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DANÇA
Coreógrafo estréia amanhã "Doze Movimentos", sua primeira incursão solo
Violla inaugura nova fase sem esquecer o passado
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com seu primeiro espetáculo
solo -"Doze Movimentos para
um Homem Só", que estréia amanhã no teatro Sesc Anchieta-, o
bailarino, coreógrafo e professor
J.C. Violla marca novo momento
em sua carreira e se associa aos
bailarinos que, na passagem do
século 20 para o 21, dissolveram a
mística da juventude como condição para a permanência em cena. Tendo como emblema Mikhail Baryshnikov, que provou
ser possível dançar melhor com o
tempo, essa atitude que virou sinônimo de vanguarda também
vem se disseminando no Brasil e,
agora, com Violla, ganha maior
dimensão.
Aos 55 anos, Violla leva para o
palco toda a carga poética do bailarino maduro, para interpretar
um espetáculo construído por vários autores. Quatro deles
-Adriana Grechi, Jorge Garcia,
Mirian Druwe e Roberto Ramos- representam a nova geração de criadores de São Paulo, que
hoje ocupa o espaço criado na cidade por Violla e os artistas de
dança de sua época, a partir de
meados dos anos 70.
Entre os autores de sua própria
geração, Violla escolheu Célia
Gouvea, com a qual ele inaugurou
parcerias em 1980. Para "Doze
Movimentos...", Célia realizou
uma releitura da coreografia "Expediente", que ela concebeu para
Violla duas décadas atrás. "Ao vê-lo dançando agora, me deparo
com um fenômeno de construção
de um corpo. Provando que é
possível manter-se em forma ao
longo da vida, Violla está na plenitude", diz Gouvea.
Também o coreógrafo argentino Miguel Ángel Zoto integra a
equipe de colaboradores de "Doze Movimentos...". Considerado
um renovador do tango, Zoto já
coreografou para estrelas como
Julio Bocca. Para completar, no
novo espetáculo Violla retoma a
parceria com o dramaturgo e diretor teatral Naum Alves de Souza, com o qual divide a concepção
das demais coreografias.
Durante quase uma hora, sem
interrupções, um inventário artístico emerge de "Doze Movimentos...". No gestual de algumas coreografias, surgem citações a espetáculos marcantes da carreira
de Violla, como "Valsa para 20
Veias" e "Petrouchka". Na cenografia, que inclui projeções de filmes, imagens de diversas épocas
traçam o percurso de Violla como
bailarino e coreógrafo, além de
compor, no conjunto, uma certa
perspectiva da dança brasileira
nas últimas décadas.
Sem limites precisos, essas imagens misturam a fase mais experimental de Violla e o momento em
que as danças de salão tornaram-se o foco de seus espetáculos.
"Nos últimos anos, meu nome ficou muito associado a espetáculos como "Salão de Baile" e "Bailes
do Brasil", que realizei na década
de 90. De alguma forma, eu queria
desconstruir isso na minha cabeça e também mostrar para as novas gerações que o meu trabalho
inclui outras experiências", diz
Violla sobre os motivos que estimularam a nova produção.
Acostumado a trabalhar com
elencos numerosos, ele também
desejava experimentar o contrário. "Em vez de cuidar do desempenho de outros, eu queria que
cuidassem de mim, queria ter
gente que, sob um novo olhar, me
mostrassem o que posso fazer
melhor agora. Ao mesmo tempo,
me senti estimulado pelo desafio
de, pela primeira vez, me expor
sozinho no palco."
DOZE MOVIMENTOS PARA UM
HOMEM SÓ - Com J.C. Violla. Quando: de
amanhã até 1º de setembro (sex. e sáb.,
às 21h, e dom., às 19h). Onde: teatro Sesc
Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/
11/3256-2281). Quanto: R$ 30 e R$ 15
(comerciários).
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