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MÚSICA
Crítica/"Cinema"
Cachorro Grande assume riscos em disco "esquisitão"
Cantos de gaivotas, ventos uivando e som de motocicleta estão em faixas do CD
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A banda inglesa Supergrass sempre serviu de
norte para os gaúchos
da Cachorro Grande. Das referências sonoras ao modo de
montar o setlist para um show.
Agora, como os britânicos em
"Road to Rouen" (2005), os sulistas lançam um quinto álbum
esquisitão, que pouco lembra
os trabalhos anteriores. "Cinema" traz canções registradas
num estúdio com equipamento
analógico, com Rafael Ramos
na produção -eles são parceiros desde "Pista Livre" (2005).
"Estávamos ouvindo muito
space rock. Pink Floyd, Jethro
Tull, aquelas coisas com teclados espaciais, guitarras cheias
de eco", revela o guitarrista
Marcelo Gross. "Nosso disco ficou com um clima mais anos
70, diferente dos quatro anteriores, que eram mais anos 60."
Algumas faixas de "Cinema"
ganharam sons não convencionais, como cantos de gaivotas,
ventos uivando e barulho de
motocicleta. Após a mixagem
final, Gross e o vocalista Beto
Bruno se questionaram sobre a
complexidade do que criaram.
"Rolou aquele clima de gente
que bebeu demais na noite anterior e acorda dizendo "acho
que me passei'", conta Bruno.
"Mas o curioso é que quanto
mais maluca a banda fica, mais
as pessoas gostam", diz Gross.
Apesar dos comentários positivos nos primeiros dias de
disco nas lojas, os integrantes
se preocupam com o que sua
base de fãs vai pensar. Muitos
podem interpretar que esse é o
trabalho de uma "banda madura", o que no universo roqueiro
corre o risco de soar pejorativo.
Mas o problema de "Cinema"
não está no amadurecimento
ou nos efeitos sonoros. Desde o
terceiro álbum, o primeiro pela
gravadora Deckdisc, a Cachorro Grande tem dificuldades para montar repertório, lançando
discos irregulares, alternando
momentos inspirados com faixas esquecíveis. Seus dois primeiros CDs, lançados de maneira independente, eram praticamente perfeitos.
Ainda assim, é louvável que a
banda assuma riscos e experimente caminhos diferentes.
"Não dá para ficar como o Ramones, lançando um disco
igual ao outro", afirma Gross.
Em "Cinema", ele assina duas
faixas com guitarras que remetem ao Led Zeppelin.
Depois de abrir a última turnê do Oasis pelo Brasil -com
Liam Gallagher assistindo a
dois shows de cima do palco-,
o quinteto estuda excursionar
pelo exterior com o Supergrass.
Os grupos trocam figurinhas
desde que se apresentaram no
festival Campari Rock, em Atibaia (SP), em 2006.
Na ocasião, o tecladista do
Supergrass, Rob Coombes, se
apaixonou por uma fã da Cachorro Grande. O romance acabou em casamento no começo
deste ano, com o vocalista Gaz
Coombes, Marcelo Gross e Beto Bruno como padrinhos. A
antiga relação de admirador e
ídolo hoje é de compadres.
CINEMA
Artista: Cachorro Grande
Gravadora: Deckdisc
Quanto: R$ 24,90
Avaliação: regular
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