São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2006

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Crítica/cinema

Em "Scoop", Woody Allen retoma humor

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Os jornais deveriam ter críticos-setoristas. Um escreveria apenas resenhas de shows de João Gilberto. Outro, de filmes de Woody Allen. Eu me candidataria ao posto dos dois, pois seria um dos trabalhos mais prazerosos do mundo. Gilberto e Allen têm mais em comum do que se imagina. Há pelo menos quatro décadas fazem a mesma música e o mesmo filme. São variações geniais e geniosas sobre o mesmo tema.
No caso do cineasta nova-iorquino, cujo 36º longa estreou nos EUA no último fim de semana, variações freqüentemente bem-humoradas, às vezes sérias, muito de vez em quando nem tão bem-sucedidas, sobre crimes, castigos e a culpa judaico-cristã.
O tema está presente neste "Scoop" ("furo de reportagem", no jargão jornalístico inglês), um dos bons representantes da parte "cômica" de sua obra, que lembra muito "O Escorpião de Jade" (2001), principalmente no personagem recorrente do mágico, e "Trapaceiros" (2000), no do sujeito simples, mas habilidoso, que tenta se encaixar na sociedade.
Desta vez, Allen encarna ambos papéis em um só, como o decadente Splandini, na verdade o mágico Sid Waterman, do Brooklyn, que apresenta o mesmo espetáculo noite após noite numa casa em Londres. Um dia, chama como voluntária para seu número de "desaparição" a ambiciosa estudante de jornalismo Sondra Pransky (Scarlett Johansson), toda bunda, peitos e vontade de aprender, nenhum talento.
Enquanto está na cabine, ela recebe a visita de um grande jornalista que acaba de morrer (Ian McShane), que recebeu uma dica de um furo de reportagem no além, enquanto está sendo levado com outros mortos pela Morte, num barco wagneriano: Peter Lyman (Hugh Jackman), filho de um nobre, pode ser o terrível Serial Killer das Cartas de Tarô. Sondra e Sid tentam descobrir a história.
Eis o pano de fundo para que o diretor desfie suas inquietações, embalado por frases que deixam a platéia com um sorriso no lábio. Sobre Londres: "Eu moraria aqui, não fosse a barreira da linguagem". Sobre otimismo: "Sou dos que pensam que o copo está metade cheio.
De veneno". Tentando se passar por jornalista: "Sabe "Todos os Homens do Presidente'? Sou o mais baixo".
E tem, é claro, o "fator Scarlett", por quem o diretor está obviamente apaixonado, e você entenderá o motivo. Há poucas maneiras mais agradáveis de passar 96 minutos no cinema.


SCOOP    
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz nos EUA, previsto para estrear no Brasil em fevereiro


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