São Paulo, Quinta-feira, 01 de Julho de 1999
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CRÍTICA
Herói passa de bebê gracinha a surfista animalesco

THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Definitivamente, desenho animado é mesmo um domínio exclusivo da Disney. Spielberg, Don Bluth e outros podem tentar, mas não conseguem bater a superioridade técnica que vem desde "Fantasia" (1940). Se a Disney pega uma boa história, como é "Tarzan", não tem para ninguém.
Com uma animação deslumbrante e ritmo frenético, o filme empolga. O desenho do manjado Homem-Macaco consegue envolver espectadores de qualquer idade, mesmo aqueles que conhecem a narrativa até de trás para a frente.
Sim, o casal Greystoke naufraga nas costas da África, passa a viver numa cabana e acaba morto por um tigre. Seu filho, ainda bebê, sobrevive e é adotado pela gorila Kala, que perdeu o filhote pouco tempo antes. O menino cresce entre os animais e tem de enfrentar dramas existenciais por ser tão diferente de todos.
Um dia, vai encontrar na floresta uma expedição que pretende estudar a vida dos gorilas. Entre os integrantes da turma aventureira, a gracinha Jane Porter, por quem Tarzan vai se apaixonar.
O drama fica por conta da presença de Clayton, impiedoso caçador que engana Tarzan para que ele indique a localização dos gorilas. Traído, o Homem-Macaco tem de salvar seus amigos peludos e ainda decidir se irá para a Inglaterra com Jane ou se ficará na selva.
Tudo isso é pontuado por canções, e aqui a Disney acerta mais uma vez, escalando o menestrel pop Phil Collins. O ex-cantor do Genesis pode ter deixado de ser um roqueiro, mas está anos-luz além da mediocridade habitual das trilhas dos desenhos recentes.
O filme tem outros trunfos. Falar bem da animação é cair na redundância, mas vale destacar que a trama exige como cenário muita água e folhagem balançando com o vento, texturas não muito fáceis para o pessoal do estúdio controlar. Quando o fogo irrompe na tela, aí é ainda mais complicado, mas a realização é exuberante.
A primeira parte do filme ganha mais facilmente o espectador. E não é para menos. O Tarzan versão bebê é fofo até não poder mais. O meninão dos anúncios do Baby da Telesp Celular perde. A capacidade dos desenhistas para criar expressões engraçadas e amorosas para o bebê, sua mãe adotiva e seus amigos gorilinhas é inesgotável.
Nessa parte inicial, o filme lembra até um clássico animado de Walt Disney, "Mogli, o Menino Lobo". Tarzan aprendendo como sobreviver na selva tem parentesco direto com o aprendizado de Mogli nas mãos do urso Balu e da pantera Baguera.
Quando Tarzan cresce, o filme exibe outra peculiaridade: pela primeira vez no cinema, o herói adota uma postura realmente animalesca. Ele não fica totalmente ereto -algo que só vai aprender quando encontrar os outros de sua espécie.
Convivendo com os macacos, Tarzan mantém o corpo apoiado nas articulações, com os joelhos dobrados e os braços virados para o centro do corpo, igualzinho aos animais. Quando o herói sai voando de uma árvore a outra, ele enrola seu corpo num cipó e depois o distende como um elástico, agarrando galhos e outros cipós com as mãos ou os pés. Um legítimo macaco pelado, numa movimentação alucinante pelas árvores.
Numa brincadeira dos animadores, o máximo de "modernidade" permitido a Tarzan é adotar uma pose de surfista ao deslizar pelos troncos. E o cabelão ajuda.
Quem levar crianças pequenas ao cinema e optar pela versão dublada vai perder as boas vozes da versão original. O sotaque britânico que Tony Goldwin dá ao personagem principal e a interpretação extremamente carinhosa de Glenn Close fazendo a voz da gorila Kala são um ponto alto da produção.
Mas é realmente impossível reclamar de alguma coisa. "Tarzan" é um espetáculo cinematográfico arrebatador. É tão bem-feito que mesmo o espectador mais ranzinza não vai se importar de ter seus sentimentos manipulados.
"Tarzan" é feito para arrancar emoções. E arranca mesmo.


Avaliação:     


Filme: Tarzan Produção: EUA, 1999 Direção: Chris Buck e Kevin Lima Quando: a partir de hoje, nos cines Eldorado 6, Paulista 2 e circuito

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