MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

A milenar cultura chinesa advoga as virtudes da paciência e da espera como forma de julgar adequadamente os eventos históricos -afinal, é preciso tempo e distanciamento para colocar em perspectiva maior os fatos.
Dentro dessa visão, os 16 anos de duração de "Os Simpsons" são irrisórios. Só que, nos tempos atuais, em que os famosos 15 minutos de fama viraram segundos, um desenho que está no ar desde o século passado mantendo o humor e a capacidade de atrair audiência já pode receber o vaticínio: é o melhor desenho animado, possivelmente a melhor série, de todos os tempos.
Comparando os episódios da quinta temporada, que é agora lançada em caixa com quatro DVDs, aos de temporadas mais recentes -a 16ª está em cartaz na Fox atualmente-, é possível perceber como a série criada por Matt Groening manteve a qualidade e o humor corrosivo.
A manutenção da graça de "Os Simpsons" está bem explicada na entrevista de Al Jean - ele conta com 20 dos melhores roteiristas da atualidade, centenas de celebridades querendo participar e quase um ano de produção para cada episódio.
Mas é na receita original que mora o segredo do sucesso do desenho. "Os Simpsons" não é apenas a versão satírica de uma família de classe média suburbana dos EUA. Nas aventuras e desventuras do casal Homer e Marge com seus filhos Bart, Lisa e Maggie, além da extensa gama de personagens da cidade de Springfield, salta aos olhos a quantidade de referências (ao cinema, à televisão, às artes plásticas, à literatura etc.) espalhadas de forma mais ou menos sutil, além da avalanche de piadas que ironiza praticamente tudo que existe -e, no fundo, a inesgotável estupidez humana.
Nos episódios da quinta temporada (veiculada originalmente entre 1993 e 1994, nos EUA), a fórmula original atinge seu ápice. Dali por diante, o excelente padrão seria mantido (com algumas oscilações), mas nunca superado.
Algumas idéias lançadas anteriormente, como o episódio especial de Halloween, aparecem depuradas. A liberdade para criticar também ganha novos patamares -sobram ironias arrasadoras para a Fox e para os prêmios Emmy (da TV norte-americana) e Grammy (da música), por exemplo. As participações especiais se tornam mais freqüentes e mais famosas. E as referências cinematográficas ficam mais refinadas -do título de "O Menino que Sabia Demais" até o urso de pelúcia rosebudiano de "O Ursinho", passando pelo "2001" de Kubrick e pelo "Drácula" de Coppola.
Nessa temporada estão alguns dos maiores clássicos dos Simpsons. Que fã não se lembra de "O Quarteto de Homer", a hilária versão da história dos Beatles (aqui, os Be Sharps) adaptada para Springfield? Ou de "Lisa e a Boneca Falante", onde a genial garotinha investe contra o estereótipo representado pela boneca Malibu Stacy (numa clara referência à Barbie)? É nessa temporada que Bart aprende o lado ruim de ser popular (em "Bart Fica Famoso") e de ser modelo de atitude (em "A Criança Enrustida de Bart").
Entre as participações, destacam-se os astros da música: Ramones, James Brown, George Harrison e David Crosby.

Os Simpsons - Quinta Temporada
    
Lançamento: Fox
Quanto: R$ 124, em média