São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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Na companhia de Labute


Polêmico diretor americano fala de "Possessão", seu novo filme, que chega ao Brasil


SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

O homem é Roland Michel (Aaron Eckhart), norte-americano, estudante de literatura em Londres, especialista na obra de um certo Randolph Henry Ash (Jeremy Northam), escritor inglês morto há cem anos.
A mulher é Maud Bailey (Gwyneth Paltrow), renomada pesquisadora britânica da obra de um outro autor do período vitoriano, a poeta Christabel LaMotte (Jennifer Ehle).
Roland e Maud são o casal-protagonista de "Possessão", que será exibido no próximo dia 8 no Festival do Rio BR 2002 e que entra em cartaz no circuito no dia 11.
Como estamos falando de um filme de Neil Labute, é de se esperar que alguns clichês contemporâneos sobre homens e mulheres façam parte do enredo. É verdade. A saber: Roland Michel faz o papel do macho algo misógino, que esperneia para não aceitar o autoritarismo da ordem politicamente correta e que foge imediatamente quando o assunto é romance.
Quanto a Maud Bailey, esta encarna a heroína feminista contemporânea, tão brilhante em seu trabalho acadêmico quanto eficiente na arte de esconder suas fragilidades e sentimentos. "Relacionamentos entre homens e mulheres do nosso tempo são o meu grande tema, por isso quis tanto filmar essa história", disse o diretor norte-americano, em entrevista à Folha, por telefone.
"Possessão" é uma adaptação do livro homônimo da escritora britânica A.S. Byatt, vencedora do Booker Prize de 1990.
Labute, 39, causou sensação e revolta há cinco anos, ao lançar "Na Companhia de Homens" (1997). Nele, dois executivos obrigados a passar um período numa cidade do interior dos EUA resolvem seduzir uma secretária surda, para depois partir seu coração.
O filme foi tomado como uma retaliação masculina à preponderância do feminismo na cultura contemporânea. O próprio Labute, porém, concorda que outras interpretações eram possíveis, até a de ser um filme feminista. ""Na Companhia" expunha de forma violenta as imperfeições do homem moderno."
Já seu trabalho mais recente, "A Enfermeira Betty" (2000), tinha como alvo os diferentes modos de viver nos EUA, ao mesmo tempo em que satirizava o mundo das celebridades. Nele, uma jovem do interior vai a Los Angeles para encontrar personagens de um seriado de TV que crê serem reais.
Depois de filmes provocativos como esses, Labute agora decepciona parte da crítica americana. "Possessão" lhes pareceu um filme suave, carente das duras críticas à sociedade americana que caracterizavam seu trabalho.
"Não concordo com a idéia de que meu trabalho esteja deixando de ser violento. Meus roteiros continuam sendo construídos com olhares duros sobre a América. Não creio que vá mudar isso", diz. "Possessão" responde a um interesse meu como diretor. Não planejei surpreender as pessoas. Ainda assim, imprimi muito da minha maneira de olhar para os relacionamentos na forma como levei o romance para a tela."


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