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CRÍTICA
Herói passa de bebê gracinha a surfista animalesco
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
Definitivamente, desenho animado é mesmo um domínio exclusivo da Disney. Spielberg, Don
Bluth e outros podem tentar, mas
não conseguem bater a superioridade técnica que vem desde "Fantasia" (1940). Se a Disney pega uma
boa história, como é "Tarzan", não
tem para ninguém.
Com uma animação deslumbrante e ritmo frenético, o filme
empolga. O desenho do manjado
Homem-Macaco consegue envolver espectadores de qualquer idade, mesmo aqueles que conhecem
a narrativa até de trás para a frente.
Sim, o casal Greystoke naufraga
nas costas da África, passa a viver
numa cabana e acaba morto por
um tigre. Seu filho, ainda bebê, sobrevive e é adotado pela gorila Kala, que perdeu o filhote pouco tempo antes. O menino cresce entre os
animais e tem de enfrentar dramas
existenciais por ser tão diferente
de todos.
Um dia, vai encontrar na floresta
uma expedição que pretende estudar a vida dos gorilas. Entre os integrantes da turma aventureira, a
gracinha Jane Porter, por quem
Tarzan vai se apaixonar.
O drama fica por conta da presença de Clayton, impiedoso caçador que engana Tarzan para que
ele indique a localização dos gorilas. Traído, o Homem-Macaco tem
de salvar seus amigos peludos e
ainda decidir se irá para a Inglaterra com Jane ou se ficará na selva.
Tudo isso é pontuado por canções, e aqui a Disney acerta mais
uma vez, escalando o menestrel
pop Phil Collins. O ex-cantor do
Genesis pode ter deixado de ser
um roqueiro, mas está anos-luz
além da mediocridade habitual
das trilhas dos desenhos recentes.
O filme tem outros trunfos. Falar
bem da animação é cair na redundância, mas vale destacar que a
trama exige como cenário muita
água e folhagem balançando com
o vento, texturas não muito fáceis
para o pessoal do estúdio controlar. Quando o fogo irrompe na tela,
aí é ainda mais complicado, mas a
realização é exuberante.
A primeira parte do filme ganha
mais facilmente o espectador. E
não é para menos. O Tarzan versão
bebê é fofo até não poder mais. O
meninão dos anúncios do Baby da
Telesp Celular perde. A capacidade dos desenhistas para criar expressões engraçadas e amorosas
para o bebê, sua mãe adotiva e seus
amigos gorilinhas é inesgotável.
Nessa parte inicial, o filme lembra até um clássico animado de
Walt Disney, "Mogli, o Menino
Lobo". Tarzan aprendendo como
sobreviver na selva tem parentesco
direto com o aprendizado de Mogli nas mãos do urso Balu e da pantera Baguera.
Quando Tarzan cresce, o filme
exibe outra peculiaridade: pela
primeira vez no cinema, o herói
adota uma postura realmente animalesca. Ele não fica totalmente
ereto -algo que só vai aprender
quando encontrar os outros de sua
espécie.
Convivendo com os macacos,
Tarzan mantém o corpo apoiado
nas articulações, com os joelhos
dobrados e os braços virados para
o centro do corpo, igualzinho aos
animais. Quando o herói sai voando de uma árvore a outra, ele enrola seu corpo num cipó e depois o
distende como um elástico, agarrando galhos e outros cipós com as
mãos ou os pés. Um legítimo macaco pelado, numa movimentação
alucinante pelas árvores.
Numa brincadeira dos animadores, o máximo de "modernidade"
permitido a Tarzan é adotar uma
pose de surfista ao deslizar pelos
troncos. E o cabelão ajuda.
Quem levar crianças pequenas
ao cinema e optar pela versão dublada vai perder as boas vozes da
versão original. O sotaque britânico que Tony Goldwin dá ao personagem principal e a interpretação
extremamente carinhosa de Glenn
Close fazendo a voz da gorila Kala
são um ponto alto da produção.
Mas é realmente impossível reclamar de alguma coisa. "Tarzan"
é um espetáculo cinematográfico
arrebatador. É tão bem-feito que
mesmo o espectador mais ranzinza não vai se importar de ter seus
sentimentos manipulados.
"Tarzan" é feito para arrancar
emoções. E arranca mesmo.
Avaliação:
Filme: Tarzan
Produção: EUA, 1999
Direção: Chris Buck e Kevin Lima
Quando: a partir de hoje, nos cines
Eldorado 6, Paulista 2 e circuito
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