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Obra de Cordeiro ganha enfoque pós-concreto
DA REPORTAGEM LOCAL
A preocupação da curadora
Helouise Costa, ao selecionar
obras do artista Waldemar Cordeiro (1925-1973) para o ciclo do
Centro Universitário Maria Antonia, foi não repisar o que já era por
demais conhecido em sua obra.
Assim, apesar de o evento comemorar os 50 anos da arte concreta paulista, do qual Cordeiro é
figura central, foi num segundo
momento da carreira do artista
que a curadora se concentrou.
"Eu me preocupei em fazer um
recorte que pudesse trazer algo de
inovador", diz Costa, 42, ressaltando que o conhecimento do trabalho do artista fica normalmente
restrito à experiência concretista.
Costa partiu, então, de sua própria pesquisa sobre a relação da
fotografia e da arte nos anos 60,
fazendo surgir um Cordeiro aparentado à arte pop.
"Ele nunca teorizou sobre essa
relação, apesar de ter sido crítico,
ensaísta, mas, quando ele rompe
com o quadro e passa a realizar
objetos, a fotografia entra de forma sistemática", explica Costa.
O momento referido começa
em 1963. Datam do período obras
feitas a partir de imagens colhidas
da mídia, como o ready-made
"Popcreto para um Popcrítico".
Na peça, a atenção do espectador recai sobre um olho, centro de
uma imagem humana retalhada;
completa a assemblage uma enxada, tudo sobre um fundo vermelho, resultando num conjunto
de forte cunho político.
O caráter questionador de Cordeiro é o eixo da curadoria e está
presente não só nas obras políticas, mas também nas que propõem a participação do público.
A interação com o espectador
segue muito de perto, em Cordeiro, o conceito de obra aberta e se
dá, sobretudo, pelo convite a um
novo olhar (ou a uma multiplicidade de olhares) sobre a obra.
É o caso, por exemplo, de "Auto-Retrato Probabilístico", na
qual a foto do artista, recortada, se
alterna com as palavras "sim" e
"não" e somente de um determinado ponto de vista a face de Cordeiro surge inteira ao visitante.
Esse primeiro momento enfocado na mostra se fecha em 1968,
quando o artista iniciaria suas experiências de arte por computador, que vão até sua morte.
Também nessa fase final, é notável a personalidade vanguardista de Cordeiro, que dribla a tecnologia ainda incipiente: para trabalhar com imagem num equipamento que não tinha nem sequer
monitor, criou, com a ajuda de físicos, fórmulas matemáticas para
associar meios-tons a números e
sinais gráficos reconhecíveis pela
impressora de que dispunha.
Completam a mostra imagens
de trabalhos de paisagismo, as
quais, além de acompanharem a
trajetória estética de Cordeiro, indo do geometrismo à interação
com o passante, foram o ganha-pão do artista, que não vendia
suas obras.
(FA)
WALDEMAR CORDEIRO - A RUPTURA
COMO METÁFORA. Curadoria: Helouise
Costa. Onde: Centro Universitário Maria
Antonia.
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