São Paulo, quinta, 1 de outubro de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Artista mostra 12 telas recentes
Ianelli reafirma fé na cor que vibra

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

As coisas andam devagar com o velho mestre. Como diz o pintor Arcângelo Ianelli, 76, parafraseando os "italianos", "arte não é automóvel, que deve mudar ano a ano". Sua nova mostra, que abre hoje à noite na galeria Nara Roesler, com vários óleos de 98, pode parecer com qualquer outra dele ocorrida nos últimos dez anos.
São 12 telas de grandes dimensões que afirmam novamente as vibrações cromáticas -último (ou mais recente) estágio de seu processo em busca da simplificação.
Da figura do início da carreira, passando pelas formas geométricas, pela forma única ainda geométrica, à linha, ninguém no Brasil pôde ser tão lenta e gradualmente coerente.
Desembarcou nos 90 desprendido até mesmo da linha. A cor é sua única ferramenta. Supomos ver retângulos, mas suas margens são diáfanas demais, não se prestam à formação de linhas.
À sua pintura não seria despropositado comparar átomos, não moléculas; elétrons, não íons.
Mas se "energia" é também conceito místico -e muitos já se sentiram diante de uma "luz", de uma "espiritualidade forte", ao postar-se diante de suas vibrações de cor-, é preciso ouvi-lo novamente para que a questão se esclareça: "Isso é coisa de leigos. Faço muitos estudos a pastel antes de ir para o óleo. O que parece ser delicado na minha pintura às vezes têm seis ou sete camadas de tinta".
²
Bacon
Ianelli evoca o pintor Francis Bacon, que terá sala especial na 24ª Bienal, ao falar de si mesmo: "Pintura é coisa para velhos".
Não seria justo, contudo, dizer que Ianelli está imobilizado na fórmula que parece reproduzir incessantemente há mais de dez anos, justamente a das vibrações.
O ocre da foto ao lado já aponta para uma nova e discreta simplificação. Desta vez o que caiu foram as suas"quase-barras" verticais.
Embora isolada no conjunto de 12 óleos, a tela pode dar pistas de um novo rumo para suas vibrações. Quem sabe se em uma década não chegaremos aos pontos?
"Tenho pena do artista que diz já ter chegado a seu ponto máximo. Espero estar sempre em busca disso. Acho que minha pintura evidencia isso".
²

Exposição: Arcângelo Ianelli
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 853-2123)
Quando: hoje, 21h (abertura); de seg. a sex., 10h às 20h; sáb., 11h às 15h




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