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MÚSICA
Legião Urbana digitaliza acervo de olho nos celulares
Acordo com EMI prevê venda de clipes, shows e entrevistas para 3ª geração dos aparelhos, que aceita mais que ringtones
Dificuldade de dimensionar mercado fez negociação durar mais de um ano; contrato é inspirado no que está sendo oferecido aos ex-Beatles
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Exatos 25 anos após o estouro de "Geração Coca-Cola",
uma das principais canções de
protesto do rock brasileiro, a
Legião Urbana está prestes a
desbravar um novo horizonte
comercial -ainda que, com a
morte do líder Renato Russo,
em 1996, a banda tenha deixado
de existir oficialmente.
Os herdeiros de Renato e os
músicos Dado Villa-Lobos e
Marcelo Bonfá fecharam com
a gravadora EMI um acordo para distribuição nos meios digitais de todo o acervo do grupo,
incluindo músicas, clipes,
shows e entrevistas.
Para a EMI, trata-se de um
contrato "inédito e inovador",
que ilustra o dilema por que
passa a indústria fonográfica
em todo o mundo: sobreviver
vendendo um produto que as
pessoas conseguem obter de
graça. O objetivo é recuperar o
faturamento perdido na venda
de CDs com a comercialização
de conteúdo para operadoras
de telefones celulares, que, com
a chegada dos aparelhos de terceira geração -com grande capacidade de recepção, exibição
e armazenamento de áudio e de
vídeo-, passarão a vender muito mais do que ringtones.
"Evidentemente, estamos
mirando o mercado de 30 segundos [tempo de duração dos
ringtones, geralmente vendidos por até US$ 1, ou pouco
mais de R$ 1,50]. Mas agora teremos um novo universo, músicas inteiras, clipes. Estamos
estudando também o lançamento de pacotes especiais para diversas plataformas", diz
José Pena, gerente de novas
mídias da gravadora.
A idéia é, prioritariamente,
estabelecer parcerias com as
operadoras de celulares. Mas
novos formatos de distribuição
estão em estudo, como um pen
drive especial para fãs. Além
disso, serão oferecidos pacotes
com gravações antigas, shows e
até entrevistas -até o fim do
ano começam a ser comercializados os primeiros produtos,
como ringtones e download de
músicas completas.
"Quando começamos, do
ponto de vista da criação e expressão artística, queríamos fazer músicas que, de alguma forma, ficassem, sobrevivessem ao
tempo. Esse sonho se concretizou", diz Villa-Lobos.
Protagonista de muitos desentendimentos com a EMI ao
longo da trajetória do grupo, o
guitarrista diz que a comercialização de acervos digitais pode
ser uma saída para as gravadoras: "Traz uma onda de frescor
que pode até, eventualmente,
tirar a indústria do sufoco em
que ela mesmo se colocou".
Mercado e Beatles
A negociação entre Legião e
EMI durou mais de um ano. A
dificuldade, para ambos os lados, é dimensionar o mercado:
ninguém sabe ao certo o impacto que o advento dos celulares
de terceira geração terá para a
indústria do entretenimento.
Segundo Pena, o conceito do
contrato proposto à Legião foi
inspirado no que está sendo
oferecido a Paul McCartney,
Ringo Starr e aos herdeiros de
John Lennon e George Harrison: com os Beatles, a negociação para digitalizar e comercializar o acervo da banda já dura
mais de dois anos, sem sucesso.
Guardadas as devidas proporções, a Legião é a "mina de
ouro" da EMI no Brasil. Ainda
hoje são vendidos cerca de 300
mil CDs e DVDs a cada ano-
um faturamento que chega a
R$ 6 milhões. "Eles são grandes
vendedores ainda hoje. Nosso
desafio, no primeiro ano do
projeto, será o de chegar ao menos perto desse faturamento
que temos com a venda física
dos CDs", reconhece Pena.
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