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TEATRO
Estréia em SP peça da companhia curitibana de Felipe Hirsch e Guilherme Weber, que conclui pesquisa sobre narrativa
Sutil põe "véu da memória" em "Nostalgia"
VALMIR SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Nostalgia" é o segundo espetáculo que o público paulistano
confere sob assinatura do diretor
e dramaturgo Felipe Hirsch e do
primeiro-ator Guilherme Weber
depois de "A Vida É Cheia de Som
e Fúria" (2000), que projetou a curitibana Sutil Companhia de Teatro no eixo Rio-São Paulo.
Quem assistiu à montagem anterior, adaptação do romance
"Alta Fidelidade", do britânico
Nick Hornby, achará elementos
de imediata associação, a começar pelo protagonista-narrador.
Sai Rob Fleming, o "adultescente" das listas de cinco mais disso
ou daquilo, entra Artur, "o príncipe melancólico", como diz o pai.
Agora, Weber interpreta um jovem que lê Dostoiévski, John Fante, Georges Bataille, ouve The Cure, The Smiths, Bob Dylan, Elvis
Costello e, no tempo que sobra,
rumina sobre a vida e morre de
amores por Karen (Ana Kutner).
No entorno, circulam os pais e
tios de Artur (o nome alude a Arturo Bandini, alter-ego do escritor
americano John Fante, de "Pergunte ao Pó", morto em 83).
"Nostalgia", que faria sua estréia nacional ontem à noite, no
Teatro Popular do Sesi, encerra
no próprio nome o fim de um ciclo no qual a Sutil debruçou-se sobre a narrativa da memória.
Trata-se de estrutura dramatúrgica que privilegia a sobreposição
de planos, pêndulo do passado e
do presente, invariavelmente sob
o ponto de vista de um narrador.
Foi assim em "Juventude" (98),
"Por um Novo Incêndio Romântico" (99), "Som e Fúria" e "Memória da Água" (2001), por exemplo, esta atualmente em cartaz no
Rio, estrelada por Xuxa Lopes e
Renata Sorrah. "A minha melhor
direção", diz Hirsch, 29.
Mesmo quando visitam autores
consagrados, como Hornby
("Som e Fúria"), o americano Eugene O'Neill ("Juventude") e a inglesa Shelagh Stephenson ("Memória da Água"), os criadores
Hirsch e Weber não deixam de
imprimir um tom autoral.
Produzida a convite do Popular
do Sesi, que investiu R$ 255 mil
para a temporada de três meses,
"Nostalgia" promove cruzamento dos últimos trabalhos da Sutil.
Transformados em personagens,
o crítico e dramaturgo irlandês
Bernard Shaw e o cineasta francês
Jacques Tati, por exemplo, já despontavam em "Juventude".
A concessão para a música pop
tampouco é recente. Vem desde a
primeira montagem da companhia, "Baal Babilônia" (93), incursão por um diário do dramaturgo
espanhol Fernando Arrabal ("Cemitério de Automóveis").
Guilherme Weber, 26, antecipa
um ponto de virada que marcará
a ruptura com a narrativa de memória no próximo espetáculo: a
eliminação da figura do narrador.
Com oito anos de Sutil e admiração confessa por Denise Stoklos, com quem trabalhou em
"Mais Pesado que o Ar" (96), Weber se diz inclinado para a interpretação naturalista. "A minha
geração rechaçou o naturalismo
por achá-lo coloquial, televisivo,
mas é um recurso de pré-expressividade teatral que serve como
palheta para o ator, como o caminho do expressionismo, por
exemplo. É a linha mais humana
no trato com a cena", afirma.
Telas, filós, projeções, outras
marcas da companhia, ganham a
cumplicidade de Daniela Thomas, que assina a cenografia com
André Cortez. "Gosto dos filós
porque permitem explorar várias
possibilidades semânticas, como
transformar as paredes em véus
da memória", diz Daniela, 42.
NOSTALGIA - Texto e direção: Felipe Hirsch. Com: Sutil Companhia de Teatro (Erica Migon, Ana Kutner, Rosana Stavis,
Paulo Alves, Beto Matos, Edson Rocha e
Guilherme Weber). Onde: Teatro Popular
do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/
284-3639). Quando: qui. a sáb., às 20h;
dom., às 19h. Entrada franca (retirar
ingressos com antecedência). Até 2/12.
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