São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA

Coletânea organizada pela crítica Inês Bogéa tem textos, entre outros, de Zuenir Ventura e Renato Janine Ribeiro

Livro discute brasilidade do Grupo Corpo

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Haveria um modo brasileiro, uma brasilidade no dançar, e ela estaria representada no grupo mineiro Corpo, na estrada há 26 anos? De uma ou outra forma, essa suposta brasilidade é posta em questão nos textos escritos para o livro dedicado à companhia, "Oito ou Nove Ensaios sobre o Grupo Corpo", a ser lançado este mês pela Cosac&Naif em parceria com o Instituto Tomie Ohtake.
A convite da ex-bailarina do grupo (entre 1989 e 2001) e crítica de dança da Folha Inês Bogéa, dois escritores -Zuenir Ventura e Luis Fernando Verissimo-, dois professores de literatura -Arthur Nestrovski e Eliane Robert Moraes-, um filósofo -Renato Janine Ribeiro-, um jornalista especializado em música -Humberto Werneck-, um artista plástico -Marco Gianotti- e uma psicanalista -Maria Rita Kehl- produziram ensaios sobre a trajetória do Corpo.
Em quase todos, a tal da brasilidade aparece. É Verissimo quem levanta a bola. "Toda vez que eu vejo o Corpo, fico patriota", em seguida duvida: "Não é que exista um estilo brasileiro de dançar. Talvez exista, não sei".
Fundado em 1975, o grupo teria seu espetáculo de estréia no ano seguinte, "Maria, Maria", com música de Milton Nascimento e roteiro de Fernando Brant. Entre 1981 e 1991, porém, com a breve exceção de "Uakti" (1988), com o grupo homônimo, ou as incursões pelas "Bachianas", de Villa-Lobos, utilizaria um repertório clássico internacional -e só voltaria a trabalhar com composições próprias a partir de 1992.
Como, então, conseguiu continuar a fixar seus pés em uma dança tida como brasileira? "O Rodrigo (Pederneiras, coreógrafo) foi criando uma linguagem que tem acentos brasileiros", explica Bogéa. "Não é uma brasilidade exótica. Não tem nada de folclore."
Os irmãos Pederneiras -o coreógrafo Rodrigo e o diretor-geral e iluminador Paulo- são fundamentais na história do grupo. Os seis filhos estiveram envolvidos em sua criação, e até os pais deles, que cederam a casa onde moravam para sediar o Corpo. No livro, é outro irmão, José Luiz, quem assina as fotografias.
A "virada" para essa brasilidade teria surgido, segundo Bogéa, quando Rodrigo assumiu o lugar ocupado pelo argentino Oscar Araiz, que os integrantes do grupo haviam conhecido dois anos antes da fundação, em 1973. "Se há uma brasilidade", questiona a psicanalista Maria Rita Kehl, "ela é fragmentada, esfiapada". E previne: "Nada disso serve para fixar uma imagem de Brasil".
"É uma brasilidade enganosa", afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro. "Brasilidade é uma enxurrada de sentido. E a arte é extremamente não-sentido, não ter uma chave. O tema da brasilidade é uma maneira de reduzir."
No texto que encerra o livro, Zuenir Ventura assume, como Verissimo, seu entusiasmo pelo grupo e parodia João Ubaldo Ribeiro: "Viva o Corpo brasileiro".


OITO OU NOVE ENSAIOS SOBRE O GRUPO CORPO - De: Inês Bogéa (org.) e outros. Editora: Cosac&Naif/Instituto Tomie Ohtake. Patrocinador: Petrobras. Quanto: a definir (208 págs.).



Texto Anterior: Grupos planejam expansão em outras capitais
Próximo Texto: Trecho
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.