São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA COMÉDIA

"Rebú" diverte com folhetim exagerado

Montagem da cia. Teatro Independente se vale do excesso para escancarar hipocrisia nas relações familiares


TUDO SUGERE EXAGERO. DA MÃO QUE ACARICIA AO TAPA NA CARA, AS RELAÇÕES AMOROSAS SEGUEM ENTRE AFAGOS E SUPETÕES


CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Depois do sucesso de "Cachorro!", a cia. carioca Teatro Independente volta a São Paulo com "Rebú", espetáculo desenhado com situações tempestuosas e diálogos cujo vigor relembra "Melodrama", peça da Companhia dos Atores dirigida por Enrique Diaz há mais de década.
Escrito pelo dramaturgo Jô Bilac, o texto tem o sabor e a graça de uma história folhetinesca escrita por Nelson Rodrigues, porém com o volume irônico modulado à potência máxima.
Na cena de abertura, Vladine recita uma carta dramática endereçada ao irmão Matias (Paulo Verlings), em que se declara seriamente enferma e anuncia sua iminente visita para os devidos cuidados. Conclui com saudações cerimoniosas à cunhada Branca, sua futura rival.
Em seguida, descobrimos que Branca é Bianca, falha reveladora de que a cortesia exagerada de Vladine nada mais é do que sua primeira discreta facada. "Tenho certeza de que vocês duas vão se dar muito bem", prevê Matias em agonia.
Além das inúmeras alergias que farão sua cunhada Bianca esfregar toda a casa, Vladine traz consigo Nataniel, figura dramática excêntrica, cuja presença fundamental na trama não pode ser revelada.
Sua chegada triunfal à casa do irmão gera um estresse incontrolável, no qual Matias é o pivô sacrificado entre duas mulheres insanas.

CONFLITOS
O desagravo evolui como um tango sob a batuta sem descanso do diretor da peça, Vinicius Arneiro.
Carolina Pismel (Vladine) e Julia Marini (Bianca) se encontram num duelo empolado em que suas personagens gatunas cacarejam ofensas e ciscam simuladas não antes de arremeterem na próxima chantagem com golpes cada vez mais baixos.
O ritmo frenético se sustenta por mudanças drásticas de tom. A sisudez dos figurinos (Marcelo Olinto) e as posturas imaculadas dos atores logo se desmontam com a interpretação cortante desta trupe que parece ter saído de um set de gravação do cineasta Pedro Almodóvar em início de carreira.
Tudo sugere exagero. Da mão que acaricia ao tapa na cara, as relações amorosas seguem entre afagos e supetões, tornando-se cada vez mais passionais. A comédia excessiva não mascara a hipocrisia das relações que regem as famílias.
Em meio a reviravoltas inesperadas, lamúrias forçadas e amores ultrajantes, "Rebú" avança como diversão garantida até o final, que materializa o sagrado ritual de expiação, tão caro ao teatro, com a concretude explícita em seu título.


REBÚ

QUANDO qui. e sex, às 21h; até 30/7
ONDE Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/ 3234-3000
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo



Texto Anterior: Galês gravou álbum com hippie gaúcho durante giro pelo Brasil
Próximo Texto: FOLHA.com
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.