|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/DVD/"Maysa - Quando Fala o Coração"
Minissérie transforma vida intensa em obra esquemática
Diretor Jayme Monjardim faz acerto de contas em público com a mãe, Maysa
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quem quiser conhecer a
fundo a história de
Maysa (1936-1977) deve ler a excepcional
biografia "Maysa - Só numa
Multidão de Amores", de Lira
Neto.
A minissérie "Maysa - Quando Fala o Coração", que foi ao
ar em janeiro passado na Globo
e está agora em DVD, é só um
painel que usa expedientes esquemáticos para fazer caber
em nove horas 40 anos de uma
vida tão intensa.
O grande acontecimento da
série é o acerto de contas que o
diretor, Jayme Monjardim, faz
com a mãe, que lhe foi tão ausente. É estranho ver na maior
emissora de TV aberta do país
um exercício que serviria melhor ao cinema ou ao teatro.
Mas é claro que não foi para
ajudar na terapia de Monjardim que a Globo topou realizar
uma produção tão cara, com reconstituições de época, locações no exterior e cenas que
exigiam a destreza de um diretor de fotografia como Affonso
Beato (trabalhos com Pedro Almodóvar e Stephen Frears).
A vida de Maysa já é um roteiro pronto. De uma família
tradicional do Espírito Santo,
casou-se aos 18 anos com André Matarazzo, 17 anos mais velho e integrante da então mais
célebre das ricas famílias de
São Paulo. Insistindo em ser
cantora -e compositora de
músicas como "Meu Mundo
Caiu"-, perdeu o apreço dos
Matarazzo e o marido, com
quem teve um filho, Jayme.
Dedicou-se à carreira de
enorme sucesso, à bebida, às
tentativas de suicídio, aos escândalos -muitos oferecidos
por ela à imprensa, a quem culpava depois por tudo, como a
série não cansa de repisar- e
aos amores fugazes muito mais
do que ao menino.
Com seus dois filhos (André e
Jayme Matarazzo) lhe representando, numa superposição
que torna o acerto de contas
mais interessante, Jayme Monjardim cobra ter sido praticamente largado num internato
da Espanha e crescido como órfão, já que o pai morreu cedo. A
cena real do final, em que eles
pedem perdão mútuo, é um alívio para diretor e espectador,
mas também incomoda, pois
Maysa morreu logo depois e os
tempos de paz não vieram.
Larissa Maciel usa os grandes olhos e a voz mais grave do
que tem de fato como trunfos
para construir a protagonista.
Manoel Carlos e Angela Chaves agem como roteiristas de
um "filme de diretor", sendo
discretos. Usam bem trechos
do diário da cantora, mas simplificam demais a trama, superestimando, por exemplo, o papel de Ronaldo Bôscoli. O uso
de chavões como "o que me alimenta é a arte" e o ritmo arrastado da metade final da série
também esfriam a narrativa de
uma vida para lá de quente.
MAYSA - QUANDO FALA O
CORAÇÃO
Distribuidora: Globo Marcas/Som
Livre
Quanto: R$ 70 (3 DVDs), em média
Classificação: não indicado a menores
de 16 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: Internet: PirateBay vai ser vendido e pretende legalizar conteúdo Próximo Texto: Televisão/Crítica: Falta encenação em filmes de Eastwood e Allen Índice
|