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"PASSAGEM AZUL"
Diretor Yee Chin-Yen costura com maestria a história sobre os relacionamentos entre três colegiais
Com roteiro banal, filme comove com sensibilidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Por sorte, ainda existem autores dispostos a cultivar o cinema como uma máquina para
investigar a natureza das ações, à
maneira dos irmãos Lumière. Por
acaso, uma parte considerável deles está em Taiwan, como Yee
Chin-Yen, realizador deste "Passagem Azul".
A história é o que se pode chamar de banal: Yuezhen é uma colegial apaixonada por Shihao
(Chen Bo-Lin), um colega atlético
e bonitão de sua escola. Yuezhen
(Liang Shu-Hui) recolhe objetos
dele (canetas, diários etc.), faz um
verdadeiro culto fetichista do rapaz, mas não consegue se aproximar dele.
Para tanto, ela pede a Kerou
(Guey Lun-Mei), sua intrépida
amiga, que faça o meio-campo.
Kerou faz a sua parte direitinho,
mas nem tudo sai como deveria:
em vez de se interessar por Yuezhen, Shihao fica de quatro por
Kerou.
Em linhas gerais, a intriga é essa.
Haverá algumas surpresas no caminho, referentes sobretudo a
orientações sexuais, mas a base é
essa. Ou seja: quem estiver atrás
de um filme profundo, é melhor
procurar outro.
Mas quem disse que o cinema
existe para ser profundo e mandar mensagens? Pelo menos a escola de Lumière não pensa assim.
Como os Lumière inventaram o
cinema, merecem certo crédito. E
como sua escola possui nomes
ilustres, que vão de Griffith e Renoir a Truffaut e David Lynch, talvez "Passagem Azul" mereça uma
chance.
Pois essa arte da superficialidade supõe captar olhares e seu significado, gestos, o ritmo do pedalar das bicicletas, a tensão contida
num sorriso. Enfim, trata-se de
captar o visível, e isso Yee Chin-Yen faz muito bem. E isso, também, diferencia seu filme, em definitivo, de algo como os filmes da
Turma da Praia nos anos 60 (sem
desmerecê-los e ainda que de alguma forma sejam evocados
aqui).
Rebeldia e descobertas
Ao fazer um filme de paquera,
na mais pura tradição, o diretor
consegue com grande acuidade
registrar o comportamento de
adolescentes num colégio: seu aspecto rebelde e também aquele
um tanto desconcertado com as
descobertas sobre o mundo e sobre si próprios; o esplendor juvenil e o quê desajeitado; a necessidade de fazer escolhas -que supõe a maturidade a que estão chegando- e o tanto de desproteção
que as caracteriza.
Todos esses aspectos são captados com muita sensibilidade em
"Passagem Azul". Tanta que dá
para lamentar que, sendo distribuído pela Mais Filmes, ligada ao
circuito do Espaço Unibanco, o
filme seja lançado apenas no Cinesesc, que é ótimo cinema, mas
tem alcance menor.
A dúvida: será que a Mais Filmes não está confiando no público? Ou o público é que não consegue mais acompanhar coisas belas que não sejam puxadas por
um marketing forte?
Passagem Azul
Lanse da Men
Direção: Yee Chin-Yen
Produção: Taiwan/França, 2002
Com: Chen Bo-Lin, Guey Lun-Mei, Liang Shu-Hui
Quando: a partir de hoje no Cinesesc
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