los Hermanos e Skank se interessaram, mas não puderam participar por problemas de agenda.
Queiroga, que participou de quase todas as gravações, comenta as releituras: "As ceguinhas ouvem rádio, cantadores, cantigas, aprendem e recombinam tudo, criam suas próprias músicas. Agora, os convidados recombinam tudo novamente. É uma maneira de homenageá-las, torná-las compositoras. Todos quiseram achar novas maneiras de interpretar as músicas. Não tem uma faixa igual a outra no CD."
Ele continua: "Quase todo mundo topou na hora, e quem não pôde pediu desculpa. Até porque é uma causa muito nobre. Depois que você entra no universo delas, todo mundo grava com sorriso no rosto. O Felipe S., do Mombojó, fez um comentário maravilhoso. Eu disse a ele que estava impressionado, que todos estavam topando muito facilmente, e ele respondeu: "Lula, isso é medo de ir pro inferno, imagina fazer algo pra essas três figuras" [risos]."
Realmente, tudo envolvendo o projeto soa altamente emocional e inspirador para os envolvidos: os resultados são uniformemente bons. No final, da trilha sonora pouco provável de um filme sobre as três ceguinhas cantoras de Campina Grande, surgiu um dos grandes lançamentos dos últimos tempos: pela proposta, pela carga emocional e, principalmente, pelo resultado.


A Pessoa É Para o que Nasce
    
Artista: ceguinhas de Campina Grande + releituras
Lançamento: TvZero/ Luni/ Tratore
Quanto: R$ 35, em média


Texto Anterior: CDs - Folk: Cantoras inspiram cenário das lágrimas na música pop
Próximo Texto: Nas lojas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.