São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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CONCRETISMO

Noigandres e Waldemar Cordeiro encerram ciclo comemorativo dos 50 anos do movimento no Ceuma

Poesia e arte pré-pop se encontram em SP

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Arte concreta paulista, 50. No bojo do movimento que, a partir de 1952, captou a essência geométrica de São Paulo e expandiu os limites da obra de arte pela reprodutibilidade, a poesia concreta.
É a vez de a voz do Grupo Noigandres ocupar o Centro Universitária Maria Antonia, com a exposição que leva seu nome e se abre hoje, dando seguimento ao evento "Arte Concreta Paulista".
Para além da comemoração da efeméride, porém, os curadores buscaram um enfoque reflexivo para abordar a produção poética do grupo -inicialmente formado pela "trindade" Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, aos quais se somariam Ronaldo Azeredo e José Lino Grünewald (1931-2000).
Para tanto, João Bandeira e Lenora de Barros recuperaram o "antes e depois" do marco -o primeiro número da revista "Noigandres", publicado em 1952.
O "antes" começa em 1948, quando o trio inicial apenas se aventurava em primeiras publicações; o "depois" vai até 1962, data da última "Noigandres".
Dessa forma, desenha-se a trajetória de formação e amadurecimento dessa poesia, que na primeira edição da revista, dizem os curadores, não representava ainda a ruptura do padrão vigente.
"O plano piloto da poesia concreta só se manifestaria em 1958", lembra Lenora de Barros, 48 -ainda que, frisa João Bandeira, 41, os poemas de "Noigandres 1" "já fossem muito especiais e relevantes para a poesia feita em verso na língua portuguesa".
Em cinco vitrines, documentos, fotos e anotações dão conta do ambiente que cercou cada número de "Noigandres". Assim, na vitrine de "Noigandres 1", estão os primeiros livros dos poetas, enquanto na de número 5 aparece a revista que a sucederia, "Invenção". Fora delas, cartazes, fotografias e textos jornalísticos (de membros do grupo e sobre eles) registram a relação dos poetas com o meio artístico efervescente de então e dão uma idéia do impacto causado, nesse mesmo meio, pelo trabalho do grupo.
Entre os textos expostos, está o artigo em que Augusto de Campos pela primeira vez dá o nome de poesia concreta à produção do grupo, em 1955.
Como queria o movimento concretista de modo geral, a difusão em massa da obra de arte pela reprodução se faz presente na mostra: espalhados em pilhas, cartazes de poemas ficam de brinde para os visitantes.

Sonoridade concreta
Se, ao falar de poesia concreta, o aspecto visual é o que vem à mente em primeiro lugar, não menos importante é outro, menos lembrado: a sonoridade. Lenora de Barros ressalta como "fundamental" a influência da música erudita contemporânea para essa poética.
Por isso, a mostra traz também registro sonoro de poemas, na voz dos autores. "O áudio, aqui, não é penduricalho", diz Bandeira; "estruturalmente tem a ver", soma Lenora, lembrando que a poesia concreta, no dizer dos seus criadores, é "verbovocovisual".
Algumas leituras (quase todas inéditas), foram feitas para a mostra; outras provêm de gravações caseiras encontradas na pesquisa. Os 24 registros, com outros 46, compõem CD que acompanha o catálogo da mostra, a ser lançado neste mês, pela Cosac & Naify.


GRUPO NOIGANDRES - mostra de poesia concreta. Curadoria: Lenora de Barros e João Bandeira. Onde: Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3255-5538). Quando: hoje, às 20h. Até 8/9. De seg. a sex., das 12h às 21h; sáb., dom. e fer., das 9h às 21h. Agendamento de visitas escolares: 0/xx/11/3257-2760. Grátis.



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