|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DANÇA
Coletânea organizada pela crítica Inês Bogéa tem textos, entre outros, de Zuenir Ventura e Renato Janine Ribeiro
Livro discute brasilidade do Grupo Corpo
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
Haveria um modo brasileiro,
uma brasilidade no dançar, e ela
estaria representada no grupo mineiro Corpo, na estrada há 26
anos? De uma ou outra forma, essa suposta brasilidade é posta em
questão nos textos escritos para o
livro dedicado à companhia, "Oito ou Nove Ensaios sobre o Grupo
Corpo", a ser lançado este mês pela Cosac&Naif em parceria com o
Instituto Tomie Ohtake.
A convite da ex-bailarina do
grupo (entre 1989 e 2001) e crítica
de dança da Folha Inês Bogéa,
dois escritores -Zuenir Ventura
e Luis Fernando Verissimo-,
dois professores de literatura
-Arthur Nestrovski e Eliane Robert Moraes-, um filósofo -Renato Janine Ribeiro-, um jornalista especializado em música
-Humberto Werneck-, um artista plástico -Marco Gianotti-
e uma psicanalista -Maria Rita
Kehl- produziram ensaios sobre
a trajetória do Corpo.
Em quase todos, a tal da brasilidade aparece. É Verissimo quem
levanta a bola. "Toda vez que eu
vejo o Corpo, fico patriota", em
seguida duvida: "Não é que exista
um estilo brasileiro de dançar.
Talvez exista, não sei".
Fundado em 1975, o grupo teria
seu espetáculo de estréia no ano
seguinte, "Maria, Maria", com
música de Milton Nascimento e
roteiro de Fernando Brant. Entre
1981 e 1991, porém, com a breve
exceção de "Uakti" (1988), com o
grupo homônimo, ou as incursões pelas "Bachianas", de Villa-Lobos, utilizaria um repertório
clássico internacional -e só voltaria a trabalhar com composições próprias a partir de 1992.
Como, então, conseguiu continuar a fixar seus pés em uma dança tida como brasileira? "O Rodrigo (Pederneiras, coreógrafo) foi
criando uma linguagem que tem
acentos brasileiros", explica Bogéa. "Não é uma brasilidade exótica. Não tem nada de folclore."
Os irmãos Pederneiras -o coreógrafo Rodrigo e o diretor-geral
e iluminador Paulo- são fundamentais na história do grupo. Os
seis filhos estiveram envolvidos
em sua criação, e até os pais deles,
que cederam a casa onde moravam para sediar o Corpo. No livro, é outro irmão, José Luiz,
quem assina as fotografias.
A "virada" para essa brasilidade
teria surgido, segundo Bogéa,
quando Rodrigo assumiu o lugar
ocupado pelo argentino Oscar
Araiz, que os integrantes do grupo haviam conhecido dois anos
antes da fundação, em 1973. "Se
há uma brasilidade", questiona a
psicanalista Maria Rita Kehl, "ela
é fragmentada, esfiapada". E previne: "Nada disso serve para fixar
uma imagem de Brasil".
"É uma brasilidade enganosa",
afirma o filósofo Renato Janine
Ribeiro. "Brasilidade é uma enxurrada de sentido. E a arte é extremamente não-sentido, não ter
uma chave. O tema da brasilidade
é uma maneira de reduzir."
No texto que encerra o livro,
Zuenir Ventura assume, como
Verissimo, seu entusiasmo pelo
grupo e parodia João Ubaldo Ribeiro: "Viva o Corpo brasileiro".
OITO OU NOVE ENSAIOS SOBRE O
GRUPO CORPO - De: Inês Bogéa (org.) e
outros. Editora: Cosac&Naif/Instituto
Tomie Ohtake. Patrocinador: Petrobras.
Quanto: a definir (208 págs.).
Texto Anterior: Grupos planejam expansão em outras capitais Próximo Texto: Trecho Índice
|