São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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Obra de Cordeiro ganha enfoque pós-concreto

DA REPORTAGEM LOCAL

A preocupação da curadora Helouise Costa, ao selecionar obras do artista Waldemar Cordeiro (1925-1973) para o ciclo do Centro Universitário Maria Antonia, foi não repisar o que já era por demais conhecido em sua obra.
Assim, apesar de o evento comemorar os 50 anos da arte concreta paulista, do qual Cordeiro é figura central, foi num segundo momento da carreira do artista que a curadora se concentrou.
"Eu me preocupei em fazer um recorte que pudesse trazer algo de inovador", diz Costa, 42, ressaltando que o conhecimento do trabalho do artista fica normalmente restrito à experiência concretista.
Costa partiu, então, de sua própria pesquisa sobre a relação da fotografia e da arte nos anos 60, fazendo surgir um Cordeiro aparentado à arte pop.
"Ele nunca teorizou sobre essa relação, apesar de ter sido crítico, ensaísta, mas, quando ele rompe com o quadro e passa a realizar objetos, a fotografia entra de forma sistemática", explica Costa.
O momento referido começa em 1963. Datam do período obras feitas a partir de imagens colhidas da mídia, como o ready-made "Popcreto para um Popcrítico".
Na peça, a atenção do espectador recai sobre um olho, centro de uma imagem humana retalhada; completa a assemblage uma enxada, tudo sobre um fundo vermelho, resultando num conjunto de forte cunho político.
O caráter questionador de Cordeiro é o eixo da curadoria e está presente não só nas obras políticas, mas também nas que propõem a participação do público.
A interação com o espectador segue muito de perto, em Cordeiro, o conceito de obra aberta e se dá, sobretudo, pelo convite a um novo olhar (ou a uma multiplicidade de olhares) sobre a obra.
É o caso, por exemplo, de "Auto-Retrato Probabilístico", na qual a foto do artista, recortada, se alterna com as palavras "sim" e "não" e somente de um determinado ponto de vista a face de Cordeiro surge inteira ao visitante.
Esse primeiro momento enfocado na mostra se fecha em 1968, quando o artista iniciaria suas experiências de arte por computador, que vão até sua morte.
Também nessa fase final, é notável a personalidade vanguardista de Cordeiro, que dribla a tecnologia ainda incipiente: para trabalhar com imagem num equipamento que não tinha nem sequer monitor, criou, com a ajuda de físicos, fórmulas matemáticas para associar meios-tons a números e sinais gráficos reconhecíveis pela impressora de que dispunha.
Completam a mostra imagens de trabalhos de paisagismo, as quais, além de acompanharem a trajetória estética de Cordeiro, indo do geometrismo à interação com o passante, foram o ganha-pão do artista, que não vendia suas obras. (FA)


WALDEMAR CORDEIRO - A RUPTURA COMO METÁFORA. Curadoria: Helouise Costa. Onde: Centro Universitário Maria Antonia.



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