|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bergman é homenageado em mostra de filmes na Cinemateca
Mostra que começa hoje em SP inclui "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres"
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Ao se completar um mês da
morte do diretor sueco Ingmar
Bergman (em 30 de julho) e depois de rios de tinta e quilos de
bits gastos em releituras e balanços sob a forma de interpretações, chegou a hora de o mestre ganhar homenagem sob
uma forma superior a qualquer
outra: a exibição de seus filmes.
De hoje até o dia 9, dez títulos
de Bergman serão mostrados
na Cinemateca. Ainda é pouco
diante de sua extensa filmografia (de 62 títulos), mas menos
injusto que a magra homenagem prestada pela Cinemateca
a Antonioni (morto no mesmo
dia que Bergman), na semana
passada, ao exibir apenas "Passageiro, Profissão: Repórter".
Num mundo ideal, poderíamos assistir a uma retrospectiva completa dos dois. Entretanto, o ciclo que começa hoje
se ressente da ausência de títulos essenciais, como "Mônica e
o Desejo", "O Rosto", "A Paixão
de Ana" e "Fanny e Alexandre"
(do qual o público brasileiro só
conhece a versão de pouco mais
de três horas, que Bergman
considerava "um horror").
Dos dez filmes programados,
é difícil estabelecer uma hierarquia absoluta para orientar o
espectador que não conhece
bem ou desconhece as razões
da quase unanimidade em relação ao diretor sueco.
Poucos, porém, discordariam que "O Sétimo Selo" e
"Morangos Silvestres" sejam
indispensáveis. Eles servem de
porta de entrada ao universo do
diretor, marcado pela obsessão
por temas como a morte e a culpa, a orfandade do homem
diante da constatação da inexistência de Deus e, ao mesmo
tempo, pela sede de absoluto e
por uma expectativa de felicidade, sempre frustrada nas relações amorosas, mas vivida
provisoriamente nos momentos sublimes que a arte oferece.
Quem se interessar por esse
Bergman metafísico encontrará outros grandes motivos de
satisfação em "A Fonte da Donzela" e em "O Silêncio".
O adjetivo "bergmaniano",
contudo, deriva de outro tipo
de abordagem, quando o diretor se afastou um pouco do
existencialismo esotérico e assumiu seu interesse por dramas psicológicos, a partir dos
anos 70. É quando, a despeito
de um predomínio de diálogos
e da ênfase na teatralidade,
Bergman volta a praticar um cinema físico (já presente desde
"Mônica e o Desejo"), filmando
corpos que se atraem, se repelem, se acariciam e se agridem.
Um materialismo espiritual
que encontra sua forma mais
consistente no uso recorrente
de closes. Com eles, Bergman
se insere na herança de Carl
Dreyer, ao usar a câmera como
um raio-X, capaz de revelar
tanto as máscaras quanto o que
se esconde por trás delas.
Dessa fase, os títulos fundamentais do ciclo são "Gritos e
Sussurros", "Cenas de um Casamento" e o tardio "Saraband", com o qual o mestre deu
seu definitivo adeus.
MOSTRA INGMAR BERGMAN
Quando: de hoje até o dia 9
Onde: Sala Cinemateca (lgo. Sen. Raul
Cardoso, 207, Vila Clementino, SP, tel. 0/xx/11/5084-2177)
Quanto: R$ 8
Texto Anterior: Veneza recebe Clooney e De Palma Próximo Texto: Cinema: Sesc exibe documentário sobre peça de Bausch Índice
|