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Crítica/cinema
Em "Scoop", Woody Allen retoma humor
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os jornais deveriam ter
críticos-setoristas. Um
escreveria apenas resenhas de shows de João Gilberto. Outro, de filmes de
Woody Allen. Eu me candidataria ao posto dos dois, pois seria um dos trabalhos mais prazerosos do mundo. Gilberto e
Allen têm mais em comum do
que se imagina. Há pelo menos
quatro décadas fazem a mesma
música e o mesmo filme. São
variações geniais e geniosas sobre o mesmo tema.
No caso do cineasta nova-iorquino, cujo 36º longa estreou
nos EUA no último fim de semana, variações freqüentemente bem-humoradas, às vezes sérias, muito de vez em
quando nem tão bem-sucedidas, sobre crimes, castigos e a
culpa judaico-cristã.
O tema está presente neste
"Scoop" ("furo de reportagem",
no jargão jornalístico inglês),
um dos bons representantes da
parte "cômica" de sua obra, que
lembra muito "O Escorpião de
Jade" (2001), principalmente
no personagem recorrente do
mágico, e "Trapaceiros"
(2000), no do sujeito simples,
mas habilidoso, que tenta se
encaixar na sociedade.
Desta vez, Allen encarna ambos papéis em um só, como o
decadente Splandini, na verdade o mágico Sid Waterman, do
Brooklyn, que apresenta o mesmo espetáculo noite após noite
numa casa em Londres. Um
dia, chama como voluntária para seu número de "desaparição" a ambiciosa estudante de
jornalismo Sondra Pransky
(Scarlett Johansson), toda
bunda, peitos e vontade de
aprender, nenhum talento.
Enquanto está na cabine, ela
recebe a visita de um grande
jornalista que acaba de morrer
(Ian McShane), que recebeu
uma dica de um furo de reportagem no além, enquanto está
sendo levado com outros mortos pela Morte, num barco wagneriano: Peter Lyman (Hugh
Jackman), filho de um nobre,
pode ser o terrível Serial Killer
das Cartas de Tarô. Sondra e
Sid tentam descobrir a história.
Eis o pano de fundo para que
o diretor desfie suas inquietações, embalado por frases que
deixam a platéia com um sorriso no lábio. Sobre Londres: "Eu
moraria aqui, não fosse a barreira da linguagem". Sobre otimismo: "Sou dos que pensam
que o copo está metade cheio.
De veneno". Tentando se passar por jornalista: "Sabe "Todos
os Homens do Presidente'? Sou
o mais baixo".
E tem, é claro, o "fator Scarlett", por quem o diretor está
obviamente apaixonado, e você
entenderá o motivo. Há poucas
maneiras mais agradáveis de
passar 96 minutos no cinema.
SCOOP
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz nos EUA, previsto para estrear no Brasil em fevereiro
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