PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Alan Rudolph , o diretor, pisa em área já ocupada em "A Vida Secreta dos Dentistas". Bom herdeiro que o cinema narrativo é do romance burguês do século 19, o relacionamento e a família estiveram na pauta de inúmeros trabalhos. É um terreno um tanto minado, pois o cinema indie americano não poucas vezes usou o relacionamento para expor uma visão próxima do "real".
Neste "A Vida...", temos David, casado há dez anos com Dana, ambos dentistas bem-sucedidos e pais de três crianças. O casamento está rateando, e logo David desconfia que sua mulher o está traindo -a dúvida será um fator presente, ainda que não o motor do filme. O que está em questão é a família examinada num consultório, e cujo diagnóstico aponta dentes que sofreram desgaste pelo tempo. Metáfora um tanto óbvia, que se revela logo na introdução. Seus comentários serão lançados por um alter ego, que freqüenta seus delírios othellianos.
Eis outra opção narrativa meio desandada e que divide o filme entre dois mundos, o das alucinações e o da realidade. Mas sem que esses devaneios intervenham na vida dos personagens, pois será no plano físico que o casamento terá de ser resolvido.
A distopia não esconde um certo desespero em restaurar a célula familiar burguesa. Nessa linha, mais pertinente é o "Guerra dos Mundos" de Steven Spielberg, que faz uma fábula sombria sobre uma família que perambula perplexa por um país em ruínas.

A Vida Secreta dos Dentistas
The Secret Lives of Dentists
  
Direção: Alan Rudolph
Produção: EUA, 2002
Com: Campbell Scott, Denis Leary
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco, HSBC Belas Artes e Lumière