São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

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Bergman é homenageado em mostra de filmes na Cinemateca

Mostra que começa hoje em SP inclui "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Ao se completar um mês da morte do diretor sueco Ingmar Bergman (em 30 de julho) e depois de rios de tinta e quilos de bits gastos em releituras e balanços sob a forma de interpretações, chegou a hora de o mestre ganhar homenagem sob uma forma superior a qualquer outra: a exibição de seus filmes.
De hoje até o dia 9, dez títulos de Bergman serão mostrados na Cinemateca. Ainda é pouco diante de sua extensa filmografia (de 62 títulos), mas menos injusto que a magra homenagem prestada pela Cinemateca a Antonioni (morto no mesmo dia que Bergman), na semana passada, ao exibir apenas "Passageiro, Profissão: Repórter".
Num mundo ideal, poderíamos assistir a uma retrospectiva completa dos dois. Entretanto, o ciclo que começa hoje se ressente da ausência de títulos essenciais, como "Mônica e o Desejo", "O Rosto", "A Paixão de Ana" e "Fanny e Alexandre" (do qual o público brasileiro só conhece a versão de pouco mais de três horas, que Bergman considerava "um horror").
Dos dez filmes programados, é difícil estabelecer uma hierarquia absoluta para orientar o espectador que não conhece bem ou desconhece as razões da quase unanimidade em relação ao diretor sueco. Poucos, porém, discordariam que "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres" sejam indispensáveis. Eles servem de porta de entrada ao universo do diretor, marcado pela obsessão por temas como a morte e a culpa, a orfandade do homem diante da constatação da inexistência de Deus e, ao mesmo tempo, pela sede de absoluto e por uma expectativa de felicidade, sempre frustrada nas relações amorosas, mas vivida provisoriamente nos momentos sublimes que a arte oferece. Quem se interessar por esse Bergman metafísico encontrará outros grandes motivos de satisfação em "A Fonte da Donzela" e em "O Silêncio".
O adjetivo "bergmaniano", contudo, deriva de outro tipo de abordagem, quando o diretor se afastou um pouco do existencialismo esotérico e assumiu seu interesse por dramas psicológicos, a partir dos anos 70. É quando, a despeito de um predomínio de diálogos e da ênfase na teatralidade, Bergman volta a praticar um cinema físico (já presente desde "Mônica e o Desejo"), filmando corpos que se atraem, se repelem, se acariciam e se agridem.
Um materialismo espiritual que encontra sua forma mais consistente no uso recorrente de closes. Com eles, Bergman se insere na herança de Carl Dreyer, ao usar a câmera como um raio-X, capaz de revelar tanto as máscaras quanto o que se esconde por trás delas.
Dessa fase, os títulos fundamentais do ciclo são "Gritos e Sussurros", "Cenas de um Casamento" e o tardio "Saraband", com o qual o mestre deu seu definitivo adeus.


MOSTRA INGMAR BERGMAN
Quando:
de hoje até o dia 9
Onde: Sala Cinemateca (lgo. Sen. Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, SP, tel. 0/xx/11/5084-2177)
Quanto: R$ 8


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