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Novo filme testa carreira de Shyamalan
Diretor de sucessos como "Sexto Sentido" apresenta "A Dama na Água", longa que causou seu rompimento com a Disney
Roteiro da sétima produção
do cineasta foi considerado
confuso pelos executivos do
estúdio, que defendiam a
reformulação da história
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Num jantar, no ano passado,
no restaurante que M. Night
Shyamalan, homem de hábitos
rígidos, sempre freqüenta, na
Filadélfia, Estado da Pensilvânia, onde mora com a mulher e
duas filhas e sempre filma, o diretor indo-americano de 36
anos não podia acreditar no
que ouvia. E o que ouvia eram
críticas, pela primeira vez em
sua carreira, duras críticas.
Seus autores eram os executivos do estúdio com quem trabalhava desde seu primeiro filme importante, "O Sexto Sentido" (1999), que colocou a frase
"Eu vejo pessoas mortas" ("I
see dead people") no dicionário
da cultura pop e levou US$ 672
milhões à Disney, só em bilheteria mundial, sem contar vídeo, DVDs e exibições de TV.
Chamado numa reportagem
de capa da revista norte-americana "Newsweek" de "O próximo Spielberg", Manoj Nelliyattu Shyamalan (tanto a abreviação do primeiro nome quanto o
"Night" são da época da faculdade) tinha poder de fogo.
Seus filmes foram relativamente baratos para os padrões
de Hollywood, entre US$ 60
milhões e US$ 70 milhões para
fazer. E deram resultado: além
de "Sexto Sentido", "Sinais"
(2002) faturou US$ 408 milhões; "Corpo Fechado" (2000)
e "A Vila" (2004) levaram US$
250 milhões cada um. Mas o roteiro de "A Dama na Água", seu
sétimo longa, tinha problemas.
Pelo menos é o que achavam
os executivos da Disney naquele jantar, liderados por Nina Jacobson. Eles haviam recebido
cada um em sua casa cópias do
roteiro com seus nomes marcados em cada página, para evitar
que algo caísse na internet.
Mas um personagem chamado História? Que era uma ninfa
marinha que vinha do fundo da
piscina para salvar o mundo?
Um crítico de cinema que era
desprezível? E os nomes dos
personagens e os termos inventados? "Cleveland" (Paul Giamatti, o zelador do prédio)?
"Narf" (a ninfa)? "Tartutic"?
Nada fazia sentido. O roteiro
precisava de mudanças fundamentais. Era a primeira vez que
Shyamalan ouvia isso do estúdio para o qual levou mais de
US$ 1,5 bilhão em meia década,
dinheiro trazido de roteiros
originais, não adaptados, o que
é algo cada vez mais raro em
Hollywood hoje.
Hitchcock moderno
"Com a exceção da Pixar, fiz
os quatro filmes seguidos mais
lucrativos de todos os tempos",
diz o diretor, que se considera
uma espécie de Alfred Hitchcock moderno, de quem procura imitar a excentricidade.
Ele se levantou e foi embora
chorando, conforme relata o livro "The Man Who Heard Voices - Or, How M. Night Shyamalan Risked His Career on a
Fairy Tale" (O homem que ouvia vozes - Ou como M. Night
Shyamalan arriscou sua carreira num conto de fadas), que Michael Bamberger, jornalista de
esporte veterano da revista
"Sports Illustrated", escreveu a
quatro mãos com o diretor nos
últimos meses.
Os executivos foram embora,
o diretor mudou-se para a Warner, o filme foi feito por US$ 75
milhões e faturou até agora
pouco mais de US$ 40 milhões.
Nina Jacobson, a presidente do
estúdio, perdeu o emprego dias
depois. "Mesmo que o filme dê
totalmente errado, ainda terei
acertado 80% das vezes", contabiliza Shyamalan no livro.
"Continuo um retorno garantido, não?"
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