São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"RIOS VERMELHOS 2 - ANJOS DO APOCALIPSE"

Excesso de elementos elimina idéias em seqüência de thriller

PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A discussão sobre o cinema policial ser um gênero francês ou norte-americano é tão relevante quanto sabermos se foram os irmãos Wright ou Santos Dumont quem primeiro voou. Na prática, temos aviões nos céus, filhotes de ambos projetistas.
Do mesmo jeito, o estilo mais cerebral francês sempre fez ponte aérea com a pegada mais física dos americanos. É um fato, entretanto, que Hollywood pilota com mais sucesso filmes que juntam ao policial a ação desenfreada. E que franceses já causaram acidentes graves tentando repetir essa montanha-russa americana.
Como Luc Besson, que assina o roteiro de "Rios Vermelhos 2 -Anjos do Apocalipse", continuação que faz poucas pontes entre o primeiro, dirigido por Matthieu Kassovitz, que trazia o encontro inesperado entre dois policiais (e atores), Jean Reno e Vincent Cassel. Esta seqüência conta apenas com Reno, desnorteado sob a regência de Olivier Dahan.
Mas é ele, Reno, a coluna vertebral dessa colcha de retalhos que repete o pior do thriller americano. Logo no início, um padre chega a uma abadia e prega um crucifixo na parede, o que faz com que jorre sangue pela imagem. Tudo aponta para algo sobrenatural, mas o comissário Niemans (Reno) logo constata que, na verdade, alguém foi emparedado e a pontaria do padre, certeira. Este será o primeiro de uma série de assassinatos com homens sendo crucificados ou emparedados.
Como em "Rios Vermelhos" (2000), Niemans vai esbarrar em outro policial, Reda (Benoît Magimel), que persegue um traficante. A investigação conjunta leva a um grupo de cristãos radicais que acreditam no juízo final.
As pistas e a bizarrice são várias, e o que vincula a abadia, os fanáticos e os assassinatos é a linha Maginot -a barragem que os franceses construíram às vésperas da Segunda Guerra, usado aqui como uma montanha-russa. A trama ainda abre a porta para Christopher Lee, no papel de um ministro alemão, cuja presença simbólica já sustentaria qualquer filme. É quase uma obra "multigênero".
Num cinema narrativo, a dispersão é letal e a enorme carga de elementos aqui atrofia questões cruciais, como a religião ser ou não hoje um veículo de obscurantismo e a crença em uma única raça, preceito nazista, como um fator presente na Europa. Besson sobrevoa rapidamente as coisas sem pousar em um assunto que tire sua obra da superficialidade. Dahan até consegue pilotar com coragem "Rios Vermelhos 2", mas Besson é como um projetista incauto que compromete seu vôo.


Rios Vermelhos 2 - Anjos do Apocalipse
Les Rivières Pourpres 2 - Les Anges de l'Apocalypse

 
Direção: Olivier Dahan
Produção: França/Itália/Reino Unido, 2004
Com: Jean Reno, Christopher Lee
Quando: a partir de hoje nos cines Jardim Sul 6, SP Market 7 e circuito



Texto Anterior: "Passagem Azul": Com roteiro banal, filme comove com sensibilidade
Próximo Texto: Festival exibe épico revolucionário
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.