São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

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MÚSICA

Crítica/"Cinema"

Cachorro Grande assume riscos em disco "esquisitão"

Cantos de gaivotas, ventos uivando e som de motocicleta estão em faixas do CD

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A banda inglesa Supergrass sempre serviu de norte para os gaúchos da Cachorro Grande. Das referências sonoras ao modo de montar o setlist para um show. Agora, como os britânicos em "Road to Rouen" (2005), os sulistas lançam um quinto álbum esquisitão, que pouco lembra os trabalhos anteriores. "Cinema" traz canções registradas num estúdio com equipamento analógico, com Rafael Ramos na produção -eles são parceiros desde "Pista Livre" (2005).
"Estávamos ouvindo muito space rock. Pink Floyd, Jethro Tull, aquelas coisas com teclados espaciais, guitarras cheias de eco", revela o guitarrista Marcelo Gross. "Nosso disco ficou com um clima mais anos 70, diferente dos quatro anteriores, que eram mais anos 60."
Algumas faixas de "Cinema" ganharam sons não convencionais, como cantos de gaivotas, ventos uivando e barulho de motocicleta. Após a mixagem final, Gross e o vocalista Beto Bruno se questionaram sobre a complexidade do que criaram.
"Rolou aquele clima de gente que bebeu demais na noite anterior e acorda dizendo "acho que me passei'", conta Bruno. "Mas o curioso é que quanto mais maluca a banda fica, mais as pessoas gostam", diz Gross.
Apesar dos comentários positivos nos primeiros dias de disco nas lojas, os integrantes se preocupam com o que sua base de fãs vai pensar. Muitos podem interpretar que esse é o trabalho de uma "banda madura", o que no universo roqueiro corre o risco de soar pejorativo.
Mas o problema de "Cinema" não está no amadurecimento ou nos efeitos sonoros. Desde o terceiro álbum, o primeiro pela gravadora Deckdisc, a Cachorro Grande tem dificuldades para montar repertório, lançando discos irregulares, alternando momentos inspirados com faixas esquecíveis. Seus dois primeiros CDs, lançados de maneira independente, eram praticamente perfeitos.
Ainda assim, é louvável que a banda assuma riscos e experimente caminhos diferentes. "Não dá para ficar como o Ramones, lançando um disco igual ao outro", afirma Gross. Em "Cinema", ele assina duas faixas com guitarras que remetem ao Led Zeppelin. Depois de abrir a última turnê do Oasis pelo Brasil -com Liam Gallagher assistindo a dois shows de cima do palco-, o quinteto estuda excursionar pelo exterior com o Supergrass.
Os grupos trocam figurinhas desde que se apresentaram no festival Campari Rock, em Atibaia (SP), em 2006. Na ocasião, o tecladista do Supergrass, Rob Coombes, se apaixonou por uma fã da Cachorro Grande. O romance acabou em casamento no começo deste ano, com o vocalista Gaz Coombes, Marcelo Gross e Beto Bruno como padrinhos. A antiga relação de admirador e ídolo hoje é de compadres.


CINEMA

Artista: Cachorro Grande
Gravadora: Deckdisc
Quanto: R$ 24,90
Avaliação: regular




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