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"Sofro mais com meus textos"
DA REDAÇÃO
"Possessão" acontece em dois
tempos distintos. Roland e Maud
se conhecem em Londres, nos
dias atuais, e passam a investigar
juntos a possibilidade de haver
existido um romance secreto entre os dois escritores a que dedicam suas pesquisas, os fictícios
Randolph Henry Ash e Christabel
LaMotte.
No livro de A.S. Byatt, ambos teriam sido expoentes da literatura
da era vitoriana -período do reinado da Rainha Vitória (1837-1901), em que a Inglaterra firmou-se como potência e tornou-se referência cultural mundial.
Não apenas oculta, a relação dos
dois poetas era tida como improvável, uma vez que Ash era casado
enquanto LaMotte era reconhecidamente homossexual e vivia
com uma outra mulher.
Roland e Maud se apaixonam
enquanto vasculham o passado
de Ash e LaMotte. A ação vai e
volta no tempo, acompanhando a
evolução de ambos os romances.
"Sou um anglófilo, fui aluno e
professor em Londres. Por isso o
ambiente universitário, a relação
com a história da literatura que
existem na trama me são muito
familiares", diz o diretor, que estudou teatro no Royal Court de
Londres.
Labute quis que a investigação
do romance oculto entre os dois
escritores mortos questionasse a
escrita da história. "Muitas coisas
ficam não ditas sobre o passado.
Muitas vezes o que está escondido
é o mais interessante da vida de
uma pessoa. E o problema é que
aceitamos facilmente o que está
escrito. Nós geralmente tomamos
como fato aquilo que a história
nos entrega. Meu filme diz: questione, sempre haverá algo por trás
da história de alguém."
Labute diz que fica mais aflito
ao dirigir seus próprios textos
-caso de "Na Companhia de
Homens"- do que quando a história pertence a um outro autor,
como em "Possessão". "É inevitável que o envolvimento e o sofrimento sejam maiores quando se
dirige um texto seu. Afinal, você é
responsável por aquilo que o conteúdo vai causar. Quando dirijo a
história de uma outra pessoa, vejo
tudo mais claro, pois não estou
tão perto, não criei aquilo. Acabo
vendo de forma mais nítida o que
é certo ou errado. Quando o texto
é meu, a princípio parece que tudo está certo, é mais difícil perceber as imperfeições."
Recentemente, Labute participou com o texto "Land of the
Dead", do projeto "Brand New
World", de leituras e montagens
teatrais que tiveram como tema
os atentados de 11 de setembro.
"Me atrai menos o fato em si do
que a idéia de que as pessoas na
América se transformarão nos
próximos dez anos. Ainda é cedo
para notarmos as mudanças em
nossa sensibilidade, mas elas existem. Não quero escrever sobre o
episódio, sobre este momento da
história. Quero me pegar escrevendo sobre o que escrevia antes
dos atentados e perceber que eu, a
sociedade, os homens e as mulheres, mudamos muito por causa
desse evento."
(SC)
Leia a programação completa em www.uol.com.br/folha/especial/2002/festivaldoriobr/
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