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Silêncio predomina em obra e vida
Antonioni perdeu capacidade da fala em 1985, mas se expressava "além das palavras", como em seus filmes, segundo a mulher
Episódio de "Eros" é última obra de ficção do diretor; produtor cortou parte de uma cena de masturbação, "excessivamente" ousada
DA REPORTAGEM LOCAL
As artes plásticas, sobretudo
a construção de colagens e móbiles, passaram a ser a principal
atividade artística do cineasta
italiano Michelangelo Antonioni, desde 1985, quando ele sofreu um derrame.
Após o acidente cerebral, Antonioni ficou praticamente sem
fala e com movimentos restritos, mas perfeitamente lúcido.
Ele se locomovia em cadeira
de rodas e tinha na mulher,
Enrica Fico, 41 anos mais jovem do que ele, uma "tradutora" para suas conversas.
Quando Antonioni recebeu
um Oscar pela carreira, em
1995, Enrica observou que expressar-se "através do silêncio
ou além das palavras" sempre
foi rotina para o cineasta, como
é evidente em sua obra.
Protagonista de "Passageiro
-Profissão: Repórter", o ator
Jack Nicholson concordou:
"No vazio, nos espaços silenciosos do mundo, ele encontrou
metáforas que iluminam os lugares silenciosos de nossos corações e descobriu neles uma
estranha e terrível beleza".
O último longa-metragem de
Antonioni, "Além das Nuvens",
foi realizado em 1995, sob a supervisão do diretor alemão
Wim Wenders. A presença de
Wenders no set de filmagens
foi uma exigência dos investidores alemães na produção.
Wenders era a "garantia" de
que o filme seria concluído,
ainda que a saúde frágil de Antonioni o deixasse impossibilitado de fazê-lo.
"Eros"
O cineasta arquivou diversos
projetos de longas que pretendia rodar após "Além das Nuvens", mas realizou o episódio
"A Perigosa Linha das Coisas"
no filme coletivo "Eros", com o
qual retornou ao Festival de
Veneza, onde havia obtido o
Leão de Ouro em 1963, por "O
Deserto Vermelho".
Para dirigir "Eros", Antonioni contou com a ajuda de Enrica. Os demais episódios do filme são assinados pelo norte-americano Steven Soderbergh
("sexo, mentiras e videotape")
e pelo chinês Wong Kar-wai
("Amor à Flor da Pele").
O trecho de Antonioni é o
mais ousado dos três e foi o único que sofreu cortes, a pedido
do produtor. Três minutos de
uma cena de masturbação feminina foram eliminados.
Em Veneza, antes da apresentação de "Eros", Kar-wai
ressaltou a influência de Antonioni no cinema: "Ele é a luz-guia para mim e para os outros
cineastas de minha geração".
O cineasta italiano, que se
considerava "alguém que tem
coisas a mostrar, mais do que a
dizer", disse que, se não tivesse
seguido a carreira de diretor,
teria sido "arquiteto ou pintor".
Embora tenha conquistado
prestígio desde o início de sua
carreira e fosse reconhecido
como um mestre do cinema
desde os anos 60, os filmes de
Antonioni jamais foram associados ao sucesso de público.
Em 1980, numa entrevista
para uma publicação italiana, o
diretor ouviu a pergunta: "Para
quem o sr. faz filmes?".
Respondeu: "Faço filmes para um espectador ideal que é
exatamente o seu diretor. Eu
jamais poderia fazer algo contrário ao meu gosto, com o objetivo de ir ao encontro do público. Francamente, não posso
fazer isso, mesmo que muitos
diretores o façam. Além do
mais, de que público estamos
falando? O italiano? O americano? O japonês? O francês? O
britânico? O australiano? Eles
são todos diferentes entre si".
Com agências internacionais
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