São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2001

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"UM TREM CHAMADO DESEJO"

Galpão é a "Comédia Brasileira"

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

O Grupo Galpão surgiu em 1982, em Minas Gerais, e obteve consagração internacional fazendo "Romeu e Julieta" na Inglaterra no ano passado. Hoje, com quase 20 anos de estrada, consolida com essa bem-sucedida temporada de "Um Trem Chamado Desejo" uma etapa ainda mais difícil: a da constância.
Já não precisa mais de um diretor convidado: os próprios atores do grupo têm se revezado na função. Agora foi a vez de Chico Pelúcio coordenar um elenco em que todos são protagonistas, marcando presença com desenvoltura em personagens feitos sob medida, além de dançar, cantar e tocar instrumentos. Mesmo Luís Alberto de Abreu surge na montagem não tanto como um autor, mas como um dramaturgista.
Abreu não deve ter se sentido deslocado. Afinal, a companhia de cine-teatro Alcantil das Alterosas, em torno da qual se desenvolve a trama, é prima-irmã da companhia de teatro-circo do Vem Buscar-me que Ainda Sou Teu, clássico de Abreu; ambas, aliás, netas da Companhia Frazão do Mambembe, de Artur Azevedo.
O filme apresentado dentro da peça não rouba o foco do elenco, que começa fazendo ao vivo a trilha para o filme e acaba reassumindo o espetáculo, quando a fita arrebenta.
A mensagem é clara: não há soluções mágicas, a sobrevivência do teatro depende só da abnegação e teimosia de quem o faz. Talvez clara demais, e essa é uma das raras fraquezas da montagem.
De qualquer forma, a fé cênica desse grupo se consolida agora enquanto pedra de toque do teatro brasileiro. Remete à experiência análoga de quando, há mais de 300 anos, o grupo mambembe de Molière acabou dando origem à Comédie Française: o Galpão é nossa "Comédia Brasileira".


Um Trem Chamado Desejo
   
Onde: teatro do Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel.: 0/xx/11/256-2281)
Quando: sex. e sáb, às 21h, e dom., às 17h e às 20h
Quanto: de R$ 7,50 a R$ 20




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