São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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DANÇA

Coreógrafo estréia amanhã "Doze Movimentos", sua primeira incursão solo

Violla inaugura nova fase sem esquecer o passado

ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com seu primeiro espetáculo solo -"Doze Movimentos para um Homem Só", que estréia amanhã no teatro Sesc Anchieta-, o bailarino, coreógrafo e professor J.C. Violla marca novo momento em sua carreira e se associa aos bailarinos que, na passagem do século 20 para o 21, dissolveram a mística da juventude como condição para a permanência em cena. Tendo como emblema Mikhail Baryshnikov, que provou ser possível dançar melhor com o tempo, essa atitude que virou sinônimo de vanguarda também vem se disseminando no Brasil e, agora, com Violla, ganha maior dimensão.
Aos 55 anos, Violla leva para o palco toda a carga poética do bailarino maduro, para interpretar um espetáculo construído por vários autores. Quatro deles -Adriana Grechi, Jorge Garcia, Mirian Druwe e Roberto Ramos- representam a nova geração de criadores de São Paulo, que hoje ocupa o espaço criado na cidade por Violla e os artistas de dança de sua época, a partir de meados dos anos 70.
Entre os autores de sua própria geração, Violla escolheu Célia Gouvea, com a qual ele inaugurou parcerias em 1980. Para "Doze Movimentos...", Célia realizou uma releitura da coreografia "Expediente", que ela concebeu para Violla duas décadas atrás. "Ao vê-lo dançando agora, me deparo com um fenômeno de construção de um corpo. Provando que é possível manter-se em forma ao longo da vida, Violla está na plenitude", diz Gouvea.
Também o coreógrafo argentino Miguel Ángel Zoto integra a equipe de colaboradores de "Doze Movimentos...". Considerado um renovador do tango, Zoto já coreografou para estrelas como Julio Bocca. Para completar, no novo espetáculo Violla retoma a parceria com o dramaturgo e diretor teatral Naum Alves de Souza, com o qual divide a concepção das demais coreografias.
Durante quase uma hora, sem interrupções, um inventário artístico emerge de "Doze Movimentos...". No gestual de algumas coreografias, surgem citações a espetáculos marcantes da carreira de Violla, como "Valsa para 20 Veias" e "Petrouchka". Na cenografia, que inclui projeções de filmes, imagens de diversas épocas traçam o percurso de Violla como bailarino e coreógrafo, além de compor, no conjunto, uma certa perspectiva da dança brasileira nas últimas décadas.
Sem limites precisos, essas imagens misturam a fase mais experimental de Violla e o momento em que as danças de salão tornaram-se o foco de seus espetáculos. "Nos últimos anos, meu nome ficou muito associado a espetáculos como "Salão de Baile" e "Bailes do Brasil", que realizei na década de 90. De alguma forma, eu queria desconstruir isso na minha cabeça e também mostrar para as novas gerações que o meu trabalho inclui outras experiências", diz Violla sobre os motivos que estimularam a nova produção.
Acostumado a trabalhar com elencos numerosos, ele também desejava experimentar o contrário. "Em vez de cuidar do desempenho de outros, eu queria que cuidassem de mim, queria ter gente que, sob um novo olhar, me mostrassem o que posso fazer melhor agora. Ao mesmo tempo, me senti estimulado pelo desafio de, pela primeira vez, me expor sozinho no palco."


DOZE MOVIMENTOS PARA UM HOMEM SÓ - Com J.C. Violla. Quando: de amanhã até 1º de setembro (sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h). Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/ 11/3256-2281). Quanto: R$ 30 e R$ 15 (comerciários).



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