São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Veneza recebe Clooney e De Palma

Astro está em "Conduta de Risco", que aborda grandes corporações, enquanto diretor vê a guerra no Iraque em "Redacted"

George Clooney abriu mão de salário em filme que incorpora lições do cinema independente; "Redacted" deixa platéia atônita

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM VENEZA

A presença de George Clooney inaugurou, ontem, o prometido desfile de grandes estrelas no Festival de Veneza deste ano. Ao lado do diretor e roteirista Tony Gilroy, Clooney veio defender "Conduta de Risco" ("Michael Clayton", no original), um projeto de médio porte, feito à margem dos grandes estúdios, que começa em Veneza sua luta por visibilidade na concorrida temporada do Oscar. No Brasil, tem estréia prevista para o dia 15/11.
"Conduta de Risco" engrossa, com alguma dignidade, o "corporate thriller", um novo gênero que tem seu exemplo maior em "O Informante", de Michael Mann, e que de certa forma veio substituir os suspenses políticos dos anos 70 (como "Missing", de Costa-Gavras, e "Todos os Homens do Presidente", de Alan J. Pakula).
No lugar das ditaduras militares ou das grandes conspirações políticas estão, agora, as grandes corporações. Michael Clayton, o personagem de Clooney, é um advogado em crise moral, que trabalha para uma grande firma de advocacia. Sua especialidade não é o palco dos tribunais, mas ações de bastidores que possam diminuir o ônus de seus clientes. Depois que um colega de trabalho começa a ter crises de paranóia, Clayton descobre uma trama para impedir a explosiva ação legal contra uma corporação, que poria em risco um negócio de bilhões.
Tony Gilroy cita como inspiração o canadense "The Corporation": "É um documentário fascinante, que analisa as corporações de um ponto de vista psicanalítico. Concordo até certo ponto, mas acho algumas conclusões muito simplistas.
Não gosto de generalizações, prefiro pensar pequeno para só depois chegar a conclusões". Para Gilroy, não há um poder oculto que tudo manipula: "As corporações são habitadas por pessoas, e são pequenas decisões, muitas vezes motivadas pela inércia ou por um instinto de auto-proteção, que movem essa engrenagem". A personagem mais significativa, nesse sentido, é a advogada interpretada por Tilda Swinton, de certa forma a grande vilã do filme.
Clooney abriu mão do seu salário e ajudou na realização do filme por meio da produtora Section 8, que montou com Steven Soderbergh. "Criamos a Section 8 para incorporar de volta ao cinema dos grandes estúdios as lições dos filmes independentes e estrangeiros que haviam sido esquecidas", disse o ator, um dos novos símbolos do liberalismo hollywoodiano.

De Palma no Iraque
Sem qualquer estrela no elenco, todo rodado em vídeo de alta-definição, um outro filme americano exibido ontem conseguiu causar um impacto bem maior. Ao fim da primeira projeção para a imprensa de "Redacted", de Brian De Palma (também na disputa pelo Leão de Ouro), a platéia ficou atônita. Não que "Redacted" tenha sido uma unanimidade, mas foi o que mais mobilizou discussões. É um violento panfleto antiguerra e uma investigação sobre o estatuto da imagem no mundo contemporâneo.
De Palma retoma, aqui, uma questão que ensaiou em "Pecados de Guerra" (1989), que falava sobre a brutalidade dos soldados americanos no Vietnã. Com atores desconhecidos, recria situações que foram descritas pelos soldados no Iraque usando todo o manancial de produção de imagem existente hoje (câmeras de vigilância, câmeras portáteis, blogs, videodiários etc). Apesar da virada radical em estilo depois do neo-noir "Dália Negra", "Redacted" resume a grande questão do cinema de De Palma (o poder da imagem) com força política brutal. É, desde já, um dos filmes americanos mais importantes dos últimos anos.


O jornalista PEDRO BUTCHER se hospeda a convite do Festival de Veneza

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