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CINEMA ESTRÉIAS
"Blair" é inspirado em produção (mais) barata
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
Todo mundo já ouviu falar de
"A Bruxa de Blair" e de seu sucesso mundial. O que poucos sabem
é que este filme, que custou cerca
de US$ 35 mil e já faturou mais de
US$ 140 milhões nos EUA, foi inspirado em outro filme de terror,
mais barato e bem melhor.
Trata-se de "The Last Broadcast" (em tradução literal, a última transmissão), escrito, produzido, filmado, interpretado e editado por dois americanos, Stefan
Avalos, 30, e Lance Weiler, 28.
"The Last Broadcast", filmado
um ano antes de "Blair", custou
aos dois a bagatela de US$ 900 (RS
1.700) e já virou uma mina de dinheiro. O filme foi elogiadíssimo
pela crítica norte-americana (a revista "Time" chamou-o de "um
thriller esperto, com um final incrível") e está sendo lançado em
vídeo e DVD nos Estados Unidos.
A TV a cabo HBO está negociando com os cineastas a compra do
filme para exibição.
Assim como "A Bruxa de Blair",
"The Last Broadcast" foi praticamente todo rodado em vídeo digital e finalizado de forma caseira
(leia texto ao lado).
Os cineastas, moradores de
uma área rural da Pensilvânia
(nordeste dos EUA), usaram uma
câmera de vídeo que hoje não
custa mais de US$ 2.700 e rodaram também algumas cenas com
uma câmera de brinquedo da
marca Fisher-Price, cultuada entre videomakers por gerar imagens granuladas e de muito contraste, com efeito semelhante ao
dos filmes expressionistas dos
anos 20.
Na verdade, tanto "A Bruxa de
Blair" quanto "The Last Broadcast" têm histórias surrupiadas de
"Canibal Holocausto", clássico do
"cinema nojo" dirigido em 1979
pelo italiano Ruggero Deodato. O
filme de Deodato inaugurou o gênero do "mockumentary" -mistura das palavras "mock" (falso,
simulado) com "documentary"
(documentário). Ou seja, era um
filme de ficção fazendo-se passar
por realidade.
Em "Canibal Holocausto", uma
equipe de TV vai à floresta amazônica fazer um documentário
sobre canibais, mas desaparece
sem deixar pista. Algum tempo
depois, os rolos de negativo rodados pela equipe são encontrados,
e o destino trágico dos pobres documentaristas, que serviram de
almoço para os canibais, é exibido
em glorioso technicolor.
"A Bruxa de Blair" e "The Last
Broadcast" têm histórias parecidas: ambos contam a saga de
equipes de filmagem que vão à
floresta explorar velhas crendices
locais e acabam encontrando
mais do que esperavam.
Da Pensilvânia, Lance Weiler e
Stefan Avalos falaram com exclusividade à Folha sobre "The Last
Broadcast", comentaram as
"coincidências" com "A Bruxa de
Blair" e se disseram empolgados
com a aceitação, por parte do
grande público, de filmes baratos
e independentes. "Isso pode mudar toda a indústria do cinema",
diz Avalos.
Folha - Como vocês reagiram
ao sucesso de "A Bruxa de
Blair"?
Stefan Avalos - No começo, ficamos bastante chateados. Afinal,
"Blair" tinha uma história muito
parecida com a de nosso filme, e
muitos inclusive acreditam que
eles "emprestaram" muitas idéias
nossas. Depois, no entanto, percebemos que o sucesso de "Blair"
foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido para nós, porque nos
deu uma divulgação incrível.
Os dois filmes, apesar de terem
histórias parecidas, são muito diferentes quando analisados cuidadosamente. "The Last Broadcast" é mais complexo e aborda
temas que não estão em "Blair",
como a fascinação da mídia por
violência.
Folha - Vocês acham que o sucesso de "Blair" pode abrir as
portas para filmes semelhantes?
Lance Weiler - Esperamos que
"Blair" e o nosso filme sejam um
sinal para outros cineastas, para
que comecem a fazer filmes mais
baratos.
Há também outros filmes, como "The Cruise" (documentário
norte-americano sobre um guia
turístico de Nova York, filmado
em vídeo e já exibido nos cinemas
dos EUA) e "Festa de Família",
que foram filmados em vídeo digital e atingiram o grande público. As coisas estão mudando.
Folha - Vocês tiveram contato
com os diretores de "Blair"?
Avalos - Eles viram nosso filme
antes de terminar o deles. Eles
próprios nos disseram isso. E fizeram uma mudança muito importante no filme deles depois de ver
"The Last Broadcast": tiraram todas as cenas documentais e fizeram tudo na primeira pessoa.
Eles tinham, originalmente, planejado fazer um "mockumentary" exatamente como o nosso.
Se eles mudaram por causa do
nosso filme, só eles sabem.
Folha - Vocês sabem que seu
filme tem uma estrutura narrativa semelhante à de "Canibal
Holocausto"?
Weiler - Muita gente já nos falou sobre isso, mas ainda não vimos o filme de Deodato. Só sabemos que tem muito sexo e violência.
Folha - Quais são os planos para "The Last Broadcast"? Alguma chance de o filme ser lançado no Brasil?
Avalos - Estamos negociando
os direitos de distribuição no
mundo todo. Esperamos que o filme seja exibido no Brasil, se não
em cinema, pelo menos em vídeo
ou TV a cabo.
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