São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

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Crítica/DVD/"Maysa - Quando Fala o Coração"

Minissérie transforma vida intensa em obra esquemática

Diretor Jayme Monjardim faz acerto de contas em público com a mãe, Maysa

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Quem quiser conhecer a fundo a história de Maysa (1936-1977) deve ler a excepcional biografia "Maysa - Só numa Multidão de Amores", de Lira Neto.
A minissérie "Maysa - Quando Fala o Coração", que foi ao ar em janeiro passado na Globo e está agora em DVD, é só um painel que usa expedientes esquemáticos para fazer caber em nove horas 40 anos de uma vida tão intensa.
O grande acontecimento da série é o acerto de contas que o diretor, Jayme Monjardim, faz com a mãe, que lhe foi tão ausente. É estranho ver na maior emissora de TV aberta do país um exercício que serviria melhor ao cinema ou ao teatro.
Mas é claro que não foi para ajudar na terapia de Monjardim que a Globo topou realizar uma produção tão cara, com reconstituições de época, locações no exterior e cenas que exigiam a destreza de um diretor de fotografia como Affonso Beato (trabalhos com Pedro Almodóvar e Stephen Frears).
A vida de Maysa já é um roteiro pronto. De uma família tradicional do Espírito Santo, casou-se aos 18 anos com André Matarazzo, 17 anos mais velho e integrante da então mais célebre das ricas famílias de São Paulo. Insistindo em ser cantora -e compositora de músicas como "Meu Mundo Caiu"-, perdeu o apreço dos Matarazzo e o marido, com quem teve um filho, Jayme.
Dedicou-se à carreira de enorme sucesso, à bebida, às tentativas de suicídio, aos escândalos -muitos oferecidos por ela à imprensa, a quem culpava depois por tudo, como a série não cansa de repisar- e aos amores fugazes muito mais do que ao menino.
Com seus dois filhos (André e Jayme Matarazzo) lhe representando, numa superposição que torna o acerto de contas mais interessante, Jayme Monjardim cobra ter sido praticamente largado num internato da Espanha e crescido como órfão, já que o pai morreu cedo. A cena real do final, em que eles pedem perdão mútuo, é um alívio para diretor e espectador, mas também incomoda, pois Maysa morreu logo depois e os tempos de paz não vieram.
Larissa Maciel usa os grandes olhos e a voz mais grave do que tem de fato como trunfos para construir a protagonista. Manoel Carlos e Angela Chaves agem como roteiristas de um "filme de diretor", sendo discretos. Usam bem trechos do diário da cantora, mas simplificam demais a trama, superestimando, por exemplo, o papel de Ronaldo Bôscoli. O uso de chavões como "o que me alimenta é a arte" e o ritmo arrastado da metade final da série também esfriam a narrativa de uma vida para lá de quente.


MAYSA - QUANDO FALA O CORAÇÃO

Distribuidora: Globo Marcas/Som Livre
Quanto: R$ 70 (3 DVDs), em média
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: regular




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