São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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"Sofro mais com meus textos"

DA REDAÇÃO

"Possessão" acontece em dois tempos distintos. Roland e Maud se conhecem em Londres, nos dias atuais, e passam a investigar juntos a possibilidade de haver existido um romance secreto entre os dois escritores a que dedicam suas pesquisas, os fictícios Randolph Henry Ash e Christabel LaMotte.
No livro de A.S. Byatt, ambos teriam sido expoentes da literatura da era vitoriana -período do reinado da Rainha Vitória (1837-1901), em que a Inglaterra firmou-se como potência e tornou-se referência cultural mundial.
Não apenas oculta, a relação dos dois poetas era tida como improvável, uma vez que Ash era casado enquanto LaMotte era reconhecidamente homossexual e vivia com uma outra mulher.
Roland e Maud se apaixonam enquanto vasculham o passado de Ash e LaMotte. A ação vai e volta no tempo, acompanhando a evolução de ambos os romances. "Sou um anglófilo, fui aluno e professor em Londres. Por isso o ambiente universitário, a relação com a história da literatura que existem na trama me são muito familiares", diz o diretor, que estudou teatro no Royal Court de Londres.
Labute quis que a investigação do romance oculto entre os dois escritores mortos questionasse a escrita da história. "Muitas coisas ficam não ditas sobre o passado. Muitas vezes o que está escondido é o mais interessante da vida de uma pessoa. E o problema é que aceitamos facilmente o que está escrito. Nós geralmente tomamos como fato aquilo que a história nos entrega. Meu filme diz: questione, sempre haverá algo por trás da história de alguém."
Labute diz que fica mais aflito ao dirigir seus próprios textos -caso de "Na Companhia de Homens"- do que quando a história pertence a um outro autor, como em "Possessão". "É inevitável que o envolvimento e o sofrimento sejam maiores quando se dirige um texto seu. Afinal, você é responsável por aquilo que o conteúdo vai causar. Quando dirijo a história de uma outra pessoa, vejo tudo mais claro, pois não estou tão perto, não criei aquilo. Acabo vendo de forma mais nítida o que é certo ou errado. Quando o texto é meu, a princípio parece que tudo está certo, é mais difícil perceber as imperfeições."
Recentemente, Labute participou com o texto "Land of the Dead", do projeto "Brand New World", de leituras e montagens teatrais que tiveram como tema os atentados de 11 de setembro. "Me atrai menos o fato em si do que a idéia de que as pessoas na América se transformarão nos próximos dez anos. Ainda é cedo para notarmos as mudanças em nossa sensibilidade, mas elas existem. Não quero escrever sobre o episódio, sobre este momento da história. Quero me pegar escrevendo sobre o que escrevia antes dos atentados e perceber que eu, a sociedade, os homens e as mulheres, mudamos muito por causa desse evento." (SC)

Leia a programação completa em www.uol.com.br/folha/especial/2002/festivaldoriobr/



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