São Paulo, Quinta-feira, 01 de Julho de 1999
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CINEMA
Versão em desenho da Disney, que estréia hoje no Brasil, satisfaz desejo expresso por Edgar Rice Burroughs
"Tarzan" animado realiza sonho de autor

Divulgação
Cena de "Tarzan", desenho animado da Disney baseado no clássico livro de Rdgar Rice Burroughs que estréia hoje no Brasil


CLAUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles

Uma das coisas que as fábricas de sonhos de Hollywood sabem fazer com maestria, sem que ninguém possa contestar, é produzir filmes que distorcem absurdamente obras clássicas da literatura.
Edgar Rice Burroughs, criador do lendário personagem Tarzan, soube bem disso. Ao morrer em 1950, 38 anos depois de escrever "Tarzan of the Apes", o escritor não teve o prazer de se contentar com nenhuma das inúmeras adaptações de sua obra para o cinema.
"Essa história não é minha", protestou o autor em 1918, ao assistir à primeira versão cinematográfica de seu livro, na qual os gorilas não passavam de atores fantasiados.
Até hoje, 48 filmes baseados em "Tarzan" imortalizaram o personagem, que é o segundo mais filmado, depois de Drácula. Mas somente agora um sonho de Burroughs foi realizado: a transformação de sua obra em um longa-metragem em desenho animado.
"Burroughs escreveu uma carta a seu filho em 1936 expondo seu desejo de um dia ver Tarzan transformado em desenho animado", contou à Folha Kevin Lima, que co-dirigiu a mais nova criação da Disney com Chris Buck. Na carta, segundo Lima, o escritor afirma que "o desenho a ser produzido tem que ser feito com a qualidade dos filmes da Disney".
E, que honra seja feita, o desenho que estréia hoje nos cinemas brasileiros, uma produção de custo estimado em US$ 150 milhões, está entre os melhores produzidos pela Disney nos últimos tempos.
A produção traz as vozes de Tony Goldwyn ("Ghost") como Tarzan, Glenn Close no papel da gorila Kala, Minnie Driver encarnando Jane e a apresentadora de talk-show Rosie O'Donnell como a engraçada macaca Terk. O Tarzan brasileiro é feito por Eduardo Moscovis.
"Em princípio hesitei em aceitar a tarefa de fazer de Tarzan um desenho animado", confessou Kevin Lima. "Ele já havia aparecido em muitos filmes e o mundo inteiro já estava familiarizado com o personagem. Como seria possível contar mais uma vez uma história tão popular sem cair na repetição?"
Foi quando o animador de "A Bela e a Fera" resolveu ler o original de Burroughs e, por fim, descobrir que a obra possuía um grande potencial criativo para animação.
"Percebi que no desenho poderíamos fazer Tarzan se movimentar, saltar entre árvores, correr como um leopardo, tal como Burroughs escreveu em seu livro. Se um ator de verdade tentar fazer o que o Tarzan do livro faz, ele vai acabar morrendo de cansaço."
Para contar a jornada desse humano que foi criado na selva por gorilas, a equipe de "Tarzan" partiu para o Quênia, onde os profissionais de animação tiveram a oportunidade de estar em contato com os animais e o meio ambiente.
"Conhecemos um menino de 5 anos que acabou sendo fonte de inspiração para o Tarzan quando garotinho. Tal como o personagem do filme, ele cresceu em meio aos gorilas, já que seu pai era supervisor de uma reserva biológica local, e sabia imitar todos os movimentos daqueles animais. Gravamos o garoto em videotape e esse material ajudou bastante nossos animadores", disse Chris Buck.
Já os movimentos rápidos do Tarzan adulto surgiram da observação do supervisor de animação Glen Keane de seu filho numa praça de Paris. "Meu filho estava brincando com seu skate, e os movimentos rápidos, precisos e ao mesmo tempo suaves de seu corpo me chamaram imediatamente a atenção. Foi quando surgiu a idéia de como fazer Tarzan se movimentar pela floresta entre cipós."
Os movimentos mencionados pelo animador, entretanto, jamais sairiam tão reais e perfeitos se não fosse o desenvolvimento pelos profissionais da área de computação da Disney de um programa revolucionário chamado de "deep canvas", ou melhor, tela profunda.
De acordo com a produtora Bonnie Arnold, o advento dessa nova tecnologia proporcionou à equipe do filme a capacidade de trazer terceira dimensão ao desenho.
"Com o "deep canvas" foi possível darmos vida ao que existe no fundo da tela. Ou seja, aprimoramos o fator profundidade, que a partir desse filme integra o fundo de uma forma realista com o primeiro e segundo planos de cada frame", concluiu a produtora, que coordenou uma equipe de 1.100 profissionais ao fazer "Tarzan".


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