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Festival exibe épico revolucionário
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Saadi Yacef, 76, foi roteirista,
produtor e ator de "A Batalha de
Argel" (1965) e já assistiu dezenas
de vezes ao filme do italiano Gillo
Pontecorvo. Ainda assim, ele se
emociona ao rever a história da
luta contra os franceses pela independência da Argélia, obtida em
1962 após oito anos de guerra.
Na segunda-feira, chorou ao ser
aplaudido durante cinco minutos
pela platéia do Festival do Rio.
"Viva a liberdade!", gritou, revivendo seus tempos de revolucionário. Yacef foi um dos principais
líderes da revolta popular contra
o colonialismo francês. No filme,
interpreta seu próprio papel. Hoje
é senador e um dos homens mais
poderosos da Argélia.
"Até hoje, quando vejo o filme,
eu sorrio e me pergunto: eu fiz
mesmo isso? Tenho aquela sensação de quando você olha para trás
e se recorda de uma garota bonita:
ela fica ainda mais bonita", diz
Yacef, que passou quatro dias no
Rio com a filha Zaphira, detentora dos direitos da cópia restaurada de "A Batalha de Argel".
A cópia será reexibida hoje, no
Festival do Rio. Ainda neste ano, o
filme deverá ter relançamento comercial e sair em DVD. "A Batalha de Argel" valeu a Pontecorvo
o Leão de Ouro de melhor diretor
do Festival de Veneza de 66 e foi
indicado a três Oscar.
Pauline Kael (1919-2001), a impiedosa crítica norte-americana,
escreveu na época: "É o mais
emocionante épico revolucionário desde "Encouraçado Potemkin", de Eisenstein". Além das belezas das imagens em preto-e-branco, o filme impressiona por
evitar maniqueísmos e a glorificação de supostos heróis.
"Embora eu tenha comandado
a guerra urbana, pedi ao diretor
que evitasse o culto à personalidade. Toda a população ganhou a
guerra", conta Yacef.
Com exceção de Jean Martin,
que interpreta o coronel Philippe
Mathieu (misto de vários oficiais
franceses), todo o restante do
elenco é formado por não-atores.
Muitos participaram de fato da
luta pela independência.
São especialmente marcantes as
cenas em que três mulheres põem
bombas em lugares freqüentados
por franceses. Antes das explosões, a câmera mostra sem pressa
os jovens, as mulheres e crianças
que morrerão em minutos.
"Nós tentamos a liberdade por
meios pacíficos. Mas os franceses
não concordaram. Eles não tiraram lições das outras experiências
colonialistas. Para conseguir a independência do país, tivemos que
pagar um preço, fazer o sacrifício
necessário. Foi uma época de extrema violência", recorda Yacef.
Ele acredita que o relançamento
comercial do filme poderá representar uma mensagem contra a
violência no mundo. "Ainda há os
que querem libertar os países e os
que querem continuar oprimindo", diz ele, para quem "todas as
mortes são injustas".
Por triste ironia, "A Batalha de
Argel" foi visto no Pentágono, antes da invasão do Iraque, por
George Bush e oficiais norte-americanos. Eles queriam aprender
como lidar com ações terroristas
de grupos surgidos dentro de
uma população descontente com
a ocupação estrangeira.
FESTIVAL DO RIO. "A Batalha de Argel".
Onde: Odeon BR. Quando: hoje, às 14h.
Quanto: R$ 10.
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