|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/erudito
Quarteto Borodin foi o ponto alto no fim do festival
ARTHUR NESTROVSKI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO
A chuva e a neblina, na
subida da serra, davam
à viagem um tom de fuga para o desconhecido. O que
não estava tão distante da verdade, em retrospecto, depois de
ouvir o "Quinteto" de Schumann (1810-1856) tocado pelo
Quarteto Borodin com o pianista Jean-Louis Steuermann,
sábado em Campos do Jordão.
É que a música, nesse nível,
sempre chega aonde nunca
chegou, que é aonde ela sempre
chega quando chega a si. Que as
luzes de fora da envidraçada capela tivessem se acendido exatamente na primeira nota do
episódio central do segundo
movimento e que farrapos de
nuvens entrassem pelas frestas
enquanto o pianista se deliciava com o tema schubertiano do
terceiro movimento pareciam
respostas da própria natureza
ao que se estava ouvindo.
Antes disso, os peixes no andar de baixo já tinham dado sua
contribuição, enquanto os russos apresentavam o "Quarteto
nº 13" de Myaskovsky (1881-1950) e, especialmente, o
"Quarteto nº 11" de Shostakovich (1906-1975), reinterpretado por eles em tom ambivalentemente sóbrio e doloroso.
À noite, foi a vez de ouvir os
"Alegres Trópicos", de Gilberto
Mendes (1922), com a Osesp e o
Coro da Osesp regidos por
John Neschling. Vinte minutos
de deliciosa, engenhosa, despretensiosa música, "um baile
na mata atlântica", como diz o
subtítulo. Orquestrada como
um caleidoscópio, é uma peça
que se quer logo ouvir de novo,
por puro prazer.
Vale o mesmo para as artes
da italiana Jessica Dalsant, primeira-flauta da Osesp, solista
no "Concerto KV 314" de Mozart (1856-1891). Dona de um
tempo musical muito próprio,
que faz as frases crescerem
elasticamente sem perder jamais o pulso, ela fechou os
olhos e abriu a música, de dentro para fora. Foi lindo.
No domingo, para encerrar
esse 37º Festival de Campos do
Jordão, o diretor Roberto
Minczuk regeu a Orquestra
Acadêmica (de alunos e professores), na Sala São Paulo. Além
da estréia de "Ritmetrias", do
compositor residente Edino
Krieger, fizeram "O Pássaro de
Fogo", de Stravinski (1882-1971), e uma eletrizante "Quarta Sinfonia" de Tchaikovski
(1840-1893).
Eram os ainda desconhecidos conhecidos músicos de
amanhã, dando tudo de si no
começo do caminho.
FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO
O articulista ARTHUR NESTROVSKI viajou a
convite da produção do festival
Texto Anterior: Crítica/erudito: "Ritmetrias", de Krieger, decepcionaram Campos Próximo Texto: Crítica/fotografia: Livro capta rituais da pesca no litoral do Brasil Índice
|